Joaquim Robalo de Almeida: “Mobilidade elétrica já é uma realidade em Portugal” mas há que investir mais
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Numa entrevista em que muito se falou de mobilidade elétrica e do investimento sério que nela deve ser feito para que Portugal não fique para trás para na “corrida” à descarbonização, Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC, deu-nos conta do que foi a atividade do rent-a-car em 2023, traçou perspetivas para 2024, e falou dos principais constrangimentos que continuam a afetar este sector.
O ano de 2023 já é considerado como o melhor de sempre do turismo português. A área do rent-a-car acompanhou essa tendência de crescimento e conseguiu já ultrapassar os indicadores de 2019, seja em número de alugueres como de rentabilidade?
No que respeita à atividade de rent-a-car, o crescimento pode ser visto tendo em atenção vários indicadores. Se tivermos em atenção a faturação e o número de contratos celebrados podemos dizer que é um ano de crescimento face a 2022, ou mesmo 2019. No entanto se tivermos em atenção o indicador referente aos proveitos das empresas, podemos afirmar de forma clara que 2022 continua a ser o melhor ano de sempre para a atividade de rent-a-car, pois embora a faturação em 2023 tenha sido superior à registada em 2022, tal só foi possível com uma frota 20% superior à de 2022, tendo os custos de exploração das empresas sido claramente superiores no ano que agora findou, nomeadamente os custos com recursos humanos, o aumento exponencial do preço dos automóveis (principal matéria prima do rent-a-car) o qual em média foi de 40% face a 2019 e de 12% face a 2022, bem como todos os restantes custos de exploração.
Em síntese apenas alguns indicadores foram ultrapassados face a 2019, não tendo sido ultrapassado o principal indicador que são os proveitos obtidos.
Quais foram as tendências que se verificaram na procura ao longo do ano de 2023, tendo até em conta as preocupações cada vez maiores que existem em matéria de sustentabilidade?
Embora o automóvel seja por vezes posto em causa pelos seus constrangimentos, este mantém um lugar de eleição na mobilidade.
A locação automóvel, seja o aluguer de curta duração (rent-a-car e rent-a-cargo), seja o aluguer de muito curta duração (carsharing), seja o aluguer de longo prazo (ALD e renting), são verdadeiros dinamizadores da economia circular, sendo estas formas de utilização automóvel, o modelo de mobilidade mais sustentável, pois facilita a renovação da frota de veículos sejam de empresas, sejam de particulares, sejam de entidades públicas. O parque automóvel de rent-a-car tem uma idade média de três anos, sendo um grande dinamizador da economia circular, pois ao alienar os veículos, estes entram no mercado de veículos de ocasião, os quais podem ser adquiridos em bom estado de conservação, bem mantidos, em condições de segurança e dotados dos últimos avanços tecnológicos.
No mercado de rent-a-car, o “peso” dos veículos elétricos na composição da frota disponível para aluguer tem crescido gradualmente a cada mês que passa, cifrando-se já em mais de 3.500 viaturas totalmente elétricas à disposição dos clientes.
“(…) deveriam existir mais apoios destinados a particulares e empresas para aquisição de veículos elétricos e instalação de postos de carregamentos à semelhança do que está a acontecer em Espanha”
Ao longo dos últimos anos, o rent-a-car tem procurando alargar a sua oferta a várias áreas da mobilidade, colocando no mercado várias opções para os turistas. Esta oferta tem tido uma procura crescente ou é ainda residual?
A mobilidade elétrica é já uma realidade em Portugal.
Portugal é um país de turismo por excelência, sendo esta atividade o motor da economia nacional responsável atualmente por cerca de 16% do PIB, 17,5% das exportações globais, 47,4% das exportações de serviços e 8,5% do emprego.
Para atrair investimentos, quer no Turismo, quer noutras atividades económicas o nosso país necessita de continuar a ser “amigo” do automóvel, devendo por isso investir seriamente na eletrificação e digitalização deste importante meio de mobilidade.
