Fernando Garrido: Comemorar os 50 anos da ADHP em 2023 é “uma grande responsabilidade”
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Na segunda parte da entrevista ao presidente da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal, Fernando Garrido, falámos, entre outros temas, do papel que esta entidade tem desempenhado ao nível da formação, da constituição de uma Ordem dos diretores de hotel, e também dos 50 anos da Associação que vão ser comemorados durante o próximo ano.
Começava esta segunda parte da nossa entrevista abordando a formação profissional tema “sempre abraçado” pela Associação dos Diretores de Hotéis que está sempre muito atenta a esta questão…
A formação é o nosso grande trabalho. Desde há vários mandatos e de uma forma mais incisiva desde que o Raul Ribeiro Ferreira entrou para a Direção da Associação, temos tido uma ligação muito próxima com o ensino superior, estando presentes não só enquanto formadores mas também em Conselhos Consultivos, Conselhos Pedagógicos, Conselhos Científicos, no sentido de darmos o nosso imput para as necessidades do mercado. Paralelamente, temos outra componente já que a ADHP, enquanto entidade certificadora de formação, em que temos desenvolvido um trabalho contínuo, com o Curso de Especialização em Direção Hoteleira, que está a ser um sucesso. Este ano avançámos com dois cursos no decorrer desta época mais baixa, um iniciou-se em outubro, o segundo vai começar ainda em novembro e vamos começar a dar maior ênfase a formações modulares, numa perspetiva de ajudarmos sempre a classe dos diretores de hotel, e estamos a falar desde o diretor-geral ao chefe de sala, ao chefe de compras, ao diretor de alojamentos, porque diretor de hotel não é só o diretor-geral, abrange toda uma série de secções. Trata-se de pequenas formações de 15, 20 ou 24 horas, que tragam conteúdos importantes para os diretores, que venham colmatar falhas de mercado ao nível da formação, apostando sempre em formadores que sejam muito do terreno mas que possam transmitir esses conhecimentos.
Por outro lado, pretendemos enveredar por desenhar formações específicas, de acordo com as necessidades de mercado, com a grande mais-valia de podermos certificar essas formações para o número de horas de formação que são obrigatórias, que é uma competência que temos.
Em muitos setores de atividade económica diz-se que é preciso aproximar a escola das empresas. No caso do turismo, vocês têm já essa experiência?
Esse sempre foi o nosso papel, foi aí que nasceu a ADHP Júnior que, na prática, era a Associação dos Diretores de Hotéis dos jovens que estavam a estudar, para o trazer para junto do mercado e dos diretores de hotel que estavam no ativo e nos congressos, que são o nosso momento alto, sempre tivemos jovens e o nosso grande objetivo é estarmos sempre muito próximos das universidades e instituto politécnicos que formam profissionais para o setor. Esse é o caminho e é por aí que queremos continuar no sentido de trazer jovens, formar, dar conteúdos importantes. Esse é também um dos papéis da nossa revista, a DirHotel que, de alguma forma, tem conteúdos dedicados à formação não só de ativos mas também de futuros ativos.
Maior visibilidade da ADHP tem trazido mais associados
A Associação tem criado dinâmicas próprias e tem comunicado as ações em que vai estando envolvida, tornando-se mais visível. Já sentem essa notoriedade?
Sentimos isso, sim. Nós já estávamos muito presentes mas não comunicávamos tanto, agora passámos a comunicar de uma maneira diferente e, nesse sentido, começámos a ter uma maior visibilidade a ter o retorno dessa mesma visibilidade, porque temos crescido no número de associados. O nosso caminho está a ter feito também por aí: crescer não só em visibilidade, em notoriedade, quer para o mercado quer internamente, para os nossos associados.
As novas adesões à ADHP têm sido transversais às várias direções que existem dentro de uma unidade hoteleira, desmistificando-se a ideia de que o único diretor é o diretor-geral?
Completamente. Na prática, para se ser associado da ADHP é preciso ter curso superior e experiência profissional, e não é preciso que seja atual, ou seja, um diretor de hotel pode ser associado sem estar, no momento atual, na hotelaria de forma direta – pode ter estado e amanhã pode voltar a estar ligado à hotelaria. O que não é preciso é que seja diretor-geral até porque os diretores-gerais de hotel estão em menor percentagem face às restantes categorias que são muito mais abrangentes.
“Neste momento, estamos a fazer um trabalho mais de retaguarda, porque a revisão da Lei das Ordens está em pré-discussão no Parlamento e enquanto ela não sair em Diário da República não sabemos qual será exatamente a definição que irá estar vertida nessa legislação”
Dentro das ações que têm desenvolvido incluem-se algumas mais institucionais. Têm aproveitado para falar com as entidades oficiais, sobre a vossa “grande batalha” que é o reconhecimento do papel e da importância do diretor de hotel?
