Vera Pereira recorda a importância da mercearia do avô na hora de receber o Xénio de Melhor Gestor de Potencial Humano

Diretora do departamento de Formação e Desenvolvimento, no Grupo PortoBay Hotels & Resorts, Vera Pereira foi eleita ‘Melhor Gestor de Potencial Humano’ nos Xénios 2025, promovidos pela ADHP. Socióloga de formação, ao Turisver recorda que a arte de lidar com as pessoas e de as cuidar foi-lhe implantada ainda criança e hoje diz que não conseguiria trabalhar numa área que não se relacionasse com o fator humano.
O que é que representa para si ganhar o prémio de Melhor Gestor de Potencial Humano nos Xénios 2025?
Representa algo de excelência. Sei que é uma palavra que se ouve muito na hotelaria, mas realmente nós estamos numa indústria de pessoas para pessoas e procuramos essa excelência, que vai muito para além da excelência do serviço. Acima de tudo, trata-se de cuidarmos bem das nossas pessoas para que elas estejam bem para o nosso cliente.
Por isso, foi um orgulho imenso – curiosamente no Dia da Felicidade que se celebrou a 20 de março -, ser distinguida com este prémio, porque é diferenciador ganhar um prémio por se fazer bem algo de que se gosta. E é muito importante a ADHP continuar a distinguir os profissionais que todos os dias dão mais de si pela excelência e pela hotelaria.
Como é que a Vera Pereira veio para esta área dos recursos humanos na hotelaria?
Sou socióloga de formação, e portanto, já desde a minha formação que estou ligada a pessoas. Mas já antes, quando era criança, implantaram-me o gosto por esta arte do servir. O meu avô não tinha hotéis, mas tinha uma pequena mercearia “barra” taberna, “barra” tudo, e desde muito pequena, desde os meus cinco anos, eu via nele a maneira tão genuína como ele servia o copo de vinho, ou como ele servia as massas, e ele sempre me explicava que se tratava de algo mais do que vender coisas às pessoas, que era também cuidar dessas pessoas. Penso que foi desde então que ficou em mim esta vontade de trabalhar com pessoas e de conseguir, de alguma maneira, contribuir para o seu crescimento profissional.
Nesta área dos recursos humanos, começou logo na hotelaria ou passou por outros sectores?
Antes da hotelaria trabalhei numa empresa cultural, na área da formação. Criámos projetos muitos interessantes para a formação certificada nestas áreas, que não existiam. Mas a cultura em Portugal, infelizmente, tem aqueles muito altos e muito baixos e acabou por surgir, por acaso, um convite para ir trabalhar para uma empresa hoteleira.
Na PortoBay?
Não, foi nos hotéis Tiara que tinham um hotel em Lisboa e outro no Porto, que eram os antigos Méridien. Aceitei o convite e fui trabalhar para eles, na área de formação e de desenvolvimento, e continuei mesmo depois dos hotéis passarem a Intercontinental, com a IHG. Só mais recentemente, há três anos, é que entrei na PortoBay.
“ … costumo dizer – e peço desculpa aos meus colegas dos salários -, que eu trabalho com a parte gira dos recursos humanos, porque não tenho que lidar com as coisas menos positivas, tenho a parte de planear as formações, de planear como é que podemos capacitar melhor as pessoas”
Em Portugal, o grupo PortoBay tem hotéis em vários pontos do país, na Madeira, no Algarve, em Lisboa e no Porto. A responsabilidade, na área dos recursos humanos, abrange as unidades todas?
O PortoBay tem a sua sede no Funchal, onde temos a diretora de Recursos Humanos. Depois o grupo decidiu lançar um desafio, e é aí que eu me encontro com eles, que foi criar o Departamento de Formação e Desenvolvimento. Portanto, eu costumo dizer – e peço desculpa aos meus colegas dos salários -, que eu trabalho com a parte gira dos recursos humanos, porque não tenho que lidar com as coisas menos positivas, tenho a parte de planear as formações, de planear como é que podemos capacitar melhor as pessoas. Portanto, as minhas responsabilidades, ao dia de hoje, abrangem todo o grupo naquilo que se refere à parte da formação e desenvolvimento.
Hoje há uma escassez de mão de obra para esta área. Isso traz um acréscimo de trabalho e de responsabilidade na seleção das pessoas?
Sim, sentimos algum desespero nas nossas equipas de querer pessoas para trabalhar e não terem. Então, o compromisso que nós fazemos com as nossas equipas é simples: nós formamos. Se as pessoas não têm as competências certas, trazemos para dentro de casa e vamos dar a formação adequada àquela pessoa, que pode ser diferente da outra e da outra… Então, estamos aqui num trabalho contínuo de capacitar as nossas pessoas para o serviço mais simples que se pode imaginar, como o serviço de mesa, por exemplo. Porque o serviço de mesa não é só levar o prato de comida ao cliente, é muito mais que isso.
Nós criamos internamente, cursos formativos que são dados pelos nossos formadores internos, que são as nossas pessoas, em que não só espalhamos o ADN da marca, mas também estamos a dignificar o que é a profissão com formação adequada e à medida.
Como é que se compatibiliza uma estrutura tão bem organizada de recursos humanos, de formação, num grupo como o PortoBay, com o outsourcing? Muitas vezes não têm os mesmos pressupostos…
Não, não têm. mas também aí nós formamos. A partir do momento em que eles entram nos nossos hotéis e estão a prestar um serviço que é PortoBay, ao nosso cliente, nós também os chamamos para a formação.
E em relação ao quadro pessoal para as épocas altas? Vocês já fazem essa contratação com mais antecedência para darem essa formação ou continuam a entrar muito em cima da época alta?
Nós fazemos isso com antecedência. Ainda estamos a trabalhar a parte de ter tempo para a formação, porque os últimos três anos têm sido anos de grande crescimento e que nos têm surpreendido, e então, nós ainda pensamos que vai dar tempo para a formação e depois acabamos por sermos surpreendidos pela operação.
Via-se a fazer outra coisa que não aquilo que faz?
Eu acho que neste momento, não, porque é algo de que eu gosto. Consigo ver o retorno imediato daquilo que faço que é algo que verdadeiramente me enche o coração e me faz pensar que estou realmente no caminho certo e ainda sou paga para isso… – faço o que gosto e ainda sou paga para isso.
Trabalhar com pessoas será certamente algo que vai estar sempre no meu caminho. Pode eventualmente ser noutro setor de atividade, mas sempre será com pessoas.