“Turismo sustentável e desenvolvimento”, por Bonifácio Rodrigues
Neste artigo, Bonifácio Rodrigues, professor do ISCE, aborda uma temática que está cada vez mais na ordem do dia, o turismo sustentável, chamando a atenção para o facto de este não ter ainda uma definição unânime, o que acaba por levar a algumas “confusões” quanto ao seu significado.
Bonifácio Rodrigues (Ph.D)
Docente do Ensino Superior
ESCAD-IP Luso, ISCE-Odivelas
CI-CiTUR-Estoril
O conceito de sustentabilidade engloba o meio ambiente, bem como as pessoas, a forma de organização do território e o modelo de desenvolvimento económico. O exemplo administrativo adotado em Portugal é a divisão do país em NUTS.
Em 1987 com o relatório Brundtland houve um crescente interesse no desenvolvimento sustentável, que, sem dúvida, foi o impulsionador da Conferência do Rio de Janeiro em 1992 e da Agenda 21.
A expressão “turismo sustentável” começou a ser usada no final dos anos 80, enquanto, as expressões “questões verdes” e “turismo verde” eram frequentemente usadas naquela época. Mas, foi no início dos anos 90 do século passado, que essa expressão passou a ser utilizada com frequência através de uma abordagem do turismo que reconhece a importância das comunidades locais, o modo como as pessoas são tratadas e o desejo de aumentar os benefícios económicos do turismo para essa(s) comunidade(s).
Muitas definições, amplamente aceites e conhecidas, podem levar a algumas confusões quanto ao significado do que entendemos como turismo sustentável, isto porque muitos idiomas não têm uma expressão apropriada. Assim, este tipo de turismo é conhecido em muitos países como:
- “turismo responsável”,
- “turismo alternativo”,
- “ecoturismo”,
- “turismo brando”,
- “turismo de impacto mínimo”,
- “turismo propício ao meio,
- “turismo verde”
Porém, apesar de serem todas relacionadas com o turismo sustentável, importa explicar que nenhuma delas é o seu sinónimo.
A sustentabilidade depende de diversos fatores, como, por exemplo, o espaço – território- existente, a capacidade de envolvimento da população local nas atividades, as estruturas já existentes e o principal de todos esses fatores a capacidade de gerar suporte económico e valores ligados às especificidades do turismo no local.
Há diversos conceitos acerca do que será o turismo sustentável, não existindo, no entanto, uma definição unânime. John Swarbrooke afirma “que qualquer definição de turismo sustentável enfatiza os elementos ambientais, sociais e económicos do sistema de turismo”. E mais, explica que tudo isto “poderia levar a uma definição de que turismo sustentável significa turismo que é economicamente viável, mas não destrói os recursos dos quais o turismo no futuro dependerá, principalmente o meio ambiente físico e o tecido social da comunidade local”.
Não se pode deixar de observar que o “turismo dos 3 S’ (sea, sun and sand) “e de massas não é compatível com o conceito de turismo sustentável” ao contrário do ecoturismo, que é tido por muitos especialistas como mais coerente com a ideia de sustentabilidade. Contudo, importa esclarecer que com o crescimento do ecoturismo este corre o risco de exibir as mesmas características do de massas ligado ao sol e mar, se não for devidamente planeado.
O turismo de massas caracteriza-se pela deslocação de grande número de pessoas, na mesma época do ano, para o mesmo lugar, havendo turistas|viajantes, que não estão muito interessados no conceito de “turismo sustentável”, na qualidade do meio ambiente das localidades que visitam nas férias, feriados ou fins de semana, nos chamados city breaks.
O desafio em muitas localidades turísticas é encontrar formas de equilíbrio entre os interesses económicos que o turismo estimula e um desenvolvimento da atividade que preserve o meio ambiente. É uma tarefa bastante difícil, já que o seu controle depende de critérios e valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada, que ainda não foi encontrado na maioria dos países que são destinos turísticos no mundo.
A título de mero exemplo, gostaríamos de sublinhar que se o desenvolvimento económico em muitas zonas do planeta, criou um maior poder de consumo aos habitantes de países até há pouco ausentes da indústria do turismo, os denominados países emergentes, originou, por sua vez, um maior consumo alimentar de produtos como a carne de bovino, que é uma das maiores causas de poluição no planeta. De acordo com dados de 2021, do bife de vaca ao chocolate, a desflorestação ilegal está também no que comemos. O abate ilegal de árvores esteve na origem da perda média anual de 4,5 milhões de hectares de floresta — uma área do tamanho da Dinamarca — na América Latina, no Sudeste asiático e em África, lê-se no relatório da Forest Trends, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, DC.
