Covid não alterou os grandes temas do turismo em Portugal, defende Alexandre Marto
Para Alexandre Marto Pereira, vice-presidente da AHP, após dois anos de pandemia os grandes temas que estavam em debate antes do Covid, continuam a estar em cima da mesa. Esta foi a ideia que deixou no “Vê Portugal”, onde interveio no painel “O Covid-19 e o impacto na Oferta Turística”.
“Não houve assim tantas coisas que se alteraram com o Covid”, afirmou logo de início o vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, explicando que já antes da pandemia, nos grandes fóruns de turismo, estavam essencialmente em debate quatro problemas, dois de curto prazo e dois de longo prazo.
No primeiro caso, os temas em cima da mesa eram o aeroporto e os recursos humanos. “Havia um problema com o aeroporto [de Lisboa] e hoje continua a haver um problema com o aeroporto”, afirmou, considerando que o que está a acontecer “é uma vergonha nacional (…). É uma vergonha dos portugueses, do país, o país não ter capacidade de tomar uma decisão e de avançar com uma solução”, vincou.
Quanto ao segundo tema de curto prazo, os recursos humanos, era também um problema que já existia mas que se agravou com a pandemia e agora, de tanto se falar nele, pode parecer que é novo quando já não o é.
Quanto aos dois problemas de longo prazo, que também já eram considerados grandes desafios antes da pandemia e relativamente aos quais também “nada se alterou significativamente com o Covid-19”, Alexandre Marto Pereira apontou a sustentabilidade e a digitalização.
Quantos querem pagar pela sustentabilidade?
Concordando com o presidente da APAVT, orador que o antecedeu, Alexandre Marto deixou claro que “a sustentabilidade é um problema da sociedade” e que “as empresas têm de se adaptar porque têm responsabilidade social”. No entanto, acentuou, “aparte alguns nichos, ainda não assisto a uma massificação da procura no sentido de todos quererem contribuir [para a sustentabilidade] pagando um determinado valor”. Para tornar mais óbvia a sua ideia, o vice-presidente da AHP deixou à plateia uma pergunta: “Entre as pessoas que estão aqui na sala, quantas são as que, quando voam, pagam a taxa de compensação de carbono?” E face às escassas respostas afirmativas, Alexandre Marto diria que “nada se alterou”, ou seja, falar de sustentabilidade todos falam, pagar por ela já é um caso completamente diferente.
Foi mesmo mais longe ao exemplificar com um congressos de turismo ativo e ecológico, nos EUA, onde estava cerca de 600 pessoas, das quais apenas cerca de uma dezena confessou pagar a taxa de carbono.
Sobre o segundo tema de longo prazo, a digitalização, o vice-presidente da AHP recordou que as primeiras análises sobre o pós-pandemia que surgiram ainda quando esta estava no início, davam o mercado corporate como sendo o primeiro a recuperar porque “as empresas tinham que continuar a fazer negócio, ir a feiras, encontrar clientes e alternativas para continuarem a operar e a sobreviver. Só que, recordou, “depois surgiu o zoom e ferramentas extraordinárias que fizeram com que tudo passasse a ser digital”. A propósito referiu que antes da pandemia uma ação do zoom custava 66 dólares e em outubro de 2020 tinha subido para mais de 550 dólares. Veio depois a ideia que tudo ia mudar com a pandemia, que “a economia ia ser toda digital, que as pessoas iam deixar e viajar, que as reuniões iam passar a ser todas por zoom (…) que os escritórios iam todos ficar vazio porque as pessoas iam todas trabalhar para casa”.
“A digitalização veio para ficar, mas não veio para tomar conta da nossa realidade”
Também esta ideia não se tornou realidade, levando a que as ações do zoom voltassem a baixar, estando agora a 109 dólares, praticamente o dobro do valor da pré-pandemia, mas muito abaixo do que já estiveram, o que significa, defendeu o orador, que “a digitalização veio para ficar, mas não veio para tomar conta da nossa realidade” e que “apesar de tudo muito poucas coisas mudaram brutalmente”.
O que é que veio para ficar? O que é que a pandemia veio trazer que não existia antes? Para Alexandre Marto, o que ficou foi “a dor” causada pela pandemia, “foi a morte” porque “pela primeira vez na história da Humanidade, o mundo ocidental que está sempre ligado à televisão, à internet, às redes sociais, a morte entrou pela nossa casa todos os dias – esta era a notícia principal, todos os dias, em todo o mundo, marcando toda a gentes, de forma consciente ou inconsciente”. Em contraponto, para o turismo ficou uma grande oportunidade, que é a vida: “o Turismo é vida”, disse, defendendo a ideia de que, após dois anos em que as pessoas se debateram com a morte, vão reequacionar a vida, dar-lhe um valor diferente, tentando dar menos tempo ao trabalho e mais tempo à própria vida, ao planeta, ao conhecimento do mundo e às viagens.
Também por via desta alteração, Alexandre Marto disse acreditar que as pessoas irão dar maior valor à autenticidade e à sustentabilidade do planeta.
*O Turisver acompanhou o Fórum “Vê Portugal”, em Tomar, a convite da Turismo Centro de Portugal