Ribau Esteves: “As ERTs não podem ser meras delegações regionais do Turismo de Portugal”
No congresso da APAVT, o presidente da Câmara de Aveiro falou do binómio turismo-cultura e do território, o que o levou a tecer críticas à liderança da promoção em termos regionais, tendo mesmo afirmado que “As ERTs não podem ser meras delegações regionais do Turismo de Portugal”.
Ribau Esteves falava no painel dedicado ao tema“ Incoming – Diversificação do produto, novos mercados, mais território”, onde começou por considerar que o facto de Portugal “ser um país velho, não é um problema, é um ativo”. E é um ativo para o país como o é para todas as suas regiões e municípios mas para isso há que pegar nas coisas velhas, vesti-las com roupagens atrativas, agrupá-las e fazê-las contar as suas histórias, transformando-as “em algo de valor acrescentado e diferenciador”.
A este nível, o autarca elogiou o papel que tem sido desempenhado pelos municípios, que têm tido enorme importância na valorização do território, não apenas do seu mas de outros a que, muitas vezes, se aliam para formar massa crítica.
“Os municípios portugueses têm sido de uma importância capital em valorizar o território e em pegarmos naquilo que temos e que diferencia o território e puxarmos por isso, nesta lógica velha de termos idade, de termos tantas histórias para contar, tanto património e começarmos a envolvê-lo numa embalagem moderna que permita que o território seja atrativo”, afirmou o presidente da Câmara de Aveiro. Alertou, no entanto, que por vezes a escala é pequena e, por isso “temos que somar escala”, o que pode ser feito, segundo Ribau Esteves, “agrupando municípios” porque em todo o país há outras histórias para contar.
Porque muitas vezes juntar e agregar municípios não cria, muitas vezes, escala suficiente “inventámos as Entidades Regionais de Turismo, considerando que as NUTS II referenciam razoavelmente bem essa outra dimensão do território”.
E elas aí estão, disse, as Entidades Regionais de Turismo e as Agências Regionais de Promoção Turística, que permitem ter uma maior dimensão e uma maior escala. Ainda assim, deixou algumas críticas à organização da promoção, tendo afirmado, nomeadamente, que “não podemos permitir que não haja outra liderança na promoção do território que não sejam os atores locais e regionais”.
“Sou contra. Está errado”, declarou, criticando inclusivamente, as verbas do Estado que vão para as ERTs. “Nós, hoje, temos Entidades Regionais de Turismo a consolidarem com o Orçamento do Estado, temos um qualquer funcionário das Finanças que nos cativa verbas do nosso orçamento”. Lançando a pergunta “tem-se autonomia?” de imediato respondeu que “tem-se alguma autonomia mas não se tem toda a autonomia”. Por isso, no mesmo tom crítico, sublinhou que “as Entidades Regionais do Turismo não podem ser meras delegações regionais do Turismo de Portugal”. Uma declaração que não foi contra o Turismo de Portugal, até porque logo em seguida esclareceu: “Nós queremos um Turismo de Portugal como temos felizmente – queremos sempre que seja melhor mas temos uma boa entidade – que trabalha a promoção do país mas depois, até ao patamar da NUT II é o território, é quem o gere, que tem que liderar”.
Frisando que “neste processo, a liderança não é do Estado, é do sector privado”, disse ter sido “muito importante que o governo atual percebesse que as forças internas eram fortes, que as ERTs devem ser uma associação provada sem fins lucrativos, devem ter contrato com o Estado, mas não contratos anuais” porque “andar a negociar orçamentos ano a ano é um absurdo total” e “ninguém faz bom planeamentos ao ano, é preciso planear de forma plurianual, a quatro ou cinco anos, no mínimo”, uma vez que só assim se pode fazer mais pelo território e pelas pessoas, que têm que ser agentes ativos do turismo, têm que fazer parte de todo o processo, já que “são elas que prestam os serviços”.