Vamos ficar com o que de melhor a Soltrópico e a Egotravel tinham
A junção entre a Soltrópico e a Egotravel que continuam a ser operadores independentes, foi o ponto de partida para a conversa com Gonçalo Palma, diretor-geral em ambas as empresas, em que se falou de desafios, estratégias a seguir e programação de verão.
Egotravel e Soltrópico são hoje um projeto único ou continuam a ser independentes?
Neste momento é um projeto único, nós não conseguimos dissociar aquilo que é a estratégia comercial de um da estratégia comercial do outro. No entanto, continuam a ser independentes, têm interesses independentes, administrações diferentes.
O que nos motivou, logo de início, foi fazer algo de diferente. Tanto no passado como no presente, houve muitas pools de operadores para viabilizar um produto ou uma operação e nós entendemos que desta maneira íamos fazer algo diferente. Por muito que nos juntemos com outros operadores, em algum momento estamos a fazer o mesmo produto e vamos sempre ser concorrentes. Por outro lado, nunca conseguimos fazer uma pool de dois operadores com a mesma dimensão, há sempre um maior e outro mais pequeno e, na minha opinião, os maiores levam sempre mais vantagem e isso era algo que não queríamos. Na Ego tivemos essa experiência, a Soltrópico também, e enveredámos por um modelo diferente.
Nós chegámos a um acordo com a Newtour mas para intervenção de capital na Egotravel – que ainda não aconteceu mas como se tratou de um acordo a dois anos, poderá acontecer em 2024 -, mas até poderia não acontecer esse tipo acordo, poderia apenas tratar-se de um acordo de dois operadores que estão no mercado e que tinham consciência daquilo que cada um fazia de melhor.
Esta junção trouxe muitas coisas positivas. A Egotravel é um operador ainda recente, com cinco ou seis anos de mercado mas a Soltrópico já ultrapassou os 30, pelo que o posicionamento, dentro da distribuição e no mercado, é completamente diferente. A Egotravel é reconhecida como um operador que todos os anos lança uma novidade, a Soltrópico é um operador mais de posicionamento, ou seja, enquanto a Ego lança um destino num ano e no ano a seguir pode abandoná-lo e lançar outro, já a Soltrópico opera os destinos muitos anos e durante o ano todo, como é o caso, por exemplo, de Cabo Verde. Com este acordo, os dois operadores vão ficar um pouco mais parecidos, vamos ficar com o que de melhor cada um faz – mas nunca vão ser um só.
É o que se passa também ao nível da tecnologia, em que a Egotravel tem um investimento mais consolidado, usando desde há anos a mesma plataforma. A Soltrópico também investiu muito em tecnologia mas nos últimos anos teve algumas experiências que não funcionaram. Uma das vantagens que vimos foi que a Egotravel já tinha feito esse percurso e estava a funcionar, portanto, foi muito fácil tirar de um lado e colocar no outro. Uma das maiores queixas que havia na Soltrópico quando cheguei, em Novembro do ano passado, tinha a ver com o acesso ao site, que agora melhorou muito.
É aí que começa a “arrumar a casa”?
Eu e o Tiago Raiano começámos a conversar em agosto/setembro e aos poucos, mesmo antes de entrar, eu já estava a “arrumar” algumas situações na minha cabeça e quando cheguei, em novembro, já tinha uma estratégia desenhada, em conjunto com a administração.
Três grandes desafios neste início da retoma
Desde logo, a criação de equipas porque com a pandemia saíram muitas pessoas e perdeu-se um pouco a orgânica da empresa. Outro importante pólo de atuação residiu em corrigir o problema da tecnologia, do site. Começámos a trabalhar em inícios de novembro e no final de dezembro já tínhamos a solução online.
Obviamente, tudo isto foi feito em simultâneo com aquilo que é mais importante num operador, que é a criação de produto, e num período em que se estava novamente a falar num possível confinamento.
Digamos que podemos dividir os desafios em três áreas. A primeira tem a ver com os desafios socioeconómicos, nomeadamente aqueles que não podemos controlar, como é o caso da guerra na Ucrânia, as consequências dessa guerra no preço dos combustíveis, e que nos tem obrigado a colocar suplementos de combustível mesmo em viagens que já estavam compradas.
Depois temos os desafios internos, de que já falámos, que tem a ver com a gestão de dois operadores tão diferentes entre si.
“Aquilo que sabemos é que estes operadores têm uma tipologia de atuação diferente: o que conta, o grande objetivo é encher os próprios hotéis e não o resultado da operação”
O terceiro desafio tem a ver com o próprio setor, com a transformação do setor dos operadores e das agências e viagens, com a entrada de um novo player espanhol que vai representar a sua própria cadeia hoteleira e que também tem uma companhia aérea. Aquilo que sabemos é que estes operadores têm uma tipologia de atuação diferente: o que conta, o grande objectivo é encher os próprios hotéis e não o resultado da operação. Estes operadores quando vêm para o nosso mercado, trazem sempre uma grande quantidade de oferta, o que levará, inevitavelmente, a alguma baixa de preço. Em agosto não se sentirá tanto, mas nos outros meses sim, porque não há assim tantos clientes a viajar.
