“Se de repente, colocássemos um travão a fundo [no turismo] lá se ia o motor” da economia, afirma Francisco Calheiros

No encerramento da VII Cimeira do Turismo, o presidente da CTP reafirmou que não há turismo a mais, que o setor é o “motor da economia” e que deverá continuar a sê-lo se forem cumpridas algumas condições. Defendeu, também, uma gestão equilibrada do território e a criação de novas centralidades para debelar pressões turísticas, situação que as taxas não resolvem, afirmou.
“O que seriam os dados oficiais da economia do país se não fosse o contributo do Turismo?”, foi a pergunta que o presidente da Confederação do Turismo de Portugal deixou no ar na sessão de encerramento da VII Cimeira do Turismo Português que decorreu sexta-feira, em Mafra.
A pergunta de retórica foi formulada depois de Francisco Calheiros ter lembrado que foi o turismo que tirou Portugal da crise após a intervenção da troika, foi “um grande apoio” à recuperação económica no pós-Covid e continua o seu caminho de crescimento.
O turismo, afirmou, “continua a ser o motor da nossa economia. E ainda bem que assim é, porque se agora, de repente, colocássemos um travão a fundo, lá se ia o motor. Pior, estragávamos era o carro todo e teríamos de começar a fazer contas à vida para arranjar um impulsionador alternativo da nossa economia”.
Atento às críticas feitas ao turismo, “que aparecem de todos os lados, por tudo e por nada e por vezes de forma incoerente”, o presidente da CTP alertou que “não podemos nem devemos fazer do excesso de Turismo um problema da dimensão que alguns lhe querem dar” mas também “não podemos virar a cara e devemos focar-nos em arranjar soluções”.
Soluções que, a seu ver, não passam pela banalização das taxas turísticas, mas sim por “uma melhor estratégia da gestão dos fluxos turísticos” e pela aplicação “na prática” do chamado ‘IVA Turístico’, “que está regulamentado por uma portaria, mas que não está em vigor”, ou seja, pela canalização de uma parte do IVA gerado pelo turismo para os respetivos municípios.
“O IVA turístico é uma solução direta, justa e faz todo o sentido”, afirmou a propósito.
Turismo tem condições para continuar a crescer de forma sustentada nas próximas décadas, mas…
Francisco Calheiros acredita mesmo que “há margem” para que o turismo em Portugal continue a crescer, “de forma sustentável nas próximas décadas, criando emprego, desenvolvendo as várias regiões do país, contribuindo para a inovação e a formação e, assim, continuando a ser o motor que tanto o país precisa”.
Para isso, no entanto, há vários “ses” que têm que deixar de o ser. Um deles passa por ter “uma TAP bem gerida”, com hub em Lisboa, manutenção de empregos e “ligações aéreas à diáspora e às ilhas”, situações que a CTP considera ser essencial ter em conta no processo de privatização em que “Portugal tem que ter uma grande capacidade negocial” para que a companhia seja vendida “apreço justo”.
Soma-se a necessidade de “um novo aeroporto a funcionar em pleno” já que a sua não existência é “o maior entrave para o turismo”. Até lá, no entanto, a CTP continua a defender uma solução intermédia, no Montijo, sem a qual “o país vai perder e muito”.
Ainda na área das infraestruturas, Francisco Calheiros apontou a e a necessidade de criação de “uma ferrovia mais moderna e a ligar todo o país” e a ligação Lisboa-Madrid e Porto-Madrid em TGV, “o quanto antes”.
“A ferrovia é determinante, nomeadamente enquanto não temos novo aeroporto. Se nós tivermos uma alta velocidade, por exemplo, Porto-Madrid, estamos a falar em mais de 40 voos diários que não serão necessários realizar e isso dá uma maior capacidade aeroportuária, enquanto o novo aeroporto não existe”, afirmou.
Acresce, por um lado, a necessidade de resolver o problema da mão-de-obra, em que “o recurso à imigração é a única solução” e da criação de condições para que os imigrantes possam ficar em Portugal, e, por outro, a criação de “melhores condições estruturais e financeiras para o funcionamento das empresas”, nomeadamente, no que se refere à carga fiscal.