José Manuel Antunes: Sonhando vai ter “um aumento de vendas razoável, em termos percentuais, face a 2023”
Com a aproximação do final do ano é tempo de começar a fazer balanços e foi o que fizemos com o diretor-geral da Sonhando, José Manuel Antunes, numa entrevista em que falámos da operação de réveillon, do verão de 2024 e das relações com a TAP. Sem revelar pormenores, o nosso entrevistado falou-nos na possibilidade de a Sonhando vir a ter uma operação de ano inteiro muito vocacionada para o incoming.
Agora que já estamos em Novembro, que balanço é que já é possível fazer deste ano de 2023 para a Sonhando?
É um balanço algo estranho porque é misto já que, se por um lado vendemos bem, por outro lado perdemos algumas operações que eram importantes, e até históricas, para a Sonhando. Em termos das vendas, a verdade é que conseguimos fazer vendas fantásticas e assinaláveis, aliás, vamos ter um aumento de vendas razoável, em termos percentuais, face a 2023.
Este ponto das vendas é de facto notável porque, como disse, perdemos alguns destinos, como foi o caso de Timor, um destino para onde tínhamos vendido mais de quatro milhões de euros, e também de Punta Cana, com a TAP, para onde tínhamos vendido mais de 800 mil euros. Perdemos também Cuba, destino para onde tínhamos tido uma operação charter que deixámos de fazer em 2023 porque a operação era extraordinária mas estávamos a perder dinheiro para podermos concorrer com os operadores espanhóis. Nas nossas operações, queremos sempre ter um mínimo de rentabilidade porque se é verdade que temos que servir o mercado não é menos verdade que temos que pagar os ordenados, e operar um destino para onde temos ocupações de 95-96% e perdemos dinheiro, é algo que não cabe no conceito da minha empresa nem no meu conceito de gestão.
Tivemos um aumento muito grande no destino Tunísia, também tivemos um bom crescimento no Porto Santo, e uma subida notável em São Tomé – subimos mais de 100% em relação ao ano anterior – ou seja, crescemos na globalidades dos destinos gerais da empresa.
Depois, tivemos Zanzibar, que era um destino que eu estava a pensar já há alguns anos e em que fizemos uma parceria com a Solférias. Como sempre, as parcerias com a Solférias correm muito bem, porque as nossas empresas têm objetivos comuns e lidamos com uma grande fraternidade no desenvolvimento desses mesmos objetivos.
A operação para Zanzibar correu bem, apesar de poder ter sido melhor sob o ponto de vista da rentabilidade porque não foi espetacular mas ao contrário daquilo que o mercado previa, conseguimos fazer a operação e o grau de satisfação de quem viajou é muito elevado porque o destino é de facto muito bom. O nosso objetivo era abrir um novo destino e isso conseguimos fazer de uma forma clara.
A “guerra” de preços que se instalou no mercado quase desde as pré-vendas, ou seja, desde o primeiro trimestre do ano, prejudicou a rentabilidade global das vossas vendas?
Obviamente que sim, mas nós por vezes somos colocados em determinadas situações em que, ou reduzimos drasticamente a nossa rentabilidade ou então perdemos a totalidade da venda e baixamos as taxas de ocupação. É triste que isso aconteça porque o mercado não beneficia nada com isso, não acho que se consiga um aumento substancial do número de clientes por causa disso. No bottom line, quem acaba por ganhar com isso são os consumidores mas por vezes isso só acontece com algum sacrifício do serviço, o que não é bom para o mercado nem para a confiança que os clientes deviam ter nas agências de viagens e no produto que é vendido. Quem me conhece sabe que eu sempre fui contra isso e sempre serei: nós devemos vender pelo preço justo, de forma a darmos um serviço que corresponda às expectativas dos consumidores.
Vendas para o final de ano estão a correr “muito bem”
O ano ainda não acabou e a Sonhando tem no mercado uma oferta bastante consistente para o final deste ano.
