Só 55% dos trabalhadores da área do turismo não considera sair do setor

Esta é uma das conclusões do “Estudo Sobre o Mercado de Trabalho em Turismo” realizado pela Universidade de Aveiro para o Turismo de Portugal e para a Secretaria de Estado do Turismo. Salários e horários são duas das razões que levam muitos profissionais a ponderar mudar de atividade, ainda que esta os faça “felizes”.
Sob a coordenação de Carlos Costa, investigador do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro, o estudo, divulgado na sexta feira, 10 de março, teve como objetivo analisar, avaliar e prospetivar o mercado de trabalho no setor do turismo, e respetivos subsetores, a 10 anos.
Felicidade, segurança e perspetivas de abandono do turismo foram três dos vetores analisados no estudo e envolveu um painel de peritos e investigadores, tendo realizado 4.898 inquéritos a trabalhadores e estudantes de turismo, bem como 11 entrevistas a líderes de organizações nacionais do turismo.
Na base da escolha destes vetores está a premissa segundo a qual, para que o turismo tenha sucesso no futuro, tem de ter “trabalhadores que estejam motivados, sejam felizes nos seus locais de trabalho e sintam segurança no emprego”.
Felizes a trabalhar no turismo, mas…
No que se refere à “felicidade”, o estudo concluiu que 85% dos trabalhadores do turismo sentem-se felizes a trabalhar no turismo, variável que é explicada pelo facto de o turismo ser “uma profissão que lida com pessoas e culturas, e é muito eclética”. O estudo conclui também que os trabalhadores do setor “são fortemente dedicados e entusiastas ao nível das funções que desempenham”.

Esta é, no entanto, uma ‘medalha’ que tem o seu reverso e o estudo não omite os problemas apontados por estes trabalhadores, Aliás, o documento frisa mesmo que existem “problemas que urge ultrapassar”, a começar pelos níveis salariais. Aliás, uma percentagem significativa dos trabalhadores do setor afirma mesmo sentir-se “infeliz” ou “muito infeliz”, como aspetos como o salário e os suplementos, as recompensas de carácter financeiro, o pagamento de horas extraordinárias e a evolução na carreira, entre outros.
“Demonstra-se que, efetivamente, a maioria dos salários encontram-se encostados ao salário mínimo nacional, embora o sistema de gratificações faça com que os trabalhadores, em particular os do front-office, possam ver os seus salários complementados com gratificações”, sublinha o documento.

Os baixos salários não são o único problema, a ele se juntando “outros problemas que decorrem de horários inflexíveis que fazem com que a profissão dificulte uma vida familiar e emocional equilibrada”, além de que “a falta de segurança no trabalho é um problema apresentado por um em cada três trabalhadores”.
Se bem que 57% dos trabalhadores inquiridos refiram que se sentem seguros, “uns significativos 34% afirmam que não se sentem seguros. Isto significa que um em cada três trabalhadores deste setor não se sente seguro a trabalhar na área do turismo, o que, refira-se, é um valor bastante elevado que deve ser tomado em devida consideração”, adverte o estudo.
“Questões relativas a desigualdades, em termos de oportunidades, salário e género, são ainda apontadas no estudo. Note-se que as futuras gerações de trabalhadores, corporizadas nos estudantes que se encontram em cursos de turismo, rejeitam veementemente este tipo de formas de desigualdade, nomeadamente em termos salariais e de compatibilidade com a vida pessoal e emocional, o que requer uma atuação rápida e adequada ao nível destas questões”, alerta o estudo.
27% pode sair do turismo no futuro
Somando todos os vetores, não espanta que, ao nível das perspetivas de abandono da área do turismo por parte dos trabalhadores da área, o estudo revele que “55% dos trabalhadores não pretende sair do setor, mas 27% afirmam poder vir a fazê-lo no futuro, enquanto 18% não sabe se o vai fazer”. Os baixos salários, os horários pouco flexíveis e a fraca perspetiva de progressão na carreira, encontram-se entre os problemas mais citados sobre esta matéria.

Por isso, os especialistas responsáveis pelo estudo advertem que “estes dados são particularmente significativos porque, para além da falta de trabalhadores nesta área, podemos vir a observar problemas acrescidos no futuro em termos de mão-de-obra”.
O estudo demonstra que os problemas atuais no mercado de trabalho do turismo não se resolvem meramente dentro do atual paradigma, apontando para a necessidade de se introduzirem novas abordagens no trabalho e no estudo do turismo, que devem incorporar novas cadeias de valor mais associadas aos negócios da gestão e de relações entre pessoas, de qualidade de vida e da felicidade.