O turismo no Alentejo já beneficia do trabalho que “foi sendo feito ao longo de anos” diz José Pedro Calheiros

A SAL – Sistemas de Ar Livre, foi uma das empresas de animação turística do Alentejo que participou no workshop realizado dia 20 no Vila Galé Ópera, no âmbito da iniciativa “Alentejo de Corpo e Alma em Lisboa”. O Turisver falou com José Pedro Calheiros, fundador e diretor-geral da empresa para saber como tem corrido a atividade desta empresa especializada em passeios pedestres.
O desenvolvimento e o crescimento que o Alentejo está a ter era aquilo de que estava à espera, há uns anos?
O Alentejo passou por toda uma fase em que se investiu muito, em que se preparou muito, com muita solidez, quase como na construção de um grande edifício, isto é, foram feitas as fundações da estruturação de produto, da promoção e da ativação de marca nos mercados internacionais. Julgo que muito desse crescimento tem a ver com todo esse trabalho que foi realizado, mas obviamente tem também a ver com circunstâncias que ultrapassaram o próprio Alentejo, que estão relacionadas com a própria marca Portugal e com a adesão que os mercados, nomeadamente os mercados internacionais, têm tido à marca Portugal.
Se não tivéssemos posicionado a marca Alentejo como uma marca de referência para a autenticidade, para os valores da terra, para os grandes espaços, para a paisagem, muito provavelmente não teríamos beneficiado ou não estávamos a beneficiar o que estamos agora a beneficiar deste crescimento do turismo em Portugal e, claro, também do Alentejo. Isto para falar falando dos mercados internacionais, porque no mercado nacional a marca Alentejo já era reconhecida e agora passou a ser cada vez mais valorizada.
Na sua atividade, na sua empresa, a SAL – Sistemas de Ar Livre, como é que têm corrido as coisas?
Têm corrido bem. Há 25 anos, quando comecei, era quase inimaginável que houvesse procura por um segmento de mercado que gosta de andar a pé, que gosta do turismo de natureza, da observação de aves e da natureza, e hoje essa realidade está assumida mesmo por aqueles que não a praticam. Trata-se de uma atividade turística que passou a ser compreendida por autarcas, políticos locais, decisores a nível regional e nacional, e portanto essa é uma mais-valia para que os mercados procurem o nosso destino.
É claro que nunca seremos uma Suíça ou uma Áustria, nunca seremos o Monte Branco os Pirenéus ou os Himalaias, não é isso que estamos a falar, mas a descoberta da natureza andando a pé e usufruindo dela, consegue-se hoje no Alentejo por duas razões distintas. É pelo que lá existe, e que já sabíamos que existia, a nível da paisagem, dos valores patrimoniais e dos valores naturais, mas também porque o Alentejo, a pouco e pouco, está a estruturar-se para responder a uma procura de um cliente cada vez mais autónomo, mais independente, que necessita menos da operação turística, mas que precisa muito do território.
Por isso, os agentes de desenvolvimento local, a infra estruturação de redes de percursos pedestres, são hoje essenciais e atualmente encontramos um Alentejo a diferentes velocidades, entre os municípios e os sítios, os destinos, que têm infraestrutura de percursos pedestres colocada no terreno e editada, promovida e vendida nos mercados, e aqueles que estão mais atrás nesta corrida, mas que esperamos que consigam chegar onde estão os outros.
“O turista praticante de caminhadas tem vários perfis, desde aquele que vai correr, que faz os trail runs, até àquele que vai com a família fazer uma pequena volta de dois quilómetros ou três quilómetros, passando pelas pessoas que vão correr ou caminhar um pouco ao final da tarde pelo exercício físico, pela manutenção, pelos conselhos médicos, pela saúde”
Há alguns anos, relacionava-se muito este tipo de turismo aos clientes estrangeiros, mas hoje noto que nos seus posts nas redes sociais há muito português…
Sim, claro que sim. É preciso não esquecer que eu comecei a minha empresa em 1996 e, a partir dessa altura, temos tido uma agenda permanente e tivemos durante muitos anos um mercado efetivamente português. Portanto já há uma habituação.