Temos uma oferta similar à dos anos anteriores, apenas um pouquinho mais aumentada do que no ano passado. Em risco, participamos em quatro voos para o Brasil, dois para Maceió e dois para Salvador da Bahia, com saídas de Lisboa e do Porto, quatro para a Madeira, sendo também dois de Lisboa e dois do Porto, e depois remos a nossa operação para São Tomé. Temos uma operação única e exclusiva no mercado que é a da Guiné-Bijagós, que continua a ser um exclusivo da Sonhando e temos ainda Marraquexe e Maldivas, ambos em voo regular e são basicamente estes os destinos que propomos para a passagem de ano.
As vendas estão a correr muito bem, quer o Brasil quer a Madeira, que é para onde temos risco, na maior parte dos casos já não temos lugares, aliás, em várias centenas de lugares que tínhamos para vender, ainda o mês de outubro não tinha terminado e no global dos voos faltava-nos vender pouco mais do que 20 lugares. Nós ajustámos a oferta à procura e com margens que permitem que as agências de viagens ganhem dinheiro, que é sempre um dos nossos objetivo, que os clientes realizem o seu sonho, que é outro objetivo, e que nós tenhamos também rentabilidade, o que no final de contas é o grande objetivo das empresas – e esta, volto a dizer, é uma questão fundamental com a qual as empresas deviam estar preocupadas e não com a questão de ganhar mercado.
Há uns meses, numa conversa que tivemos, dizias que a postura da TAP para com os operadores estava a mudar e que por isso a Sonhando tinha muita programação TAP. Isso acresceu-vos produto e vendas para além das operações de risco?
Sim, acresceu mas entretanto a TAP está de novo a mudar. Acabou com o destino Punta Cana, o que para nós foi mau, aliás, segundo parece, nós éramos o segundo produtor de Punta Cana para a TAP em termos turísticos, ou pelo menos estaríamos no Top3, e isso significou que deixámos de vender umas boas centenas de milhares de euros. A TAP acabou com os destinos na Tunísia, o que era uma segurança que tínhamos no limite, quer em Monastir quer em Djerba porque complementava muito os nossos charters e penso que também já anunciou a sua retirada de Cancun a partir de março, que era outro destino estratégico em termos turísticos.
Respeito totalmente a estratégia da TAP, acho que a TAP deve encontrar os seus caminhos e ganhar dinheiro, portanto, se a TAP entende que esses destinos não eram rentáveis, embora não seja bom para nós do ponto de vista da nossa rentabilidade e nos custe que a companhia abandone esses destinos, só tenho que compreender e aceitar, embora lamente.
“No caso do Brasil já é diferente porque a TAP está a tentar alterar um pouco as regras da relação com os operadores, o que não nos deixa satisfeitos”
Com o Brasil há uma porta mais aberta, ou seja, continuam a ter condições para operarem com a TAP?
Sim, temos. No caso do Brasil já é diferente porque a TAP está a tentar alterar um pouco as regras da relação com os operadores, o que não nos deixa satisfeitos porque embora saiba que a TAP com o mercado natural da movimentação dos brasileiros para a Europa e com o mercado étnico, consegue segurar os voos, mas as correntes nem sempre são iguais e o turismo de outgoing, ou seja, de portugueses a visitarem o Brasil, seguramente que também é importante para a TAP – não é a mais importante mas é uma fração que não pode ser desprezada. O mercado de outgoing já foi mesmo a fatia mais importante da ocupação dos voos para o Brasil e nada garante que não o volte a ser.
É claro que hoje a TAP tem uma operação enorme para o Brasil, estamos a falar de mais de 90 voos e dezenas de milhares de passageiros mensais e é óbvio que nós, operadores, não lhe damos isso, mas geramos um complemento que pode fazer a diferença entre a linha vermelha e a linha verde de uma operação.
O que está a querer dizer é que, mesmo em termos do Brasil, a relação com a TAP já foi melhor?
Não é isso, até porque sobretudo já foi pior. Neste momento a relação é boa, mas a TAP propôs-nos algumas coisas com as quais nós achámos que íamos ficar prejudicados, por isso estamos em negociação e penso que o bom senso vai prevalecer.
O resto do mercado aéreo funciona normalmente? Não têm operações com a expressão da que têm com a TAP com nenhuma outra companhia aérea?
