“A Inteligência Artificial e o Turismo”, por João Pronto
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Numa sociedade em que a Inteligência Artificial está a impor-se, o Turismo não pode ficar alheado desta realidade, aliás, João Ponto considera mesmo neste artigo que “ a Inteligência Artificial faz bem à saúde do Turismo, assim seja corretamente regulamentada e implementada de forma clara e honesta”.
João Pronto, ESHTE
Professor Especialista em Hotelaria e Restauração
Professor Adjunto – Ciências da Informação e Informática
Coordenador de Estágios
Dado que vamos ter o Congresso da APAVT (30 NOV a 2 Dez) inteiramente subordinado à temática da Inteligência Artificial, torna-se incontornável um artigo de opinião subordinado a esta fascinante e desafiadora temática – A Inteligência Artificial (IA).
Em 2002, escrevi e apresentei a minha Dissertação de Mestrado, no Instituto Superior Técnico, subordinada à temática “Turistólogo, o Ciberturista – um Sistema Pericial para Turismo” no qual apresentei e defendi uma abordagem em que era possível implementar um Sistema Pericial que tivesse a capacidade de “interpretar o estado de espírito do utilizador com quem estivesse a interagir, e, subsequentemente conseguisse devolver ao potencial turista um percurso turístico que lhe fosse adequado, como se de um experiente Agente de Viagens se tratasse”.
Na altura, apresentei um modelo de um protótipo de um Sistema Pericial que “avaliava o estado de espírito” do utilizador, através da interação com o mesmo, no qual o potencial turista escolhia um conjunto de fotografias e de vídeos que tinham sido previamente classificados por um grupo de peritos na área do turismo, webdesigners e também na área da psicologia.
Através da interdisciplinaridade acima referenciada, e com esta confluência de ciências corretamente configuradas numa base de conhecimento que suportava o Sistema Pericial, conjugada com a ativação de um ou mais mecanismos de inferência, possibilitavam ao sistema pericial a capacidade de escolher o ou os percursos turísticos mais adequados ao utilizador naquele momento, apresentando-lhe seguidamente um percurso turístico que lhe fosse muito agradável e exequível.
O objetivo era que o turista obtivesse do sistema uma viagem personalizada, completamente à medida do seu perfil comportamental (de consumo turístico), tendo sempre em linha de conta a personalidade do turista propriamente dito, nos momentos de interação com o Sistema Pericial.
Acontece que estávamos em 2002, a tecnologia que suportava os sistemas periciais em particular, e os sistemas de Inteligência Artificial em geral, não era comparável com a tecnologia contemporânea, o que obviamente trazia imensas dificuldades ao desenvolvimento da Inteligência Artificial.
Nem consigo imaginar quando tivermos a computação quântica massificada, pois, ao contrário do turismo, que quando é massificado, tende a perder o encanto, a computação quântica vai seguramente permitir a verdadeira democratização da IA, se é que a própria Inteligência Artificial per si, não o vai conseguir antecipadamente, assim seja corretamente regulamentada pelos organismos governamentais globais, e não tenha desvios de programação, por forma a que seja sempre utilizada para o bem da humanidade… mas olhando à nossa volta, a probabilidade de descambar e de correr mal, é elevadíssima, para mal dos nossos pecados…
Retomando o Turistólogo, o Ciberturtista, há sempre duas formas de o implementar utilizando Inteligência Artificial: 1) sem mecanismo de aprendizagem; 2) com mecanismo de aprendizagem.
Qualquer programa suportado por tecnologias de Inteligência Artificial, pode ter ou não, a capacidade de aprender com a sua experiência, dependendo da abordagem que se pretende dar ao programa em questão…
No caso em epigrafe, faz todo o sentido que o sistema tenha a capacidade de aprendizagem, independentemente de ser suportada por técnicas de Machine Learning, Deep Learning ou mesmo recorrendo a Reinforcement Learning, ou ainda a outras abordagens (re)imergentes como a Inteligência Artificial Fraca (Artificial Intelligence Weak) e a Programação em Linguagem Natural (Natural Language Processing), entre outras.
Muito resumidamente:
Em Machine Learning, os programas que utilizam esta abordagem de IA, são um subconjunto da IA que recorre ao desenvolvimento de algoritmos e modelos estatísticos que permitem aos programas executar tarefas sem programação explícita. Inclui a aprendizagem supervisionada, aprendizagem não supervisionada e aprendizagem por reforço.
Em Deep Learning, é utilizado um subconjunto de Machine Learning, que envolve redes neurais com múltiplas camadas (redes neurais profundas). É uma abordagem de software particularmente poderosa em tarefas como reconhecimento de imagem e de fala.
Numa abordagem de Reinforcement Learning, um agente aprende a tomar decisões através de mecanismos de interação com o ambiente envolvente. O agente recebe feedback na forma de recompensas ou penalidades, permitindo-lhe aprender o comportamento ideal esperado para o problema em questão.
Em Inteligência Artificial Fraca, estes tipos de programas são projetados e treinados para realizarem uma tarefa específica muito bem delineada. São excelentes no desempenho de uma função específica, mas carecem de capacidades cognitivas gerais de um ser humano. Falta claramente a componente de “desenrascanço” humano, no entanto, baseiam-se em bases de conhecimento, ao invés das famosas “base de dados”, utilizadas na programação tradicional.
Espero que tenha ficado claro para o leitor que, apesar de ainda não ter explicado sumariamente os conceitos de “mecanismo de inferência” e de Sistema Pericial, que a temática tenha sido clara.
Ainda assim, importa clarificar estes dois conceitos:
Os mecanismos de inferência em Inteligência Artificial referem-se aos processos pelos quais as conclusões lógicas são tiradas a partir de premissas ou evidências disponíveis em bases de conhecimento. Esses mecanismos são fundamentais para sistemas de Inteligência Artificial que pretendem realizar inferências ou tomada de decisões em bases de conhecimentos.
Para terminar, vamos clarificar o que é o Sistema Pericial: é um tipo de programa de Inteligência Artificial que simula a capacidade de um perito humano numa determinada área, em tomar decisões tão bem ou melhores do que as do próprio perito humano, mas sempre em domínios específicos. Esses sistemas são implementados na resolução de problemas complexos, ao simular o raciocínio humano e na tomada de decisões baseadas em conhecimento especializado, independentemente de aprenderem ou não ao longo do tempo.
A Inteligência Artificial está definitivamente a impor-se de forma explícita na sociedade atual, e o Turismo não lhe é exceção, desde os Sistemas Periciais, aos ChatBots, passando pelos RPA, CRM, Sistemas de Revenue Management, etc., que suportam cada vez mais a tomada de decisão das operações turísticas, também através da análise de grandes quantidades de dados em sistemas de Big data, até à implementação de sistemas de segurança informática fortemente alicerçados por sistemas de IA…
A Inteligência Artificial faz bem à saúde do Turismo, assim seja corretamente regulamentada e implementada de forma clara e honesta!