“Turismo de vingança” já não vai funcionar em 2023, segundo Pedro Costa Ferreira
Depois de um ano de 2022 em que se assistiu a um “boom” na procura pelas viagens, as perspetivas para 2023 são menos otimistas: “Sabemos bem o que aí vem, não temos, em relação a isso, uma única dúvida”, alertou o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira, no encontro com a imprensa em que foi apresentado o tema do próximo congresso da Associação, nos Açores.
O “boom” verificado este ano ao nível da procura de viagens pelos consumidores, não apanhou de surpresa a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) que já tinha falado nessa possibilidade. Por um lado, sentia-se que as pessoas estavam ávidas de viajar após dois anos em que praticamente não o puderam fazer, o que levou, por outro lado, a que tivessem conseguido amealhar e tivessem mais rendimento disponível para poderem viajar em 2022, ano em que funcionou aquilo que foi já denominado de “turismo de vingança”.
Para 2023, no entanto, as perspetivas são menos otimistas e, se bem que, por enquanto, não se sinta a retração da procura, Pedro Costa Ferreira alerta que “é bem expectável que a nossa operação de verão em 2023 seja menos robusta”
“Por um lado, a poupança forçada já está gasta, por outro lado teremos menor rendimento disponível decorrente da inflação e, sobretudo, do peso que têm as prestações para habitação própria na classe média portuguesa”, justifica.
Perante esta situação, Pedro Costa Ferreira admite que os destinos de proximidade podem ter uma nova oportunidade nesta conjuntura, pelo que “num quadro de redução do rendimento disponível, a Madeira e os Açores, se trabalharem bem, podem ter até uma oportunidade acrescida”.
Portugal em 2023 pode sair beneficiado pela proximidade aos mercados europeus
Por outro lado, considera o presidente da APAVT, num contexto europeu, Portugal pode sair beneficiado em termos de mercados de proximidade. Ainda assim, não deixa de alertar para problemas como a desvalorização da moeda no Reino Unido e o comportamento do mercado alemão onde, sempre que há perspetivas de menor rendimento disponível, imediatamente há menor consumo. No entanto, acrescenta, Portugal poderá beneficiar dos mercados de longo curso, nomeadamente o norte-americano, decorrente até da valorização do dólar.
Relativamente ao ano em curso, Pedro Costa ferreira assegurou que “o verão foi muito bom. Os números das agências são muito positivos, do ponto de vista da demonstração de resultados”. Trata-se, afirmou, de uma recuperação “absolutamente efetiva” das agências de viagens, uma vez que “esperamos ter resultados em 2022 muito próximos de 2019, mas com assimetrias: o lazer melhor, o corporate não atingiu os valores de 2019 e os eventos também estarão mais atrasados”.
Mesmo assim, os resultados de 2022 não chegam para que os resultados do setor das viagens consiga uma recuperação efetiva. “Se tivermos um ano com resultados semelhantes a 2019, significa que nos faltam cerca de seis anos para termos um balanço semelhante a 2019, porque as agências perderam entre cinco a sete anos de resultados ao longo da crise” afirma, sublinhando que “o balanço equilibrado de 2019 está muito longe de acontecer, mesmo que aconteçam anos felizes como este”.