Luís Rodrigues: a SATA vai sempre responder às Ilhas mas “vamos tentar que os outros não se desresponsabilizem”
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O presidente do Grupo SATA, Luís Rodrigues, foi um dos intervenientes no painel “Respostas às novas exigências que surgiram no setor do turismo”, do Encontro Regional de Turismo dos Açores, que terminou no domingo na ilha de Santa Maria. Foi-lhe pedido que falasse dos desafios do futuro e de como poderão ter resposta por parte das companhias do grupo.
Logo no início da sua intervenção, e antes de falar de perspetivas de futuro e dos desafios que a atual conjuntura internacional coloca, Luís Rodrigues começou por considerar que “estar aqui hoje a falar da SATA é um milagre porque no final de 2019 os capitais próprios do grupo eram negativos em 230 milhões de euros”. A situação era particularmente difícil e foi seguida de dois anos de pandemia que afetaram de sobremaneira o transporte aéreo a nível mundial. Não bastasse isso, agora “estamos a assistir a uma conjugação perfeita de outros desastres”.
No seu conjunto, as situações descritas seriam combatidas através do aumento do preço, referiu, apontando, no entanto que “numa indústria anormal como esta é, isso é muito discutível” podendo até “levar, no início a uma diminuição de preço”. Explicando o porque da sua afirmação, Luís Rodrigues disse que a pandemia devia ter levado ao encerramento de muitas empresas aéreas o que não aconteceu porque “havia muitas empresas bem capitalizadas, uma vez que os anos até 2019 foram fantásticos” e, por outro lado, “houve muitas empresas que foram ajudadas pelos governos, pela Europa…”. Referindo que, ainda assim “há empresas que estão muito frágeis”, explicou que esta situação está a ser aproveitada pelas companhias que estão mais fortes para “acabar de vez com essa concorrência”, motivo pelo qual “assistimos a preços [de bilhetes] predatórios para tentar acabar, de uma vez por todas, com uma série de empresas de transporte aéreo na Europa, o que pode levar a preços mais baixos no futuro imediato”. O aumento de preços virá mais tarde, depois de afastadas do mercado algumas empresas.
A SATA está a fazer o possível para evitar a escalada dos preços
Relativamente à SATA, afirmou que “está a fazer todos os possíveis para evitar a escalada de preços”, especialmente no inter-ilhas “para não perturbar a mobilidade na região”. Já no que toca aos voos para o exterior da região, confessou que “ainda é incerto, mas estamos a tentar aguentar para não perturbar os mecanismos dos fluxos turísticos”
Apesar da conjuntura desfavorável, Luís Rodrigues disse que está a viver-se uma situação que classificou como “paradoxo” e que tem a ver com o aumento das reservas. “Neste momento, estamos a ver um aumento de 45% nas reservas até abril, comparativamente a este ano”
Considerando que ninguém sabe o que se passará na Europa a curto prazo, o presidente da SATA garantiu que “o nosso principal desafio é manter ao máximo a flexibilidade e capacidade de ajuste dentro da organização, para nos podermos ajustar às condições do mercado” à medida que elas evoluam.
Relativamente à Azores Airlines, que está em zona de pré-privatização, Luís Rodrigues sublinhou que se há algo que não pode mudar no pós-privatização é a atenção ao mercado açoriano “esteja ele onde estiver”. Porque este mercado terá que ser sempre defendido, “constará do caderno de encargos” de uma futura privatização. O segundo mercado são os turistas e também neste âmbito deixou claro que “não podemos inventar e correr riscos desnecessários”, apontando como principais “os mercados que estão à volta da nossa diáspora”, ou seja, “o Continente, a América do Norte e o Canadá”. O terceiro mercado é formado pelos passageiros em trânsito pelo que, segundo o responsável, este poderá ser o segmento mais suscetível de ser questionado por uma nova administração. Ainda assim, considerou que neste momento este segmento é importante porque “os aeroportos dos Açores, tal como o da Madeira, estão a ajudar o aeroporto de Lisboa e a escoar parte do tráfego que o aeroporto de Lisboa não consegue suportar”.
A pergunta que não deveria ser feita mas que foi respondida
No período de perguntas e respostas, Carlos Morais, presidente da Associação Turismo dos Açores, interpelou o presidente da SATA que começou por apostar que “o Carlos fez-me uma pergunta que não pode ser feita em público porque obriga-me a responder e para isso tenho que dar uma resposta que eu não queria dar”. Ainda assim, Luís Rodrigues respondeu: “é óbvio que, aconteça o que acontecer, a SATA não vai deixar de cumprir aquilo a que está obrigada moralmente que é servir as ilhas, particularmente aquelas que não têm ligações do Continente. Seja qual for o cenário, a SATA vai estar lá para responder. Porque é que eu não devia responder isto? Porque isto cria aquilo que nós todos tentamos evitar, que é a desresponsabilização de quem tem que tomar as decisões”.
E continuou: “Enquanto a SATA continuar a dizer que vai assumir aquilo que tem que assumir, todos aqueles que têm que tomar decisões e são responsáveis por isso, vão deixar de o fazer e este problema nunca mais se resolve. Andamos nisto desde 2015, a perder dinheiro para a região, por causa de uma coisa que já devia estar resolvida há muito tempo. Nós vamos estar cá para responder, não pode haver dúvidas sobre isso mas vamos tentar que os outros não se desresponsabilizem”.