Viagens domésticas devem “recuperar totalmente” em 2022
Esta é uma das conclusões do último relatório da European Travel Commission que reafirma a resiliência do turismo europeu “em meio da pandemia e da incerteza geopolítica”. O estudo conclui, também, que a Covid já não é o que mais preocupa os viajantes.
continuar a recuperar ao longo deste ano, embora “a um ritmo inferior ao que se esperava”. Ainda assim, as viagens domésticas deverão recuperar totalmente em 2022, alcançando níveis idênticos aos de 2019, enquanto as chegadas internacionais à Europa deverão ficar ainda 30% abaixo do volume pré-pandémico.
“Em 2022, as chegadas de turistas internacionais à Europa deverão ficar 30% abaixo dos volumes de 2019, apoiados por viagens domésticas e de curta distância. As viagens domésticas devem recuperar totalmente em 2022, enquanto as viagens internacionais não devem exceder os níveis de 2019 até 2025”, avança o relatório trimestral “European Tourism Trends & Prospects” da Comissão Europeia de Viagens (ETC).
O relatório sublinha que a Europa Ocidental deverá ser a região com melhor desempenho este ano, apesar de ser expectável que permaneça 24% abaixo dos níveis de 2019. Quando à Europa de Leste não é expectável que a recuperação total aconteça antes de 2025, devido ao impacto negativo da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Para Luís Araújo, presidente da European Travel Commission e do Turismo de Portugal, que comentou os resultados do relatório, “ao longo da pandemia, o setor do turismo europeu conseguiu lidar com incertezas e desafios. O setor está a recuperar-se da Covid-19 e há motivos para otimismo. No entanto, o turismo europeu terá que manter essa força ao longo do ano, à medida que a Europa continua a lidar com as consequências significativas do conflito russo-ucraniano”. Para que a recuperação do setor continue a fluir, sublinha Luís Araújo, “a ETC pede às instituições da UE que continuem a fornecer ajuda financeira suficiente e oportuna e outros apoios ao setor, especialmente para destinos fortemente dependentes do turismo da Rússia e da Ucrânia”.
Covid já não é o fator que mais pesa nas decisões das viagens
O relatório da ETC mostra que a Covid-19 está a perder peso como fator de influência nas decisões dos planos de viagens dos consumidores, muito por via do processo de vacinação contra a doença, dos certificados de vacina e cura da doença e das certificações dos próprios destinos. O que também ajudou foi a decisão de muitos países de abandonarem a obrigatoriedade de testes antes das viagens, principalmente os PCR. Daí que a ETC anteveja que a Europa Ocidental venha a ser a região com melhor desempenho turístico este ano, embora 24% abaixo dos níveis de 2019.
A ETC prevê, também que o mercado norte-americano cresça a uma média de 33,6% ao ano até 2026, no que toca aos fluxos turísticos para a Europa. No polo oposto está o mercado chinês para o qual o relatório não antevê alterações a muito curto prazo.
Impacto da guerra na Ucrânia
De acordo com o relatório da ETC, a guerra na Ucrânia será dos principais responsáveis pelo adiamento da recuperação total das chegadas internacionais. Em termos turísticos, a guerra afeta não apenas os dois países, seja enquanto emissores como enquanto recetores de turismo, mas também os países vizinhos e os destinos que mais dependentes estavam destes mercados.
Entre os cinco destinos preferidos dos russos figuravam países da União Europeia, como a Itália e o Chipre, sendo que neste último o peso dos turistas russos ultrapassava mesmo os 6%, figurando entre os 10 principais mercados emissores. Embora não se fale tanto, também a Espanha sentirá bastante a falta do mercado russo, não tanto em número de turistas mas, principalmente, no que toca às receitas, algo a que um estudo da GlobalData já fez referência. Depois, fora da União Europeia, há que contar com a Turquia, onde o mercado russo assumia grande importância.
Tendo em conta esta situação, o relatório da European Travel Commission afirma que “a recuperação da Europa Oriental foi adiada para 2025 devido ao conflito, prevendo-se agora que as chegadas internacionais fiquem 43% aquém das verificadas em 2019”,
Além dos efeitos diretos da redução das viagens da Rússia e da Ucrânia, o conflito criou outros problemas para o setor de viagens europeu, como a escalada dos preços dos combustíveis e a inflação que já se faz notar nos mais diversos bens de consumo, incluindo alimentos. Acresce que o encerramento do espaço aéreo russo, ucraniano, moldavo e bielorrusso para a maioria das transportadoras da Europa Ocidental afeta a conectividade aérea entre a Europa e a Ásia.
Por outro lado, há que contar com o efeito psicológico de uma “guerra na Europa” principalmente em mercados extraeuropeus. O relatório da ETC cita os resultados de uma pesquisa realizada pela MMGY Travel Intelligence que indica que 62% dos viajantes dos EUA que planeiam visitar a Europa declaravam-se preocupados com a guerra por temerem que ela se possa espalhar por outros países. No mesmo inquérito, as preocupações com a Covid e a saúde eram apontadas por apenas cerca de 30% dos inquiridos.
Ainda assim, a ETC diz esperar que “os EUA permaneçam entre os mercados de longo curso com melhores desempenhos em 2022”.