Temos uma ótima relação com a STP Airways no caso de São Tomé, também temos uma boa relação com a Emirates no que se refere a alguns destinos, temos alguma relação com a Turkish Airlines mas não tão aprofundada, também temos com a Air Europa no caso de Cuba.
“Nós e a Solférias estudámos, durante alguns meses, a hipótese de fazermos as Maurícias e decidimos não avançar (…), toda a gente ia reclamar porque o clima nas Maurícias, durante o tempo da operação de verão, é muito negativo”
Já começaram com a contratação e até já apresentaram alguns voos partilhados para a operação do verão de 2024. O que é que já têm em concreto?
Em concreto temos a repetição de todos os destinos que operamos no verão deste ano, nomeadamente Zanzibar que ainda não está lançado mas vai haver, vamos ter o Porto Santo e temos Djerba e Monastir – Monastir é um exclusivo nosso, em conjunto com a Solférias e o Viajar Tours…
O ano passado só tiveram Monastir à partida do Porto…
E vai acontecer o mesmo este ano por causa do drama que é o Aeroporto de Lisboa. Estamos a tentar ainda algumas novidades que como ainda não estão solidificadas não vou revelar.
Nós e a Solférias estudámos, durante alguns meses, a hipótese de fazermos as Maurícias e decidimos não avançar porque achamos que era um péssimo serviço, que toda a gente ia reclamar porque o clima nas Maurícias, durante o tempo da operação de verão, é muito negativo, chove todos os dias e as pessoas não teriam nenhum aproveitamento das suas férias. Assim, por respeito aos clientes, entendemos que não devíamos lançar as Maurícias – nunca no verão e não em 2024.
Posto isto, estamos a tentar substituir por outro destino de longo curso onde o tempo funcione ao contrário e penso que muito em breve iremos revelar.
Para além desse novo destino, dificilmente haverá outros lançamentos no próximo verão?
Em termos de novos destinos penso que será muito difícil. O que posso já adiantar é que vamos tentar reforçar a operação da Tunísia à partida de Lisboa. O ano de 2023 foi completamente absurdo: a nossa base para a Tunísia sempre foi Lisboa e nós tínhamos cinco voos para a Tunísia à partida do Porto e apenas um de Lisboa, o que não faz sentido nenhum. Isto acontece porque estamos também a pensar em Hurghada que foi um destino que fizemos com muito sucesso à partida do Porto, com a Solférias e não fizemos à partida de Lisboa por falta de slots, e estamos a tentar fazê-lo de Lisboa.
O que nós tentamos sempre é fazer melhor aquilo que já fazemos bem e este sempre foi o meu objetivo. Podemos acrescentar algumas coisas mas o que fazemos bem temos sempre que tentar fazer melhor ainda porque se o conseguirmos é meio caminho andado para o sucesso.
Sonhando poderá vir a ter em 2024 uma operação de ano inteiro muito dedicada ao incoming
Em termos da estrutura interna da Sonhando, a última grande alteração foi a entrada do Fernando Bandrés há cerca de ano e meio. A partir daí estabilizaram a equipa?
Temos mais duas pessoas nas reservas, abrimos uma frente na Madeira – temos uma pessoa a trabalhar em teletrabalho na Madeira para apoiar esse mercado – pusemos mais uma pessoa em Lisboa, no booking e aumentámos as instalações para podermos admitir mais duas pessoas, que é algo que temos em perspetiva.
Os acionistas querem dar um salto mas terá que ser um salto qualificado, nunca um salto às cegas. Neste sentido, é possível que venhamos a ter uma grande operação, completamente diferente do mercado. É uma operação de que já ando atrás há já alguns anos e que talvez seja possível concretizar em 2024. Para levantar só um bocadinho o “véu” posso dizer que será operação de ano inteiro, de grande envergadura, que terá o apoio da euroAtlantic airways e que, a efetivar-se, duplicará a faturação da Sonhando. Essa operação não irá agredir em nada o mercado e até terá mais características de incoming do que de outgoing, o que será uma certa viragem filosófica na Sonhando. Gostava muito de deixar essa marca antes de me retirar, de conseguir receitas para Portugal com o incoming e acho que esta operação tem essa capacidade.