Uma análise à evolução dos cruzeiros como produto turístico, por Carlos Vilela da Mota

Neste artigo, Carlos Vilela da Mota, docente do ISCE, fala do desenvolvimento do turismo de cruzeiros, tanto por via marítima como fluvial, dos problemas que suscita ao nível da capacidade de carga por falta de planeamento e das medidas que estão a ser tomadas para mitigação dos impactos ambientais.
Carlos Vilela da Mota
Docente do ISCE
Presidente da Mesa da Secção Profissional de Turismo da Sociedade de Geografia de Lisboa
Com a evolução registada nas últimas décadas em que os navios de passageiros utlizados nas ligações entre os vários continentes deixaram de operar, por via da constante evolução do transporte aéreo, começou o crescimento dos cruzeiros como produto turístico.
Esta evolução, inicialmente sem grandes preocupações ambientais, particularmente com as descargas de resíduos no mar e a poluição atmosférica por via da utilização de combustíveis fosseis, tem vindo a ser gradualmente minimizada, reduzindo esses impactos.
Dada o constante aumento de navios, quer para os cruzeiros fluviais, que, por força da criação de condições de navegabilidade nos vários rios em diversos continentes, com a construção das eclusas, e ainda para os cruzeiros marítimos, com o aumento da capacidade de passageiros e mais atratividades a bordo, sendo que muitos dos grandes navios de cruzeiros a operar transportam mais pessoas (passageiros e tripulantes) do que os habitantes de alguns concelhos de Portugal, verifica-se o aumento da oferta disponível, bem como da procura.
Esses aumentos de capacidade a localização de alguns portos, têm gerado conflitos entre os residentes e os turistas devido a ter sida ultrapassada a capacidade de carga, dos diversos locais onde esses portos se localizam.
As administrações desses portos, durante anos, apenas se preocuparam com o aumento do volume de escalas e passageiros, por isso lhes gerar receitas que suportavam o constante aumento dos investimentos que efetuavam para melhorar as condições operacionais desse aumento de procura.
Trata-se, pois, de uma manifesta falta de planeamento e de consideração pelas populações locais, que, agora estão a reagir, em muitos casos com manifesto aproveitamento político.
Nestas condições temos na Europa casos como o de Veneza, em que foram impostas restrições a movimentos de grandes navios de cruzeiros, que, por experiência própria, provocam menos impactos que os vaporetos que circulam a grande velocidade, particularmente no Grande Canal, onde esses impactos se verificam todos os dias nas suas margens, dado que esses navios de cruzeiros são rebocados até ao fim do canal por conseguinte a pequena velocidade.
A não construção por parte das autoridades locais e estatais, de um terminal à entrada do canal destinado aos navios de cruzeiros, origina que as companhias tenham de alterar os seus portos de turn-around para os portos de Ravena e Trieste.
Também Barcelona e Palma de Maiorca estão com o mesmo problema, tendo condicionado as escalas dos navios de cruzeiros. Aqui também a manifesta falta de planeamento está na origem do problema, dado que, no caso de Barcelona, os cruzeiros se iniciam normalmente ao fim de semana, mas, se eles se distribuíssem durante a semana, certamente que os impactos seriam menores.
Também aqui Valencia tem conseguido algumas escalas, beneficiando, portanto, dos problemas com Barcelona.
No caso do porto de Lisboa, durante muitos anos foi difícil as autoridades conseguiram captar operações de turn-aroud, bem como de escalas, devido à nossa localização, que obrigava a que essas operações particularmente com destino ao Mediterrâneo, tivessem de ter uma duração de dez dias em vez dos oito dias, que por exemplo, Barcelona proporciona.
A procura por parte das companhias de cruzeiros, de novos destinos e, a construção do terminal de cruzeiros, permitiu ao Porto de Lisboa ter um aumento anual do número de turn-arounds, bem como de escalas, e, consequentemente passageiros movimentados.
No Norte, a construção do Terminal de Cruzeiros de Leixões, oferece boas condições para que operações dos dois tipos tenham aumentado substancialmente.
Outros portos em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas têm-se vindo a desenvolver, com destaque para o Funchal e Ponta Delgada.
Quanto à questão da mitigação dos impactos ambientais, regista-se uma grande preocupação com esta matéria por parte das companhias de cruzeiros, procurando minimizar esses impactos, com grandes desenvolvimentos quer na parte logística (aproveitamento a bordo dos resíduos de toda a ordem) utilização e fonte de energia menos poluentes como o GLP (gás liquefeito) ou energia elétrica para a sua propulsão.
Outra questão importante é o fornecimento de energia elétrica aos navios quando estão em porto, o Porto de Lisboa tem um projeto para a possibilitar esse fornecimento.
Fica demonstrado que as companhias de cruzeiros, para além de diversificação de itinerários, procurando portos (ou locais off shore) onde haja interesse turístico para os seus passageiros, procuram de modo sustentável, aumentarem a oferta para que ela corresponda à crescente procura.