São players que jogam no mesmo mercado mas não jogam o mesmo jogo e um dos grandes desafios está em saber como é que vamos equilibrar a oferta, como é que o mercado vai escoar, ou não, este excesso de oferta que traz sempre grandes perdas, nomeadamente de rentabilidade.
A nós, estes novos operadores não nos afetam directamente – é mais Caraíbas – mas afetam indirectamente, através do preço. Se não conseguirem escoar o produto vão baixar preços e todos vamos ter que baixar.
Quando olharam para o produto, uma das preocupações que devem ter tido foi a dos dois operadores da casa não canibalizarem a oferta um do outro?
Essa é a base para que cada um consiga manter a sua identidade. A Soltrópico tem um longo histórico de operações em Cabo Verde, no Brasil, nos Açores, também na Madeira e em São Tomé. No fundo, a Sotrópico tem estado muito ligada aos países lusófonos. Já a Egotravel fez um grande trabalho na Tunísia, que foi praticamente o único produto que se manteve estável e que se tornou uma grande referência – a Ego é hoje o maior operador de Tunísia em Portugal – em tudo o resto era um operador que saltitava. Por isso foi muito fácil definir o espaço e os interesses de cada um, sendo que a Soltrópico ficou com a parte mais atlântica e os países lusófonos e a Egotravel ficou com o Mediterrâneo, nomeadamente Tunísia, Malta, Egito, Turquia, Grécia…
Com os espaços bem definidos, nunca nos vamos canibalizar. Se um destino está num operador não vamos ter o outro a fazer o mesmo. O que pode haver é produtos semelhantes que concorram entre eles, por exemplo, Saidia concorre com Djerba, mas essa é uma questão diferente.
Aposta de risco ambiciosa
Quais são as principais apostas e como é que estão a ser colocadas no mercado?
Em termos de apostas de risco, todos achámos que este iria ser um ano mais comedido, tendo em conta que vimos de dois anos de paragem, mas a verdade é que isso não está a acontecer. Para 2022, a Egotravel vai fazer a sua maior operação de sempre para Djerba, começa a 11 de abril e vai até 5 de outubro, de Lisboa, e a partir de maio tem um reforço de dois voos do Porto, vamos colocar no mercado 9.000 lugares.
Em termos de Soltrópico temos três apostas de risco: Cabo Verde, em que estamos em pool com a Abreu e a Solférias, com a operação da ilha do Sal a durar quase o ano inteiro. A operação começou dia 2 de abril, estende-se até 5 de novembro e vão ser seis charters só para o Sal, três de Lisboa e três do Porto. O pleno dos seis charters é de junho a final de setembro.
A grande aposta é o Porto Santo, que operamos com a Abreu, e em que vamos duplicar a oferta face ao ano passado. Vão ser quatro voos, dois de Lisboa e dois do Porto, de junho a setembro. Esta é uma estratégia de ocupação do espaço, dado que a oferta hoteleira é pequena e Porto Santo é dos produtos que mais se está a vender, estamos a conseguir escoar bem o produto.
A outra aposta é Saidia, também em parceria com a Abreu, de junho a setembro, com dois voos por semana.
Para além disto, têm oferta em voo regular?
A nossa estratégia passa sempre por ter um equilíbrio entre lugares em charter e lugares em voo regular. No caso da Soltrópico, a oferta charter para Cabo Verde incide só na Ilha do Sal, mas temos operações com a TAP, durante o ano todo, para a Boavista, Praia, São Vicente. Temos as ofertas no Brasil, também com a TAP que voa diariamente para várias cidades, não só do nordeste mas também do sul do Brasil e é um local onde a Soltrópico também quer estar, temos São Tomé e, claro, Madeira e Açores, que são um clássico desta casa.
No caso da Egotravel temos o Egito, onde oferecemos Sharm-El-Sheik e Hurghada com a Turkish Airlines, temos uma boa oferta nas Canárias com voos TAP, Agadir, em Marrocos e Monastir, em regular com a TAP.
Este ano não vamos ter Malta porque a Air Malta não vai colocar o voo em Lisboa, o que é uma perda grande para o nosso mercado.
Amanhã no Turisver.pt pode ler a segunda parte da entrevista com Gonçalo Palma, diretor-geral da Soltrópico e da Egotravel, onde poderá ler entre outros temas:
- A constituição e orgânica das equipas da Soltrópico e da Egotravel
- A negociação com as redes de agências de viagens
- A relação com as agências de viagens