“Trabalhar mais o mercado espanhol” é uma necessidade, considera Porfírio Perdigão diretor da Vila Galé para o Alentejo
No dia dedicado ao trade no âmbito da iniciativa “Alentejo de Corpo e Alma em Lisboa”, o Turisver falou com Porfírio Perdigão, diretor regional de operações da Vila Galé para o Alentejo, para sabermos como corre o ano nas várias unidades do Grupo na região, nomeadamente dos dois novos hotéis que abriram na Herdade da Figueirinha, em Beja.
Porfírio Perdigão é diretor da Vila Galé para o Alentejo, o que significa que tem responsabilidade sobre vários hotéis do grupo com conceitos diferenciados e com alguma distância a separá-los. Isso faz diferença ao nível da ocupação?
Dá diferenciação na ocupação porque, embora o Alentejo seja um destino único, tem depois características regionais e locais que fazem com que a oferta seja diferenciada. Portanto, nós, enquanto no baixo Alentejo, onde surgiu a nossa primeira unidade na região, que foi na altura o Clube de Campo e que é agora o Alentejo Vineyards, trabalhamos muito os vinhos, os azeites e os pacotes gastronómicos, já em Évora, por exemplo, trabalhamos mais o mercado de eventos, o mercado cultural. Qualquer destes casos é um bocadinho diferente de Alter do Chão, onde temos um pequeno resort e trabalhamos tudo o que está relacionado com o cavalo lusitano e a falcoaria. Portanto, todos os hotéis têm uma temática diferente.
Claro que isso provoca públicos diferentes?
Provoca púbicos diferentes, sim, embora a ocupação seja muito alavancada no mercado nacional, aliás, a Vila Galé é uma empresa que desde sempre teve muito mercado nacional, mas, evidentemente, são públicos com interesses diferentes.
De qualquer forma, a ideia de, proximamente, abrir mais uma unidade no Alentejo é porque os hotéis que têm na região estão a correr bem?
Sim, é uma aposta, porque o Alentejo não é um destino óbvio do ponto de vista comercial. É um destino que requer muito acompanhamento, requer um esforço comercial de divulgação junto com a Entidade Regional do Turismo do Alentejo, junto com as Câmaras, porque é preciso esse apoio.
Contudo, é uma aposta no interior de Portugal, que a Vila Galé também tem, de forma a dinamizar mais a oferta turística do interior e tentar canalizar um bocadinho aquilo que são as estadias nos grandes centros urbanos e na costa alentejana, para o interior de Portugal. É essa a aposta que a Vila Galé tem feito.
“Casas de Elvas” nova unidade hoteleira vai abrir no primeiro quadrimestre de 2025
O próximo hotel a abrir no Alentejo é em Elvas, onde vocês já têm um.
Sim, nós abrimos em 2019 o nosso Vila Galé Collection Elvas e agora vamos abrir, no primeiro quadrimestre do ano que vem, as Casas de Elvas. São unidades muito distintas.
As Casas de Elvas é um espaço no interior do casco histórico de Elvas, onde vamos ter quartos e apartamentos. É quase uma pequena aldeia dentro daquilo que é a cidade de Elvas, onde os nossos clientes poderão sentir um bocadinho o que é estar dentro de uma cidade com muita cultura, mas ao mesmo tempo dentro de um casco histórico e sentir toda a história de Elvas.
Elvas é uma cidade lindíssima, muito bem cuidada e que não fica atrás de Évora. Acho que ainda não teve a oportunidade de crescer nem de ter a divulgação que teve Évora, mas está a fazer um caminho de divulgação e, com o apoio da Câmara, penso que dentro dos próximos anos vai chegar a uma oferta muito semelhante àquela que tem em Évora.
O mercado português é claramente o vosso maior mercado no Alentejo?
O mercado português é claramente o nosso maior mercado no Alentejo. Contudo, é necessário fazer um trabalho no mercado internacional, porque quando falamos do mercado dos vinhos e da gastronomia que temos em Beja, quando falamos da falcoaria e da equitação que temos em Alter do Chão, dos museus e do convento que temos em Elvas, precisamos muito daqueles mercados do Canadá, Brasil, Estados Unidos, que são mercados que ligam muito à cultura. E precisamos deles porque são clientes que viajam fora das épocas altas.