Não fosse a ainda reduzida rede de postos de carregamento, a frota de veículos de rent-a-car contaria já com um número muito superior ao mencionado atrás.
Com vista a avançarmos de forma segura deveriam existir mais apoios destinados a particulares e empresas para aquisição de veículos elétricos e instalação de postos de carregamentos à semelhança do que está a acontecer em Espanha. Mais uma vez iremos (se nada for feito) perder mais uma corrida para os nossos vizinhos espanhóis, à semelhança do que há muito se passa na fiscalidade.
Tendo em atenção a dimensão dos investimentos necessários, são necessários apoios, nomeadamente por via do PRR ou outras linhas de apoio à instalação de postos de carregamento para veículos elétricos e à aquisição dos veículos, tendo a ARAC já apresentado (há mais de 2 anos) propostas e pedidos ao Turismo de Portugal e ao Fundo Ambiental, mas que tardam em chegar a uma atividade que contribui de forma decisiva para o desenvolvimento do Turismo no nosso país.
Em Portugal frequentemente nos esquecemos de que a mobilidade é a peça fundamental do Turismo, pois como é sabido sem mobilidade não existe turismo e sem turismo todas as atividades que lhe são complementares correm o risco de colapsar.
Aparentemente, a mobilidade elétrica tem conquistado cada vez mais adeptos. Essa é uma vertente que já se sente no aluguer de veículos ou num país que tem ainda um número reduzido de postos de abastecimento esta é uma opção ainda difícil?
A locação automóvel é uma atividade única. Consoante a duração do contrato celebrado e as normas de relato financeiro atinentes ao tratamento contabilístico dos contratos, podemos distinguir as diferentes locações de veículos: locação de curtíssimo prazo comumente denominada por carsharing ou somente sharing quando se trata de outro tipo de veículos, como por exemplo os meios de mobilidade leves (trotinetas e bicicletas), aluguer de curta duração com a designação mundialmente conhecida de rent-a-car e rent-a-cargo, consoante se trate de aluguer de veículos de passageiros ou de mercadorias, aluguer de médio prazo e aluguer de longo prazo muitas vezes denominado renting ou AOV, consoante se trate de contratos celebrados por um período mais ou menos longo, mas nunca se definindo os prazos de forma rigorosa para a sua caraterização.
Todas estas modalidade de aluguer de veículos sem condutor têm como objetivo comum a colocação à disposição dos clientes de veículos automóveis, ou mais recentemente de outros meios de mobilidade (aqui apenas em regime de sharing), distinguindo-se pelo tipo de organização, tipo de clientela e tipos contratuais.
Trata-se de atividades de grande importância para a sociedade e a economia dos países onde se desenvolvem, sendo que em Portugal no que respeita ao rent-a-car este constitui um produto indispensável na composição de qualquer pacote turístico, representando este segmento cerca de 60% da atividade exercida pelas empresas de rent-a-car, sendo os restantes 40% compostos pela clientela empresarial – mercado corporate – entidades publicas, veículos de substituição e particulares não turistas.
É nossa convicção que o rent-a-car será neste século o porta-estandarte da descarbonização da mobilidade automóvel e da racionalização do número de veículos em circulação, nomeadamente através da alteração do paradigma da propriedade pelo da utilização e à semelhança do que aconteceu no início do século passado com a substituição dos veículos de tração animal pelos veículos motorizados, o rent-a-car será mais uma vez o motor da transformação da mobilidade.
Não fosse a ainda reduzida rede de postos de carregamento, a frota de veículos de rent-a-car contaria já com um número muito superior aos 3.500 veículos atrás referidos.
Fiscalidade desajustada continua a ser um dos principais constrangimentos
Por certo num sector tão complexo como o vosso, que abrange hoje várias formas de mobilidade, existiram alguns constrangimentos em 2023. Quais os mais relevantes?
