“Vão faltar carros” para alugar em Portugal, afirma Joaquim Robalo de Almeida
Para o rent-a-car o ano de 2022 poderá ser o melhor de sempre em rentabilidade. Esta é a opinião de Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC que, em entrevista ao Turisver alertou para a falta de carros no mercado e para um aumento “significativo” nos preços dos alugueres.
A atividade turística em Portugal está em clara recuperação. O setor do rent-a-car já está a beneficiar desse aumento de procura turística?
O rent-a-car está com perspetivas de ter um belíssimo ano e, se não houver nenhum facto desestabilizador, 2022 poderá até ser, em termos de rentabilidade, o melhor ano de sempre do setor. Isto apesar de termos menos carros porque não há carros disponíveis para venda, tudo o que está disponível nós compramos mas mesmo assim não é suficiente.
Isso que dizer que vão faltar carros?
Vão, vão faltar carros e à semelhança do que acontece com outros produtos turísticos quando a oferta é superior à procura, os preços vão subir. Isto não só porque não há carros para venda, devido à falta de semicondutores para a construção de automóveis, mas também porque os preços dos carros estão muito mais elevados, algo que até afeta o mercado de usados em que os preços, de 2020 até hoje, tiveram um aumento de 20%, mais ou menos o mesmo que aumentaram os novos. Ou seja, a nossa matéria-prima está com preços muito elevados o que, inevitavelmente, tem reflexos no preço dos alugueres.
Um turista que chegue a Portugal e queira alugar um automóvel pode não conseguir fazê-lo?
Se não tiver feito reserva, terá muita dificuldade em arranjar um carro, seja ele qual for – a não ser que alugue um carro de mercadorias mas nem aí haverá certezas porque este setor também tem tido um grande desenvolvimento. Carro de passageiros, se o turista não tiver feito reserva, arrisca-se a ficar apeado.
A escassez já está a sentir-se. Neste momento, se quiser alugar um carro determinado, só por um golpe de sorte o conseguirá fazer. No verão, as dificuldades ainda vão ser maiores.
Dois últimos anos deixaram sequelas nas empresas de aluguer de viaturas
Recentemente, alguns jornais britânicos analisaram os preços do rent-a-car em vários países da Europa, nomeadamente em Portugal, dizendo que no Algarve os preços dos alugueres estavam 40% mais caros do que em 2019. É assim?
Parece-me que 40% é demasiado, mas os aumentos são significativos por via da escassez e dos preços dos carros mas também da inflação. Temos muita consideração pelos nossos clientes, pelos nossos turistas mas as empresas fizeram-se para ser rentáveis. E é preciso não esquecer que as empresas não estão bem, os dois últimos anos foram muitíssimo maus, digo com certo orgulho que nenhuma empresa associada da ARAC entrou em insolvência mas estão com muitas sequelas. A partir de meados do ano passado a situação começou a melhorar, os primeiros cinco meses deste ano foram bons em termos de alugueres e esperamos um verão muitíssimo bom, obviamente com frotas muito ajustadas.
A nossa frota é sempre muito nova mas posso dizer que em algumas situações muito pontuais estamos a prolongar a vida dos carros. Carros que estavam em frota já com três anos e tal – o que não é normal neste setor – estamos a mantê-los para fazerem também este verão.
Nós em 2020 vendemos uma boa parte da frota, foi assim que as empresas sobreviveram e felizmente que este é um setor que tem um tipo de ativos que se conseguem alienar com relativa facilidade.
Com o verão à porta, será no Algarve que mais se fará sentir esse aumento de preços, por via da escassez de frota?
Espera-se que o Algarve registe uma ocupação de 100% da sua frota, mas há regiões em que os preços serão ainda sensivelmente mais altos do que no Algarve, caso dos Açores e da Madeira. Este aumento de preços não deve surpreender o consumidor, está a acontecer o mesmo na hotelaria porque as matérias-primas subiram imenso. O preço dos pneus, por exemplo, aumentou cerca de 30% e é óbvio que isso tem que se refletir no preço médio diário do aluguer.
Por outro lado, como já referi, estes aumentos têm também que ter em conta a compensação dos anos de crise que o setor viveu. De março a agosto de 2020 tivemos a frota praticamente toda parada, a única coisa que se desenvolveu foi o setor do rent-a-cargo para a distribuição de produtos.
Carros elétricos ainda não são a preferência dos turistas
No inquérito que referi há pouco e de que a imprensa britânica está a dar eco, dizia-se que os clientes tendem cada vez mais a procurar carros elétricos. É assim? As preocupações ambientais e o aumento dos combustíveis têm levado ao aumento da procura por carros elétricos?
Não. Os carros elétricos, não temos dúvida que vão ser o futuro mas estão longe de ser o presente porque para serem mais procurados, por um lado tem que haver uma rede de postos de abastecimento relativamente grande e, por outro, os próprios automóveis têm que ter uma maior autonomia.
Neste momento temos 700 carros elétricos em frota, o que é uma percentagem muito boa para uma frota que está neste momento em cerca de 86.000, o que nos coloca acima da média europeia, aliás somos dos países que mais carros elétricos vende. Só que, por enquanto, o turista não quer veículos elétricos – quer um carro para passear sem ter que se preocupar com a autonomia ou com o local onde vai poder carregá-lo. Basicamente, os carros elétricos são alugados por empresas
Em termos de descarbonização, o que estamos a fazer é comprar carros híbridos, posso dizer que 40% dos carros que comprámos este ano são híbridos e esses, sim, têm tido uma procura bastante grande.
O preço dos alugueres pode refletir-se no tipo de automóvel que é alugado, ou seja, poderá haver um downgrade?
Não prevemos isso, a composição da nossa frota é sensivelmente a mesma, embora as marcas possam não ser as mesmas. Neste momento temos um grande número de carros de marcas coreanas e japonesas que não eram tradicionais no rent-a-car porque a verdade é que estamos a comprar quase tudo o que tenha quatro rodas para podermos satisfazer a procura. No entanto, trata-se de carros de grande qualidade.
Em termos de classes de veículos, o que penso é que os clientes tenderão a enquadrar-se no que estiver disponível no momento. Os segmentos que mais pesam no rent-a-car são o B e o C, os carros mais pequenos, do segmento A, não têm grande peso – têm algum peso no Algarve mas não no resto do país.
Também em termos de extras penso que não deverá grande alteração, o cliente irá continuar a comprar extras como as isenções de franquia, os seguros porque quem vem de férias gosta de se sentir confortável. Por outro lado, quem viaja com crianças tem que alugar cadeiras porque é obrigatório que as tenha. Posso mesmo dizer que a venda de extras está bem alta porque as pessoas querem segurança, não querem arriscar a ter problemas nas férias.