Portanto, estes hotéis que eu estou a referir têm boas ocupações ao fim de semana, naquilo que são as épocas especiais e no verão, e depois são mais desafiantes em épocas baixas e durante a semana.
“Acho que às vezes pensamos que já fizemos tudo o que devíamos fazer no mercado espanhol e não é assim. Temos de nos focar novamente no mercado espanhol porque é um mercado com um potencial e não estamos a trabalhá-lo com a devida atenção”
Quando se fala com os agentes ligados ao turismo do Alentejo, nomeadamente à área do alojamento, o mercado espanhol nunca é citado. Não é um mercado forte para o Alentejo?
Penso que poderia ser mais forte. É um mercado que, muitas vezes é de passagem, por isso penso que temos de trabalhar duas áreas distintas em Espanha. Temos de trabalhar aquilo que é raia espanhola, para eles passarem para cá e virem passar talvez um dia, virem almoçar, jantar, fazer casamentos, batizados na nossa hotelaria. Depois temos de trabalhar mais longe, temos de trabalhar mercados como o de Madrid, ou Barcelona, para eles virem e ficarem uma semana no Alentejo.
Acho que às vezes pensamos que já fizemos tudo o que devíamos fazer no mercado espanhol e não é assim. Temos de nos focar novamente no mercado espanhol porque é um mercado com um potencial e não estamos a trabalhá-lo com a devida atenção. Portanto, acho que temos de fazer mais trabalho junto do mercado espanhol.
Nestes primeiros meses do ano, a ocupação das vossas unidades no Alentejo é sensivelmente igual à do ano passado ou teve oscilações?
A ocupação está mais ou menos em linha com o ano passado, mas, obviamente há desafios.
Nós, em Beja, abrimos mais duas unidades: hoje temos o Alentejo Vineyards, temos o NEP Kids, muito dedicado a crianças, onde não entram adultos sem serem acompanhados de crianças, e temos o Monte do Vilar, que é uma unidade só para adultos. Com a abertura das novas unidades, a ocupação, na zona de Beja, concretamente no Alentejo Vineyards, que era a única unidade que tínhamos, desceu um pouquinho porque foi distribuída por estas outras unidades.
Temos pela nossa frente um trabalho importante que é o de tentar levar mais mercados diferenciados até Beja, nomeadamente os mercados de visitas às adegas, aqueles mercados que existem de turismo agrícola e, essencialmente, mercados externos.
Já o hotel de Évora está em linha com o ano passado, diria que até estamos um bocadinho acima do ano passado, e tanto Alter do Chão como Elvas estão praticamente em linha. Por outro lado, o que se tem notado este ano é um aumento grande dos custos, nomeadamente com a energia, com o pessoal, a habitação…, todos estes custos são este ano bastante mais elevados, o que nos provoca também alguma pressão naquilo que são as margens.
Os clientes da Vila Galé conheciam bem o Clube de Campo, em Beja. O que é que mudou? Ou seja, em que é que se transformou o hotel que era o Clube de Campo, com a passagem para Alentejo Vineyards?
Mudou uma coisa fundamental: conseguimos ter naquela herdade uma diferenciação pelo tipo de cliente, que era algo que não tinhamos.
O chamado clube de campo, que é o Alentejo Vineyards hoje em dia, antigamente concentrava todos os mercados, todos os tipos de clientes. Ou seja, no Clube de Campo, tanto tínhamos o casal que queria usufruir da calma do pôr do sol, como as crianças a brincar e a fazer algum barulho. Agora, ao termos estas famílias mais centradas no NEP Kids, e o Alentejo Vineyards mais dedicado a experiências gastronómicas, possibilita uma segmentação que vai agradar mais aos clientes.
O que é importante agora é dizer aos nossos clientes que existe esta segmentação e transmitir lá para fora, para os mercados estrangeiros, que temos ali um hotel que tem tudo para oferecer, diria mesmo que temos uma herdade que tem tudo para oferecer, para todos os tipos de gostos.