Visitar Avis é passar uns dias tranquilos, de braço dado com a História e a genuinidade alentejana (parte II)
Depois de o primeiro em terras de Avis ter sido dedicado à vila do mesmo nome, os dois dias seguintes foram passados entre uma paisagem mais rural, feita de herdades com muito para oferecer a quem as visita, e outra em que a água é rainha, com passeio de barco pela barragem do Maranhão. A genuína arte de bem receber das gentes alentejanas, a gastronomia e os vinhos, acompanharam todo o périplo.
Por: José Luís Elias
O segundo dia da minha estada em Avis foi passado a conhecer o que o concelho tem para oferecer aos turistas. Fiz uma visita guiada à Herdade do Conqueiro que tem cerca de 800 hectares, e à Herdade Monte Novo com 900 hectares.
Foi um passeio, feito pela fresca, em que para além das paisagens fiquei mais rico culturalmente, pois aprendi a conhecer mais sobre uma das riquezas nacionais, o sobreiro que nos dá a cortiça, constatei quanto cuidado estas poderosas, bonitas e generosas árvores necessitam para produzir uma cortiça de qualidade e os anos que esta tem de se desenvolver fazendo parte do seu tronco.
São herdades em que também existe pecuária, com centenas de cabeças de vacas da raça Mertolengas que por ali se veem a pastar, e produz-se azeite e vinho da marca Rovisco Garcia. De tudo isto pude usufruir no passeio pelo montado, que durou cerca de hora e meia e que pode ser feito seguido de almoço ou prova de vinhos por grupos de turistas, sob marcação. Durante a visita pode ser apreciada toda a atividade que se faz na herdade e que é explicada ao visitante. No meu caso, a visita terminou com uma prova de vinhos acompanhada de queijos e enchidos da região.
Rumei depois a Benavila para visitar e almoçar na Fundação Abreu Callado. A herdade fica a pouco mais de cinco quilómetros da vila de Avis, está integrada na zona da Barragem do Maranhão, e tem como lema oferecer a quem a visita “tradição e qualidade alentejana”, que se destacam nos seus vinhos e na gastronomia com que brindam os comensais que, por marcação, podem visitar o espaço.
A “força” da Fundação está na produção vinícola se bem que na herdade também se crie gado e exista outra produção agrícola. Com abertura da herdade a visitantes desenvolveu-se o enoturismo e a gastronomia, que já são hoje uma referência, de resto a atividade turística e de lazer estão em expansão na Fundação.
Visita à Herdade da Fundação Abreu Callado e um almoço delicioso tipicamente alentejano
Antes do almoço, até porque a manhã ainda estava a acabar e já tínhamos degustado alguns petiscos, dei um passeio pela herdade para ver a “criação”, desde as galinhas e patos, aos borregos e cabritos, com os animais bebés a fazerem a delícia da pequenada que por ali estava de visita. Pelo caminho pude ver o museu Museu Rural e o antigo Lagar de Capachos, com a visita a terminar na Sala de Provas, conhecida como a antiga Casa da Matança.
Já acompanhado por grupos de turistas que vinham chegando, a refeição começou com um festim de entradas regionais, servidas num pátio ao ar livre: desde farinheira e chouriço assado, acompanhados de queijo e azeitonas, de pão alentejano cozido nessa manhã e outros petiscos.
Depois, já acomodado numa das salas de almoço, veio o repasto: a sopa regional que antecedeu os pratos de carne e peixe, deixou os comensais extasiados, o sabor era perfeito, e na verdade há muito tempo que não degustava nada que me enriquecesse tanto o paladar. Depois veio o bacalhau, que estava delicioso, o borrego que se desfazia de tão tenro, e a vitela com batatinhas no forno que estava apuradíssima e deliciosa. Sobremesas foram várias, para serem partilhadas e só não se comeram mais porque o estômago tem limites.
A visita seguinte foi às Azenhas da Seda que apesar de estarem perto de Avis já ficam no concelho de Mora. O empreendimento fica junto à Ribeira de Seda, numa zona de floresta em que a ribeira forma pequenos rápidos e cascatas, o que torna este local excelente para um banho na zona mais calma das águas.
O que se pôde constatar ao longo da tarde é que neste local convive o Glamping e as atividades ligadas à água que de forma permanente corta o silêncio deste lugar, o que de certa forma o torna mágico. (saber mais em www.info@azenhasdaseda.com
A loja ‘Coisas de Avis’ é uma tentação local para trazer um pouco de Avis para casa
Com a tarde a caminhar para o seu final, foi o regresso à vila de Avis para fazer uma paragem na zona nova da vila, que fica fora da fortificação, para visitarmos a loja ‘Coisas de Avis’, um estabelecimento que fica entre o que pode ser uma garrafeira e uma loja de venda de produtos regionais de mereceria. Aqui tive mais uma prova de vinhos que foram acompanhados com tapas de queijos e enchidos variados, e onde não faltaram as compotas, o que se revelou um deleite para o paladar.