O conceito de turismo sustentável modificar-se-á com o tempo. Doris Ruschmann faz um alerta a respeito do futuro do turismo, ressaltando que o “turismo ‘brando’, ecológico, naturalista, personalizado e realizado em grupos pequenos de pessoas tende a caraterizar os fluxos turísticos do futuro”. A mesma autora, explica ainda, que foram apontadas quatro características específicas para o desenvolvimento sustentável do turismo, das quais as três primeiras se relacionam com a oferta, e a quarta com o comportamento dos turistas. A saber:
1) Respeito pelo meio ambiente natural: o turismo não pode colocar em risco ou agredir irreversivelmente as regiões nas quais se desenvolve;
2) Harmonia entre a cultura e os espaços sociais da comunidade recetora: sem a agredir ou transformar;
3) Distribuição equitativa dos benefícios do turismo entre a comunidade recetora, os turistas e os empresários do setor;
4) Um turista mais responsável e atencioso, recetivo às questões da conservação ambiental, sensível à cultura local e para respeitar o modus vivendi dos locais e residentes.
A proteção do meio ambiente (natureza, habitantes e cultura local) por parte dos viajantes/turistas bem como pelas empresas fornecedoras de serviços nos destinos forma a base do que se pode entender como turismo sustentável e socialmente responsável.
O número de pessoas que viajam, seja em grupos ou individualmente, geralmente nas mesmas épocas do ano, vêm sendo apontados como um dos fatores de maior agressão dos espaços naturais. O denominado ‘excesso de carga no território’. O facto de haver um excesso de visitantes, conduz ao sobredimensionamento dos equipamentos destinados a alojamento, alimentação, transporte e entretenimento, agredindo paisagens – naturais e culturais- e destruindo ecossistemas. Tudo isto reforça a necessidade da existência de planeamento da atividade turística nas localidades recetoras. O Chamado PDM para o turismo (Plano de Desenvolvimento Municipal) que não existe na maioria dos municípios em Portugal.
Este planeamento surge como uma forma de evitar a degradação do meio ambiente, diminuindo os custos sociais que afetam os moradores das regiões visitadas e melhorando os benefícios do desenvolvimento turístico, sendo que sua ausência traz consequências negativas para as localidades causando danos praticamente irreparáveis.
Para autores como Ruschmann, o plano de desenvolvimento turístico (PDT) é entendido como o conjunto de medidas, tarefas e atividades através das quais se pretende atingir as metas, o detalhe e os requisitos necessários para o aproveitamento de áreas com potencialidade turística, devendo o processo de elaboração do plano ter em consideração as características especificas da região e o respeito pelas populações locais.
Estas preocupações com que governantes e a Academia, se confrontam desde 1987 (do Relatório Brundtland aos nossos dias) foram por fim concretizadas em 2015, com a proposta dos 17 ODS e 169 metas, das NU – Nações Unidas, para o Desenvolvimento Sustentável, mediante as quais os Estados, a sociedade civil e o setor privado se podem guiar e medir as suas contribuições para o desenvolvimento sustentável do planeta até 2030.
Por fim, de acordo com o Turismo de Portugal, o Turismo pode contribuir direta e indiretamente para todos os objetivos, mas mais concretamente para os objetivos 8, 12 e 14 que estão relacionados com o desenvolvimento económico inclusivo e sustentável, o consumo e a produção sustentável e o uso sustentável dos oceanos e dos recursos marinhos.
Referências
FOREST TRENDS (2021). Relatório de impacto.
RUSCHMANN, Doris (1997). Turismo e Planeamento Sustentável: a Proteção do Meio Ambiente. São Paulo: Papirus Editora.
SWARBROOKE, John (2002). Turismo Sustentável: Conceitos e Impacto Ambiental. volume 1, 3ª edição, São Paulo: Editora Aleph.
SWARBROOKE, John (2002). Turismo Sustentável: Meio Ambiente e Economia. volume 2, 2ª edição, São Paulo: Editora Aleph.
TURISMO DE PORTUGAL (2024). Site oficial. Visitado em maio de 2024. https://business.turismodeportugal.pt/pt/crescer/sustentabilidade/Paginas/objetivos-desenvolvimento-sustentavel.aspx