Se a TAP não abrir novas rotas para o Brasil poderá estar a abrir portas à concorrência, considera Carlos Antunes
Em conversa com os jornalistas portugueses à margem do Festuris que decorreu em Gramado, no estado do Rio Grande do Sul, Carlos Antunes, diretor da TAP para as Américas, falou das rotas da companhia para o Brasil, do aumento de voos que vai reforçar as rotas já operadas e da importância do mercado brasileiro para a companhia, entre outros temas
À margem da 35ª edição do Festuris – Festival Internacional de Turismo de Gramado, que decorreu até domingo naquela cidade do estado do Rio Grande do Sul, Carlos Antunes, diretor da TAP para as Américas, começou por falar sobre a rota de Porto Alegre (capital do estado de Rio Grande do Sul) para dizer que tem uma preponderância de origem de tráfego naquele destino. Avançou mesmo que até outubro, a TAP transportou cerca de 65.000 passageiros nesta rota, +51% do que no período homólogo do ano passado, muito embora em 2022 a rota só tenha sido reiniciada em finais de março/ início de abril.
De acordo com o responsável, 65 a 76% desses passageiros tem origem em Porto Alegre. A restante percentagem é preenchida com vários mercados europeus já que o número de passageiros portugueses é residual: “temos mais italianos do que portugueses”, disse.
Para Porto Alegre, a companhia opera atualmente três voos por semana que passarão a quatro no próximo verão, porque há mercado no Rio Grande do Sul e porque “interessa-nos otimizar recursos”, ou seja, aviões e tripulações e “oferecer maior flexibilidade aos clientes”.
Com o Brasil a ser o principal mercado da TAP, a companhia tem atualmente 80 frequências semanais e passará para 91 no verão, num aumento de cerca de 14% face à oferta atual de lugares. “Este será o maior crescimento em termos das rotas intercontinentais, no próximo ano”, frisou o diretor da companhia para as Américas.
O aumento de frequências dá-se pelo reforço das rotas já existentes: Recife ganha mais três frequências semanais a partir de Lisboa, passando de 7 para 10, enquanto o Rio de Janeiro cresce de 10 para 12. Com mais um voo semanal de e para Portugal vão ficar as rotas de São Paulo (passa de 20 para 21), Belém (de 4 para 5 voos), Brasília (de 6 para 7), Natal (passa a voo diário) Maceió (3 voos por semana, via Natal), Porto Alegre (de 3 para 4) e Salvador, enquanto Belo Horizonte se manterá nos sete voos por semana e Fortaleza manterá também o mesmo número de voos que tem no momento.
A propósito, Carlos Antes frisou “a manutenção dos voos do Porto”, tanto para São Paulo (3 voos por semana) como para o Rio de Janeiro (2 voos por semana) ao longo de todo o ano.
“ … ao invés de introduzir mais aeronaves na frota, a companhia tem vindo a trocar alguns aviões de menor capacidade por outros com maior capacidade, no entanto, “sem novos aviões, não conseguimos introduzir novas rotas, apenas podemos reforçar as rotas existentes”
A aposta forte no Porto faz parte do caderno de encargos da privatização, uma vez que “onde podemos crescer é no Porto, dados os constrangimentos do Aeroporto de Lisboa”, considerou, defendendo que “para crescermos precisamos de novas aeronaves”, só que esta necessidade esbarra com o acordo que a TAP fez com a União Europeia em que existe um teto máximo de aviões que a companhia pode ter até 2025. Por isso, ao invés de introduzir mais aeronaves na frota, a companhia tem vindo a trocar alguns aviões de menor capacidade por outros com maior capacidade, no entanto, “sem novos aviões, não conseguimos introduzir novas rotas, apenas podemos reforçar as rotas existentes”, admite.
Respondendo aos jornalistas, o responsável pelo mercado das Américas considerou que se a TAP não abrir novas rotas no Brasil poderá estar a abrir portas para a concorrência: “É um aceno vermelho”, disse, acrescentando que “onde há procura e não há oferta, alguém põe a oferta”, disse.