Dos vinhos que foram dados a provar nesta degustação destaco o ‘Dona Adília’ um espumante bruto de excelente qualidade, proveniente da antiga Quinta de Santa Ana que fica naquela que é hoje na Herdade Fonte Paredes, uma propriedade que também pode ser visitada por marcação e oferece visitas guiadas à adega e às vinhas, provas de vinhos, refeições e loja.
Voltando ao ‘Dona Adília’, este espumante deve ser bebido bem geladinho para que realce todos os seus sabores, tem um aroma cítrico a que se juntam apontamentos de maçã, o que lhe confere uma harmonia bem simpática. Se tiver a oportunidade de o provar não se faça de rogado -se for em Avis tanto melhor, mas se for em outro lugar não hesite porque vale a pena.
Enquanto fui degustando alguma coisa ia observando o que a loja ‘Coisas de Avis’ tem para oferecer a quem a visita. Todos os produtos são locais e para além dos vinhos e aguardentes, há azeite em garrafões, ervas aromáticas secas, pasta de azeitonas, enchidos e fumeiros, compotas e doces variados, entre os quais destaco os de abóbora e marmelo.
A noite já estava a fazer-se sentir quando cheguei à Herdade da Cortesia Hotel, uma unidade que tem as águas da barragem do Maranhão aos seus pés. Depois do check-in e de um merecido duche, foi tempo de iniciar o jantar, um conjunto de entradas servido ao ar livre porque o final da tarde estava bem quentinho. Mais uma vez, foi uma degustação fantástica, com pratos que se harmonizavam entre a gastronomia regional e a moderna, mas o que valeu mesmo foi o sabor que era divinal. Seguiu-se o jantar que não desmereceu das entradas, se bem que a fome já não era a mesma, e chegou a hora de conhecer o chef e de lhe agradecer, com um forte aplauso, a excelente refeição.
Passeio de barco nas águas da Barragem do Maranhão, paisagens únicas e um almoço final para deixar saudades
O terceiro que passei em terras de Avis começou com um passeio de barco a motor pelas águas da barragem do Maranhão. Saí do cais da Herdade da Cortesia Hotel, andando pelas pistas que servem para treinos de remo de equipas portuguesas e internacionais que ali encontram muito boas condições para treinos de alta competição, em especial no outono e inverno, épocas que são bem mais rigorosas no norte da Europa. O passeio conduziu-me a vários pontos da barragem, passei de novo em frente da Herdade da Cortesia e por águas calmas fui até à Ponte de Ervedal. Olhando para cima, lá estavam as muralhas e a vila de Avis bem lá no alto, nova volta e cheguei ao cais do alojamento Montes de Charme.
Montes de Charme fica num monte em frente da vila de Avis, no meio um vale cavado onde se navega na água da barra – é uma vista soberba aquela que dali se tem. Preparada estava uma degustação de vinhos, queijos, enchidos e tapas. Se a prova era de muita qualidade o local onde estava a ser feita tornava tudo num “conto de fadas” e dificilmente se poderia conjugar melhor uma prova de vinhos com um cenário único.
Foi difícil deixar este lugar, tal a sua beleza, mas era tempo de seguir para a última paragem nesta visita de três dias ao concelho de Avis: a Boutique da Cultura, uma casa de cultural onde se pode dormir entre livros e onde são servidos alguns almoços a grupos com marcação prévia. O edifício fica na vila, e se a sua parte da frente está inserida no contexto arquitetónico, na parte de trás existe um pátio onde pude admirar uma exposição de artesanato, e foi através deste mesmo pátio que entrei na requintada sala de refeições, onde pude degustar um almoço regional.
O almoço com que me despedi de Avis – mas reconheço com vontade de ficar -, foi confecionado pela equipa do Monte Ramalho que fica a sete quilómetros da vila. Esta unidade de turismo em espaço rural é uma referência no concelho, pelo seu alojamento (13 quartos) onde se dorme com os pássaros, mas sobretudo pela gastronomia tradicional alentejana. É, de resto, um espaço onde se realizam banquetes e festas, dentro de uma herdade que tem cerca de mil hectares.
O almoço foi servido numa loiça clássica alentejana, e as entradas foram de qualidade, a sopa excelente, os pratos bacalhau e borrego estavam muito bons e a sobremesa tinha um sabor tão divinal que me acompanhou até Lisboa, e que é uma das “peças” que me fará voltar a Avis.
Leia a 1ª parte da reportagem aqui
O Turisver esteve em Avis a convite da Câmara Municipal