XIX Congresso da ADHP: Não há hotelaria sem capital humano
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Esta foi a ideia que perpassou do painel “Gestão na Incerteza” que serviu de mote ao XIX Congresso da ADHP onde a tónica foi colocada na importância das equipas de trabalho para ultrapassar os momentos mais complicados com impacto direto na hotelaria, como foi o caso da pandemia. A escassez de recursos humanos e a contratação de estrangeiros foram outros temas em análise.
A moderar o painel “Gestão na Incerteza” esteve João Simões, CEO da Sogenave, que começou por afirmar que “gerir na incerteza” foi o que aconteceu às empresas em geral e à hotelaria em particular, ao longo dos últimos três anos que “trouxeram desafios acrescidos”, com “muitas sombras a manterem-se ainda, apesar de termos vivido um ano de 2022 absolutamente excecional para a hotelaria”.
Para este ano, disse, “as perspetivas são boas” mas com as tais “sombras” de que tinha falado antes, derivadas da “guerra na Europa”, de uma “inflação elevada”, das “elevadas taxas de juro” e da “redução do poder de compra das famílias”.
Ainda assim, porque Portugal continua a ser um destino atrativo, João Simões disse que “temos que continuar a saber tirar partido disso para continuar a atrair investimento, diversificar a oferta e continuar a trazer cada vez mais turistas para o nosso país e a ganhar prémios internacionais que ajudam muito no reconhecimento que o nosso país tem”.
Alexandre Solleiro, CEO da Highgate Portugal, que passou a pandemia no Brasil, que denominou como “país das incertezas” devido à rapidez com que tudo muda. No entanto, a pandemia trouxe algumas lições, a primeira das quais é que “o imponderável pode acontecer”; a segunda é que “talvez não exista plano “B” para este tipo de situações mas ter um plano de contingência para situações graves nas empresas é interessante”; a terceira é que “é necessário reforçar os capitais das empresas” que lhes permitam fazer face a momentos mais complicados.
Mas o que considerou ser uma das lições mais importantes teve a ver com as equipas, já que os hotéis onde as equipas tinham uma melhor qualidade de gestão de recursos humanos, onde elas se entendiam melhor e onde os dirigentes conheciam melhor as qualidades das pessoas, a nível profissional e pessoal, lidaram melhor com as contingências, criando soluções. Ao mesmo tempo, a retoma também acaba por ser mais fácil.
Carlos Alves diretor regional do Grupo Vila Galé: O processo de transição digital é incontornável
Na Vila Galé, o período da pandemia foi aproveitado para acelerar a transição digital que o Grupo já tinha iniciado há alguns anos. Afirmando que o processo de transição digital é incontornável, Carlos Alves, diretor regional do Grupo, deixou claro que a tecnologia deve estar ao serviço das equipas de trabalho libertando-as de algumas tarefas e deixando-lhes tempo para terem um contacto mais direto com os clientes e para lhes prestarem um melhor serviço, ou seja, a transição digital acaba por trazer “uma hotelaria mais humana”.
Um tema que também seria focado pelo presidente da AHETA, Hélder Martins, para que “não há hotelaria sem capital humano”, tendo meso dito que “chegar a uma recepção e ser recebido com um sorriso” não é comparável a fazer o checkin numa máquina.
Sobre os recursos humanos na hotelaria e a escassez de mão de obra, o presidente da AHETA, apresentou parte do estudo “O Capital Humano na Hotelaria e Empreendimentos Turísticos do Algarve”, realizado pela Universidade do Algarve que faz uma análise dos recursos humanos desse 2015 até hoje e acaba por desmistificar algumas das ideias sobre o que é o que é trabalhar num setor que, segundo Hélder Martins, tem vindo a ser injustamente demonizado em termos laborais.
Um dos pontos do estudo tem a ver com os salários pagos na hotelaria e Hélder Martins aproveitou até para dizer que “o Governo que nos manda aumentar os salários 20% está a discutir aumentos de 1% com os seus trabalhadores”.
Hélder Martins: “Só devemos trazer trabalhadores se tivermos condições condignas para os receber”
De acordo com os resultados do estudo apresentado, e ao contrário do que seria expectável, há cada vez mais jovens a optar por trabalhar no turismo, cada vez mais os que optam pelo turismo têm formação superior, estando também a viver-se a tendência de aumento dos salários médios na hotelaria. A propósito, lembrou que tinha sido assinada no dia anterior, pela AHETA e pelo sindicato, a nova tabela salarial.
Sem escamotear o problema da falta de mão de obra nem o da falta de alojamento para a mesma, sobretudo no Algarve, Hélder Martins recordou que foi proposto ao Governo a criação de um “subsidio de alojamento (…) que não significasse uma carga fiscal para os trabalhadores e para as empresas” porque “hoje é extremamente difícil no Algarve, conseguir uma casa a preços decentes”.
Porque “só devemos trazer trabalhadores se tivermos condições condignas para os receber”, como considerou Hélder Martins, a AHETA apresentou ainda outra proposta para colmatar o problema do alojamento para os funcionários, a de serem as unidades hoteleiras a construírem alojamentos para os seus funcionários, para o que seria necessário que o Governo libertasse terrenos e considerasse estes alojamentos como habitação social.
Ainda no que se refere à falta de alojamento para os funcionários, o diretor regional da Vila Galé sugeriu que o património devoluto possa ser aproveitado para esse fim. Carlos Alves referiu ainda que o problema da falta de trabalhadores não afeta apenas a hotelaria e o turismo: “Temos menos gente para trabalhar na hotelaria porque também temos menos gente no país”, considerou deixando claro que “há coisas que não vão mudar na hotelaria” como sejam os horários: na hotelaria trabalha-se aos fim de semana, à noite, nos períodos em que a maioria das pessoas estão de férias mas esse, disse, não é apenas um problema deste setor, afeta também médicos e enfermeiros e tantas outras profissões. “Nós vamos sempre trabalhar mais quando os outros se divertem e não há outra forma de fazer hotelaria”, afirmou, acrescentando que “quem faz os nossos horários são os clientes”.
Captar mão de obra para a hotelaria, segundo Alexandre Solleiro, passa por quatro fatores: oferecer um bom ambiente de trabalho; dar condições de trabalho básicas para o exercício das funções de cada trabalhador mas também outro tipo de condições como vestiários, cafetarias, etc.; o package salarial e a possibilidade de as pessoas progredirem na carreira, seja em termos verticais como horizontais, ou seja, de subida na escala mas também a possibilidade de experimentar várias áreas do hotel (receção, bar, mesa, banquetes…).