Livro sobre presença judaica na Madeira pode dar lugar a nova rota turística
“A Ilha da Madeira na Rota da Diáspora Judaica (Séculos XIX-XX)” é o nome do mais recente livro da coleção Madeira Selected Memories, que a Direção Regional do Arquivo e Biblioteca da Madeira e a Secretaria Regional de Turismo e Cultura da Madeira acabam de lançar e que pretende demonstrar a importância económica e social dos judeus naquela região autónoma.
Da autoria de Sílvia Natacha Pereira, Mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, a obra pretende dar a conhecer “a influência que teve a comunidade judaica na Madeira nestes séculos, em fases difíceis para o arquipélago como foram a I e II guerras mundiais, mas também em momentos de viragem para o desenvolvimento do comércio do vinho e do bordado, em termos de projeção internacional, ou na consolidação da ilha como destino turístico”.
Apaixonada pelo tema do judaísmo, a autora revelou que a investigação que deu lugar a esta obra começou com Henni Munter, a quem faz questão de dedicar o livro: “Durante a minha pesquisa para a dissertação de mestrado, encontrei uma carta de 1939, dirigida a Salazar a solicitar a autorização para duas judias de Berlim virem trabalhar para a Madeira, como técnicas de tapeçaria. A Henni, com 35 anos era uma dessas técnicas. Durante vários anos procurei o seu paradeiro. Se teria chegado à Madeira ou a Portugal Continental? Até que descobri o seu ficheiro na lista de mortos do Holocausto, onde constava o registo de morte em Auschwitz, a 26 de fevereiro de 1943… A Henni não teve oportunidade de chegar à Madeira, mas felizmente outros judeus conseguiram”.
Nova rota turística está a ser pensada
Questionado pelo Turisver.pt sobre a importância desta obra e a possibilidade da abertura de uma rota turística na Madeira que atraia turistas judeus, Eduardo Jesus, secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira, referiu que “o livro de Sílvia Natacha Pereira é especial, não só pelo exaustivo trabalho de investigação e recolha de dados que implicou, mas por mostrar que a presença da comunidade judaica na Região, embora não muito conhecida, foi determinante para o desenvolvimento económico do arquipélago, nos séculos XIX e XX”.
Acrescentando que, “apesar dessa importância inegável e que fica tão bem demonstrada nesta obra, a comunidade judaica na Região foi-se diluindo com o tempo, com algumas famílias a se assimilarem na população local, ou a abandonarem a ilha por outras paragens”.
No entanto, a existência de marcos como “o cemitério no Lazareto que, em boa hora, foi recuperado por fundos internacionais judaicos, e as dúvidas que persistem relativamente à existência ou não de uma sinagoga na Rua do Carmo, no Funchal”, assim como “algumas quintas, hotéis, locais variados ou espaços comerciais com ligações a algumas famílias podem ser visitadas, com base na investigação feita pela autora deste livro”, sublinhou ainda o governante, dando conta que “é possível que, com base neste trabalho, e numa articulação entre as Direções Regionais do Turismo e da Cultura, esteja já a ser pensado um roteiro específico, tendo em conta a presença da comunidade judaica na Madeira”.
Descrita como sendo uma obra “inovadora e que mostra a Madeira como uma ilha onde a arte de bem receber é endémica”, Eduardo Jesus sublinha ainda o facto de o livro ser bilingue, o que permite que “a história destas famílias poderá chegar aos quatro cantos do mundo e a descendentes que até agora não sabiam da história familiar e desta ligação à Região. Poderemos ter aqui a possibilidade de cativar mais visitantes e amigos para Madeira, assim como mostrar ao Mundo como a Região, ao longo dos tempos, sempre foi um reduto de paz mesmo em alturas de conflitos”.
Presença na Expo Dubai abre Madeira a novos mercados
O secretário Regional de Turismo e Cultura explicou ainda ao Turisver.pt que “as ligações diretas de Israel que acontecem pela primeira vez este ano, através da companhia de aviação italiana ‘Neos’ que programou três voos charter a partir de Telavive, nos dias 3, 17 e 31 de agosto, são fruto do trabalho que tem vindo a ser realizado nos últimos anos com vista à diversificação de mercados”. Uma rota que surge, segundo o mesmo responsável, “como janela de oportunidade que pode representar, futuramente, o reforçar de um mercado para o qual a Madeira tem olhado com atenção nos últimos anos”.
“Foi com base neste propósito que, no início deste ano, a Madeira teve a primeira presença institucional no Médio Oriente, na Expo Dubai, complementando o trabalho de promoção que está a ser desenvolvido naquela área com o trade turístico. A nossa expetativa é que esta ligação charter com Israel seja a primeira de novas e mais ligações com os países do Médio Oriente”, rematou.