“Tecnologia e Sustentabilidade: O novo paradigma do Turismo”, por Alexandra Lavaredas

No cenário de mudança vivido pelo turismo, tanto a nível da relevância dada a práticas de sustentabilidade como das inovações tecnológicas “a integração da tecnologia e da sustentabilidade deve ser encarada como uma prioridade estratégica para os decisores políticos e profissionais do setor do turismo”, conclui a professora do ISCE, Alexandra Lavaredas.
Alexandra Lavaredas
Doutorada em Relações Interculturais e Especialista em Turismo e Lazer
Investigadora em Turismo e Sustentabilidade no IP Leiria
Professora no ISCE
O setor do turismo encontra-se num momento de transformação estrutural, marcado pela crescente relevância das práticas de sustentabilidade. Este movimento, impulsionado por uma consciência cada vez maior dos consumidores acerca das questões ambientais e sociais, exige dos profissionais do setor uma abordagem inovadora e estratégica. Atualmente, os visitantes privilegiam experiências que não apenas minimizam os impactos negativos sobre o meio ambiente, mas que também promovem benefícios tangíveis para as comunidades locais. Neste contexto, a tecnologia assume um papel central ao facilitar práticas ecológicas, otimizar a gestão de recursos e promover soluções sustentáveis acessíveis.
As inovações tecnológicas estão a moldar a forma de fazer turismo. Prestadores de serviços, viajantes e destinos são influenciados pelo novo paradigma do turismo, assente em princípios de sustentabilidade.
No âmbito das operações, a adoção de soluções tecnológicas tem permitido aos fornecedores implementarem práticas mais eficientes e ambientalmente responsáveis. A utilização de dispositivos inteligentes, como iluminação LED, sensores de movimento e termostatos automatizados, está a contribuir para uma significativa redução no consumo energético. Simultaneamente, a integração de fontes de energia renovável, tais como painéis solares, turbinas eólicas e sistemas geotérmicos, tem vindo a diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a aplicação de sistemas avançados de reciclagem, alimentados por tecnologias da Internet das Coisas (IoT), e ferramentas baseadas em inteligência artificial para a gestão de recursos, otimizam o uso de água e energia, previnem falhas operacionais e garantem uma maior eficiência nas operações.
Por outro lado, as ferramentas digitais têm vindo a transformar a experiência dos visitantes, proporcionando-lhes meios para fazer escolhas mais conscientes e alinhadas com princípios de sustentabilidade. Aplicações móveis e plataformas de reservas destacam agora alojamentos e atividades com certificação ecológica, disponibilizando filtros que facilitam a seleção de opções sustentáveis. Além disso, a integração de calculadoras de pegada de carbono ajuda os utilizadores a compreenderem o impacto ambiental das suas viagens, permitindo fazer ajustes informados nos seus planos de viagem. Paralelamente, aplicações que oferecem atualizações em tempo real sobre os transportes públicos ou que promovem soluções de mobilidade sustentável, como bicicletas e trotinetes partilhadas, incentivam deslocações de baixo impacto. Ferramentas inovadoras, como aquelas que conectam turistas a fornecedores de alimentos excedentários, demonstram ainda como a tecnologia pode contribuir para a redução do desperdício alimentar, enquanto apoia as economias locais.
Os destinos, por sua vez, têm vindo a beneficiar de tecnologias avançadas para gerir os fluxos de visitantes e minimizar as suas pegadas ecológicas. A monitorização em tempo real permite uma gestão dinâmica da capacidade de carga das atrações turísticas, evitando a sobrelotação e preservando os recursos naturais. Alertas móveis informam os turistas sobre rotas alternativas ou locais menos congestionados, promovendo uma experiência mais fluida e equilibrada. Em paralelo, a implementação de infraestruturas inteligentes, como redes de transporte público energeticamente eficientes e sistemas de pagamento digital, contribui para a redução das emissões e para uma maior conveniência dos visitantes.
Tecnologias emergentes estão também a redefinir o potencial do turismo sustentável. A utilização de blockchain, por exemplo, assegura transparência nas cadeias de abastecimento, permitindo aos viajantes verificar a autenticidade das credenciais de sustentabilidade de operadores turísticos e alojamentos. A realidade virtual (VR) surge como uma ferramenta disruptiva, oferecendo experiências imersivas que dispensam deslocações físicas, enquanto outros dispositivos, como smartwatches, integram dados em tempo real sobre pegadas de carbono e promovem comportamentos mais conscientes.
Neste cenário de mudança, a integração da tecnologia e da sustentabilidade deve ser encarada como uma prioridade estratégica para os decisores políticos e profissionais do setor do turismo. Esta abordagem permite enfrentar os desafios das alterações climáticas e da pressão sobre os recursos naturais, ao mesmo tempo que reforça a competitividade económica, diferencia destinos e garante a viabilidade das operações a longo prazo. Além disso, promove uma responsabilidade social partilhada, apoiando comunidades locais e reduzindo desigualdades. Ao alinhar-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e responder às expectativas crescentes dos consumidores, o turismo sustentável posiciona-se como uma força motriz para o desenvolvimento equilibrado, capaz de salvaguardar o futuro dos destinos e das gerações vindouras.