Visitar Avis é passar uns dias tranquilos, de braço dado com a História e a genuinidade alentejana (parte I)

Quando dizia a alguém que tinha ido passar uns dias à vila de Avis, surgiam as perguntas. Que tal, gostastes? Em que época do ano lá devo de ir? As respostas são simples: sim, gostei muito e sempre que puder vou voltar, porque no verão tenho a beleza da paisagem e as refrescantes águas da Barragem do Maranhão, na primavera e no outono vou encontrar uma natureza viva e no inverno a tranquilidade e descanso. E, em qualquer época do ano, encontro a afabilidade das suas gentes e uma gastronomia alentejana que me conforta o corpo e a alma.
Por: José Luís Elias
Saí de Lisboa e cerca de duas horas depois, com uma pequena paragem no caminho, estava nas cercanias de Avis. Ao primeiro vislumbre consegui aperceber-me da imponência que o castelo da vila proporcionava,. Elevadas a 200 metros de altitude, as muralhas, as torres e as paredes do convento, transmitem a ideia de que a vila está bem mais alta do que está na realidade.
Já na principal rotunda da vila, saio numa das entradas e viro na primeira rua para me ir alojar na Vila dos R´s, uma unidade que abriu portas no início do verão de 2023, e é de lá que parto para o início do périplo pelo “casco histórico”. Aliás, património de grande relevo histórico é o que não falta em Avis, basta que nos lembremos que foi de lá, da Ordem Militar do mesmo nome, que saiu um Rei de Portugal, D. João I, que deu início à dinastia de Avis. Foi no largo principal, já dentro das muralhas da vila, junto à Câmara Municipal, que a caminhada teve o seu “pontapé de saída”.


E porque conhecer uma vila com as características de Avis, que assenta em terras doadas pelo Rei D. Afonso II à Ordem Militar de São Bento de Avis, não é para preguiçosos, até porque há que subir à Torre da Rainha – mandada construir no século XIII por D. Afonso II -, que fica mesmo ao lado da Porta da Vila.
Não os contei, mas seguramente são uma largas dezenas de degraus aqueles que nos conduzem ao topo, mas vale a pena porque chegados ao cimo deparamo-nos com uma paisagem inacreditável, uma visão de 360 graus que proporciona uma panorâmica soberba sobre toda a região.


De novo com os pés bem assentes em terra, como se costuma dizer, “dei corda aos sapatos” e embrenhei-me na parte da antiga vila medieval, aquela que fica dentro das muralhas, deixando para trás o Convento, e caminhando por vielas estreitas, passando pelo casario hoje pintado com as cores típicas alentejanas – caiado de branco e “adornado” com faixas amarelas ou azuis -, até que cheguei à cisterna medieval.
Para a poder admirar, pois disso é digna, mais degraus tive de descer e claro, depois subir. Conforme nos aproximamos da água existente no seu interior mais interessante se torna esta visita. A cisterna está operacional há vários séculos, os primeiros registos datam de 1473, os pormenores ficam-se pelas suas abóbadas e pelas diferentes marcas deixadas pelos canteiros, que deixam perceber que foram vários os trabalhadores que fizeram esta obra.


A Igreja Matriz, o Pelourinho e as lendas de outras épocas
Continuando a caminhada, a paragem seguinte foi junto à Igreja Matriz também conhecida como igreja da Nossa Senhora da Orada, em frente do Pelourinho da vila. Segundo conta a lenda, o Mestre de Avis e os seus cavaleiros, procurando um lugar para assentarem arraiais perto da fronteira com estas terras ocupadas pelos mouros, viram sobre uma árvore duas águias que tomaram como bom presságio e assim sendo decidiram povoar o local, começando então aqui a nascer a vila de Avis.


É atribuída a essa “aparição” a águia de asas abertas que é símbolo da Ordem de Avis e da vila, por isso, no topo do peculiar pelourinho lá está uma águia de asas abertas.
O dia está a despedir-se e a Igreja Matriz já está de portas fechadas, por isso fico-me apenas pela sua fachada, que é em estilo clássico, com duas torres sineiras. Erguida no século XV, sofreu muitas modificações ao longo dos tempos, sendo que o que hoje se encontra remonta basicamente ao século XIX. Segundo me foi dito, o interior da igreja tem uma nave central em madeira, duas capelas laterais e alguns painéis de azulejo.
Fiz um percurso circular e voltei ao ponto de partida, para o final da visita ao centro amuralhado da vila ficou o Convento de São Bento de Avis, e vale a pena uma visita cuidada apesar de já não existir do edifício conventual inicial, dado que este foi acrescentado por construções que alteraram os espaços, e hoje ainda lá habitam pessoas e até a GNR tem lá o seu posto.
No entanto não deixa de ser um edifício imponente e um dos maiores de Avis e das redondezas. Para além das áreas visitáveis, o imóvel alberga, entre outros, a sede do Município e os arquivos recentes e antigos como documentos sobre a Ordem Militar de São Bento de Avis. Também visitável é uma das áreas do Centro Interpretativo da Ordem de Avis que pretende restituir a dignidade física ao edifício mais emblemático do Centro Histórico da vila, onde se situa também o Museu do Campo Alentejano.


Uma viagem pelos sabores alentejanos naquele que é considerado o melhor restaurante de Avis
Pois é, a visita termina já é noite e o exercício físico que implicou faz com que o estômago esteja a dar sinais de necessitar de alimento, por isso juntando-me a uns amigos, rumamos à Tasca do Montinho, considerado o melhor restaurante de Avis. Não sei se o é porque não tive oportunidade de ser comensal em todos, mas que é excelente, lá isso é.
As entradas são soberbas, dos queijinhos alentejanos às azeitonas, passando pelos carapauzinhos “regados” com azeite e vinagre e pelos cogumelos salteados, todos os sabores lá estavam. Para prato principal foram servidas diversas iguarias, migas de espargos com carne de alguidar, vitela assada, borrego assado no forno e bacalhau com espinafres.
Se as entradas são de partilha, a opção no prato principal seguiu o mesmo princípio e por isso provei muito de tudo, o difícil foi saber o que estava melhor, porque tudo era um regalo para o paladar e para o estômago, que não foi capaz de dizer sim às sobremesas. A rega de tanta fartura foi um excelente tinto alentejano.
Ir diretamente da Tasca do Montinho para o hotel ou não, foi o dilema seguinte. Se o cansaço do dia fazia o corpo pedir descanso, a “barrigada farta” com que estávamos e uma noite de clima temperado, clamavam por uma bebida e uma boa conversa. A escolha recaiu sobre uma ida à Praia Fluvial do Clube Náutico banhada pelas águas da Barragem do Maranhão, onde se encontra um restaurante com uma vasta esplanada abrigada por árvores de grande porte – um final de dia fantástico, onde a natureza abraçou de forma convincente os que ali beberricavam e, como diz o povo, “jogavam conversa fora”.
Se de noite é aprazível e reconfortante, este espaço à beira água ganha vida durante o dia, já que tem vários equipamentos disponíveis, a começar pela praia fluvial, piscinas, parque infantil, e cais de embarcações já que é muito procurado para desportos náuticos.
Por isso, ao visitar Avis guarde um tempinho para relaxar aqui, e se vier no verão aproveite para um banho refrescante. Se for no outono, aproveite para descansar e usufruir da natureza e de alguns eventos que o município tem agendados para esta época do ano (leia aqui).
O Turisver esteve em Avis a convite da Câmara Municipal
*Fotos gentilmente cedidas pela Câmara Municipal de Avis (exceto imagem do Centro Interpretativo da Ordem de Avis-©Turismo do Alentejo)