Turismo tem que pagar melhores salários, mas “Estado tem que contribuir” baixando a carga fiscal, alerta Francisco Calheiros
Na conferência “Turismo Fator de Coesão Nacional”, o presidente da CTP, Francisco Calheiros falou do bom momento por que passa o turismo nacional mas o foco da sua intervenção seriam os inúmeros desafios que se colocam à atividade turística, como as alterações climáticas, a escassez de mão de obra, a fiscalidade e o novo aeroporto.
No Algarve, intervenção proferida na conferência com que a CTP e a AHETA assinalam o dia Mundial do Turismo, Francisco Calheiros começaria por se referir ao bom momento vivido pelo turismo em Portugal, tendo sublinhado que, apesar dos desafios, os dados gerais “mostram um progresso notável apesar das oscilações das dormidas locais”.
“Mesmo com os desafios que enfrentamos, em julho crescemos dois dígitos em hóspedes e quase 7% em dormidas, comparando com 2019 que tinha sido o melhor ano de sempre do turismo em Portugal”, sublinhou, citando também dados do WTTC que “confirmam a solidez da nossa atividade”, ao revelar que o turismo deverá contribuir com quase 40 mil milhões de euros para a economia portuguesa até final de 2023, superando o ano de 2019”.
Mesmo com o Algarve a ser a região que “mais lentamente a recuperar”, o presidente da CTP defendeu que “o país turístico está em pleno crescimento sustentável” e que “temos conseguido captar novos mercados, enquanto consolidamos mercados tradicionais” pelo que, sublinhou, dever ser reforçada a estratégia de criação de novos produtos, inclusive dedicados a novos nichos de mercado.
Para que o crescimento turístico abranja todas as regiões do país, afirmou, há que aumentar a coesão territorial e implementar novas medidas estruturais no sentido de reforçar o apoio ao interior do país, sendo este um dos desafios apontados.
“Todos os intervenientes no turismo devem estar atentos e agir no sentido de minimizar os impactos das alterações climáticas na nossa atividade”
Consciente de que “o novo turista quer viver experiencias locais, sustentáveis e não quer que seja complicada a marcação das suas férias: quer rapidez, imediatismo e, sobretudo, a garantia do seu bem estar”, o presidente da Confederação vincou a sua preocupação face às alterações climáticas. A propósito citou um estudo da Comissão Europeia revela que Portugal é um dos países mais impactados pelas alterações climáticas, apontando que o aumento das temperaturas levará à diminuição da procura turística, algo que, sublinhou, já foi sentido este ano “nomeadamente aqui no Algarve”.
Por isso, deixou claro que “não nos podemos alhear (…) o problema está identificado e é altura de agir (…): Todos os intervenientes no turismo devem estar atentos e agir no sentido de minimizar os impactos das alterações climáticas na nossa atividade”.
“Sem um novo aeroporto, este motor da economia que é o turismo pode começar a gripar” (…) Depois, que país teremos sem um turismo forte?”.
A enumeração dos desafios que se colocam à atividade turística, não se ficou por aqui, com Francisco Calheiros a voltar à temática do Aeroporto: “Temos que ter rapidamente um novo aeroporto para receber mais turistas”, declarou, apontando que o país já está a perder cerca de 1,5 mil milhões de euros devido à falta de um novo aeroporto.
“Sem um novo aeroporto, este motor da economia que é o turismo pode começar a gripar”, alertou, questionando: “Depois, que país teremos sem um turismo forte?”. Lembrando que se a opção for uma infraestrutura de raiz “demorará 12 anos até termos um novo aeroporto” por isso “a solução Montijo urge a ser implementada”.
Outro problema já identificado é o da falta de mão de obra e de recursos humanos qualificados. E se o problema está identificado, a solução também o está, pelo menos em parte: “há que criar melhores condições para quem quer trabalhar no turismo, desde logo, oferecendo melhores salários”, afirmou.
Para que o aumento de salários e a melhoria de condições de quem trabalha no turismo possa ser uma realidade, Francisco Calheiros apontou um caminho: “O turismo até tem sido das atividades que mais têm aumentado salários, mas há que fazer mais neste aspeto e o Estado tem que contribuir baixando a carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho”.
“Reforçar a aposta na imigração”, através de uma “maior agilização dos processos” e resolver o “problema da habitação” (mas não à custa do Alojamento Local que considerou ser “fator de desenvolvimento do turismo) foram outros dos caminhos apontados, a que o presidente da Confederação somou ainda “uma maior aposta na qualificação, reforçando o ensino de qualidade nas nossas escolas de turismo” e a colocação em prática da Agenda para as Profissões do Turismo.