Sim, esse é, sem dúvida, um dos nossos “cavalos de batalha” e já o temos desde há algum tempo, desde a desregulamentação da lei que dava como obrigatório a existência de um diretor de hotel que a nossa preocupação é a de haver um reconhecimento maior sobre a profissão, seja ela obrigatória, ou não, numa unidade hoteleira. Sem dúvida, é fundamental que as unidades hoteleiras, que são um dos principais motores do turismo e um dos principais cartões de visita do nosso turismo que fazem mover a economia, sejam dirigidas por pessoas que estejam devidamente habilitadas a isso.
Nesse sentido, o caminho que pensámos passa pela constituição de uma Ordem profissional, dado que a Comunidade Europeia, na generalidade, encara a regulamentação das profissões como uma situação que deve ser auto regulável pelo mercado. Neste momento, estamos a fazer um trabalho mais de retaguarda, porque a revisão da Lei das Ordens está em pré-discussão no Parlamento e enquanto ela não sair em Diário da República não sabemos qual será exatamente a definição que irá estar vertida nessa legislação. Assim, o que temos estado a fazer é todo o trabalho de preparação para a posterior aprovação, mediante a lei. Neste momento temos estado a recolher cartas de conforto de instituições de relevância, começámos pelas instituições de ensino e a grande maioria já nos remeteu essas cartas de conforto, em que frisam a importância da existência de um diretor de hotel para uma unidade hoteleira ou estabelecimento de alojamento. Em seguida daremos continuidade a este trabalho, mas estaremos sempre dependentes da aprovação da lei para perceber de que forma fica definida a existência destas Ordens.
Falámos da formação e da Ordem. Que outros projetos têm?
Nós temos um grande ónus, que é o próximo ano, em que vamos comemorar 50 anos de Associação, o que é uma grande responsabilidade. Por isso, estamos a trabalhar no sentido de darmos a conhecer todo o trabalho e visibilidade que conseguimos conquistar ao longo deste meio século. Este é o nosso grande desafio e o nosso grande foco.
Para além disso temos feito uma série de trabalhos, sempre numa perspetiva de enriquecimento da profissão. Lançámos a iniciativa “Be Our Guest”, que tem sido um sucesso, não só a nível dos convidados mas também ao nível da aceitação das empresas que querem estar associadas a este projeto. Pedimos patrocinadores para este projeto, para cada trimestre, e neste momento já temos os patrocinadores fechados até ao fim do primeiro semestre de 2023. Tem sido um projeto interessante, sem tabus, sem barreiras, em que cada membro da direção convida alguém que acham interessante e que pensam que pode dar um cunho diferente e uma transmissão de conhecimentos diferente. Temos tido uma ótima aceitação, não forçosamente naquele momento porque nem todos poderão estar disponíveis na última segunda feira do mês entre as 19h00 e as 20h30, mas posteriormente vão ver os nossos vídeos ao youtube.
Paralelamente temos também o nosso congresso que tem sido um sucesso, este ano tivemos cerca de 450 pessoas inscritas, e a entrega dos prémios Xénios, os primeiros que reconhecem profissionais do setor hoteleiro. Este vai ser também o nosso grande foco, em 2023 vamos procurar vir mais para o sul, embora não possa divulgar ainda o local, e fazer um congresso que queremos que seja memorável porque será o que vai “coroar” o nosso 50º aniversário. O congresso vai decorrer na segunda quinzena do mês de março e queremos trazer temáticas atuais, que ainda não estão definidas, mas apostaremos naquilo que for mais adequado ao momento. O próximo ano vai ser de incertezas, pelo que será fundamental abordar temáticas muito atuais e ficadas na realidade. Os prémios Xénios são uma grande referência e continuaremos a dar voz aos profissionais do setor porque esse é também o grande papel da Associação.
Uma última pergunta: como é que olha para o futuro da ADHP?
Enquanto Associação, eu acho que o caminho terá sempre que passar por uma aposta muito forte na formação enquanto entidade formadora, para desenvolver e capitalizar a experiência e o conhecimento dos diretores de hotel. O caminho passa também por uma outra vertente que acho que é importante e que tem a ver com negociações: nos não somos um sindicato e não queremos ser um sindicato, mas a verdade é que representamos uma classe profissional que faz o equilíbrio entre os profissionais mais operacionais e os administradores. Penso que o futuro da associação poderá passar muito por estar também presente na renegociação de condições, num papel quase conciliador entre as partes até porque, na realidade, um diretor de hotel sempre foi, e sempre será, um conciliador entre as partes, porque representa os operacionais mas também os administradores.