Convites de capitais brasileiras para a abertura de novas rotas não faltam à TAP e Carlos Antunes, respondendo a uma questão colocada pelos jornalistas, avançou que em termos da estratégia da empresa, faria todo o sentido aumentar ainda mais a oferta para o Brasil e expandir o número de rotas. A propósito recordou a proposta já antiga de Florianópolis (estado de Santa Catarina) que considerou “um destino interessante” acrescentando que “também conversamos com Curitiba (estado do Paraná).
Para a TAP, disse, seriam dois destinos interessantes porque “não são servidos por voos internacionais diretos” e possibilitariam a ligação com vários destinos europeus, como França, Espanha, Itália, o que segundo o responsável, iria dar à TAP “um diferencial competitivo muito importante”, com “um one stop em Lisboa ou mesmo um one stopover em Lisboa, que nós promovemos muito” e que resulta de uma parceria com o Turismo de Portugal. Neste âmbito salientou que “os passageiros do Brasil são aqueles que mais fazem stopover em Lisboa”, com 47% do total de passageiros em stopover, atingindo os 112.000 passageiros.
LATAM pode vir a ser adicionada como parceiro da TAP para os voos domésticos no Brasil
Em termos da cobertura do território brasileiro, Carlos Antunes considera que, pela parceria que tem com as companhias GOL e Azul, a TAP é hoje “a principal companhia aérea internacional no Brasil e a principal europeia”, oferecendo uma vasta rede de destinos, principalmente a partir de São Paulo, em voos internos operados por aquelas companhias. Considerando que no Brasil existe ainda “um deficit” em termos de conexões domésticas, avançou a possibilidade de “muito em breve” a LATAM vir a ser adicionada como parceiro da TAP para os voos domésticos.
No que se refere a canais de venda, no que toca ao número de passageiros transportados, agências de viagens e vendas online “andam muito perto”. Ainda assim, em valor agregado as agências de viagens são o canal mais importante, uma vez que “vendem tarifas mais altas porque vendem o pacote, organizam roteiros, seja em lazer ou trabalho”. Ressurgimento do bleisure” e um “aumento muito expressivo da quantidade de crianças que viajam em executiva” foram duas das tendências pós-pandemia reveladas pelo diretor da TAP, sendo que a última levou a que a companhia reposicionasse a sua oferta da classe executiva: “recertificámos todos os avião para 13 crianças em executiva, o que representa quase 40% da capacidade” desta classe, especificou.
Relativamente aos destinos mais procurados pelos brasileiros que voam na TAP para a Europa, Carlos Antunes disse serem Portugal, Espanha, França e Itália.
Para 2024 perfilam-se vários desafios que a companhia terá que enfrentar no mercado brasileiro, a começar pelo “aumento muito grande de capacidade dos nossos concorrentes. Nós estamos aqui há 50 anos, sempre estivemos aqui e temos um elevado número de rotas mas há muitos dos nossos concorrentes que entram e saem e recentemente houve um aumento bastante significativo do número de voos quer da LATAM como da ITA e da Air Europa, entre outros, o que faz com que o nosso share se reduza”. Neste âmbito, disse Carlos Antunes, “o grande desafio é conseguirmos entregar tarifas atrativas que nos permitam competir mas nos entreguem a rentabilidade que o nosso acionista [o Estado português] requer e mantenham a coerência do plano de reestruturação e continuem a manter-nos atrativos para um processo de privatização”.
Outro desafio é o de equilibrar as vendas entre as que são produzidas na Europa e as que são produzidas no Brasil: “neste momento, 60 a 65% das vendas são produzidas no Brasil e precisávamos que fosse 50-50”. Para isso “é urgente que o Brasil faça um esforço muito grande de promoção turística internacional”, que seja “consistente e coerente” uma vez que “se houver maior investimento por parte das autoridades de promoção turística, passa a haver procura e o trade turístico entrega-o”.