É verdade que o cliente, o turista praticante de caminhadas tem vários perfis, desde aquele que vai correr, que faz os trail runs, até àquele que vai com a família fazer uma pequena volta de dois quilómetros ou três quilómetros, passando pelas pessoas que vão correr ou caminhar um pouco ao final da tarde pelo exercício físico, pela manutenção, pelos conselhos médicos, pela saúde. E há também aquelas pessoas que realmente dedicam um dia da sua semana, de 15 em 15 dias, todas as semanas ou uma vez por mês, para fazer uma volta de 14, 15, 20 quilómetros.
Há ainda as pessoas que fazem coisas muito mais exigentes, como por exemplo os Caminhos de Santiago, os Caminhos de Fátima, em que a perspetiva é mais a de chegar a um destino e não tanto olhar para o que está ao seu redor. Portanto, hoje em dia, o turismo de caminhadas, o turismo de passeios pedestres, é um rol inimaginável de opções. Eu quase consigo comparar essa diversidade àquilo que é hoje o turismo urbano numa cidade como Lisboa.
Há pessoas que vêm para Lisboa para ver monumentos, outras vêm para usufruir da noite, outras para se divertirem. Nos passeios pedestres, nomeadamente no Alentejo, também temos essas opções. Temos um território muito amplo, 32 mil quilómetros quadrados, é preciso nunca esquecer que é um território do tamanho da Bélgica, mas que tem 450 mil habitantes. Por isso, a autenticidade dos sítios, tanto a nível natural como do ponto de vista dos núcleos urbanos, estão preservados e isso é uma grande mais-valia.
Mas essa não é a única oferta da SAL, embora seja uma das mais importantes…
Não, nós continuamos, como operador turístico, a trabalhar muito bem as atividades para empresas, ou seja, as atividades corporativas, os pequenos congressos e seminários, os pequenos eventos, além de termos, tradicionalmente, uma atividade de cruzeiros fluviais e costeiros, com parceiros que têm barcos.
Nós não somos uma empresa marítimo-turística, mas montamos os cruzeiros em cima destas parcerias, porque este é um setor constituído maioritariamente por microempresas, às vezes mesmo nano empresas, e só a cooperação e a coordenação de esforços, é que faz com que cada um se especialize e que o trabalho conjunto dê frutos e atraia mercados a todos os níveis.
É interessante ver que conforme o Alentejo cresce, também crescem as iniciativas, quer internacionais de promoção para novos mercados que têm sido desenvolvidas pela Agência Regional de Promoção, e outras realizadas no mercado interno pela Entidade Regional, como a que trouxe o Alentejo a Lisboa durante o final da semana, ou ser o destino nacional convidado da BTL. Estas ações significam que está a ser criada uma nova dinâmica na promoção?
Penso que não se trata de uma nova dinâmica. Acho que esta estratégia, a nível internacional, começou a ser definida quando a Agência Regional de Promoção Turística foi criada, há 20 anos. É óbvio que nessa altura percebia-se muito pouco, ainda, do que eram os mercados internacionais, e os mercados internacionais percebiam pouco do que era o Alentejo, ou praticamente nada.
Do ponto de vista interno, sim, o modelo mudou. O Alentejo passou a aumentar a oferta, a nível da hotelaria. Os autarcas, fatores-chave nesta dinâmica, começaram a perceber que o turismo era uma alavanca de fixação das pessoas que lá trabalham, até mesmo da atração de novas pessoas, tanto portugueses, de fora do território do Alentejo, como de estrangeiros que precisamos como recursos humanos. Ou seja, a estratégia vem de trás, o que hoje está a acontecer é que já estamos a beneficiar do tal trabalho que foi sendo feito ao longo de anos.