Em 2023, os principais constrangimentos continuam a centrar-se numa fiscalidade desajustada que impede uma concorrência salutar com o país vizinho, a falta de apoios à instalação de postos de carregamento para veículos elétricos – Onde estão os benefícios fiscais e sobretudo os apoios à compra e locação de veículos elétricos? Onde estão os Hub’s de carregamento tão falados já lá vão dois anos, os quais são fundamentais para as atividades de partilha de veículos como o são o rent-a-car, o rent-a-cargo e o sharing, para que as empresas que desenvolvem estas atividades possam disponibilizar os veículos aos seus clientes? Onde estão os locais de estacionamento para viaturas de aluguer, (verdadeiros dinamizadores da economia circular)?
Estamos a iniciar um novo ano quais são as perspetivas da ARAC para 2024? Como é que perspetiva a evolução da oferta para este ano?
O ano de 2024 e tendo em atenção os elementos disponíveis, o turismo deverá continuar a ser um dos principais motores das exportações portuguesas e do crescimento do país, tendo em conta não só nas reservas já feitas para 2024, como também a cada vez maior apetência dos mercados tradicionais como o Reino Unido, França, Holanda, EUA. E Brasil, como os novos mercados.
O Turismo é o setor que mais contribui para o aumento das exportações; é o setor que mais tem contribuído nos últimos anos para o aumento do PIB e é também o setor que mais cria emprego para citar apenas alguns indicadores, sendo mesmo apelidado como motor da economia nacional.
Também no mercado empresarial dever-se-á registar um crescimento da atividade de rent-a-car com a necessidade económica e social de uma cada vez maior racionalização do uso de automóveis sobretudo nos meios urbanos, devendo estas entidades recorrer cada vez mais a sistemas de locação em detrimento da aquisição ou locação de veículos por períodos longos.
Vai ser um ano de continuidade ou a Associação estima que possam vir a existir alterações na procura, nomeadamente um downgrade nos veículos alugados por via da conjuntura económica?
Perspetivamos um ano de continuidade e adaptação ao crescimento da procura turística.
O setor representado pela ARAC continuará e intensificará o desenvolvimento do turismo nas zonas do interior do país.
A eletrificação do parque automóvel constitui um dos principais objetivos dos governos, empresas, ambientalistas e cidadãos em geral, sendo o rent-a-car e as restantes formas de locação automóvel o motor atingir tais objetivos, pelo que a eletrificação da frota com veículos de emissões zero estará na ordem do dia.
Próximo Governo deverá concluir dossiers pendentes e legislação regulamentadora da atividade é um deles
Em 2024 vamos ter eleições legislativas, o que vai configurar alteração de Governo. Que preocupações tem a ARAC que gostasse de ver tratadas de forma célere pelo próximo executivo?
Para a ARAC, o Governo saído das eleições do próximo dia 10 de março deverá entre outras medidas, concluir os dossiers ainda pendentes e que se arrastam há demasiado tempo, como sejam a conclusão da regulamentação do sistema de cobrança de portagens aplicado às viaturas de rent-a-car e rent-a-cargo, a retificação da legislação que regulamenta a atividade de rent-a-cargo, a atribuição e regulamentação dos apoios à instalação de redes de carregamento para veículos elétricos e híbridos e à aquisição de veículos elétricos e híbridos, a revisão da legislação que regulamenta a atividade de rent-a-car, com vista à consagração da celebração de contratos de aluguer digitais à distância, revisão do Código do ISV no que respeita a viaturas de rent-a-car e a alteração da taxa de IVA incidente nos contratos de rent-a-car para turistas de 23% para 13%.
A ARAC vai realizar este ano a sua 5ª Convenção no dia 10 de maio. Já nos pode adiantar alguma coisa sobre os temas que vão estar em discussão?
A V Convenção Nacional da ARAC de 2024 terá lugar na Região Centro [Óbidos], tendo como temáticas principais a eletrificação da frota automóvel e a sustentabilidade, a digitalização e a IA – Inteligência Artificial aplicada à locação automóvel e o desenvolvimento económico e turístico.