São Tomé, onde os olhos sorriem e a vida quer-se “leve-leve” (Iª Parte)
“São Tomé e Príncipe tem tudo, só não tem comparação”, Hilário Sousa guia da Mistral Voyages.
Ama-se ou odeia-se, mas ninguém lhe fica indiferente, isso é certo e sabido. Rodeado de uma beleza quase primitiva, onde o verde da imponente vegetação pinta a paisagem, enquanto os olhos se deixam encantar com os vários tons do azul do mar, São Tomé “sorri-nos” em cada rosto que connosco se cruza, sempre ao ritmo do “leve-leve” e ao som de uma das melodias do grupo Calema. Partimos de Lisboa, a convite do operador turístico Sonhando, para nos embrenharmos durante sete dias neste arquipélago africano, no Golfo da Guiné.
Connosco partem também nove agentes de viagens GEA, de norte a sul do país, um representante do Grupo GEA e outro do operador turístico Sonhando. Para quase todos é a primeira vez que visitam São Tomé e Príncipe, para outros como eu será a segunda experiência. Por isso começo já por dizer que há sempre coisas novas por descobrir nestas ilhas.

Depois de quase seis horas e meia de voo, em avião da TAP (pode fazer também a viagem na STP Airways), chegámos ao Aeroporto Internacional de São Tomé. À chegada espera-nos um “mar de gente”. Vêm porque sim, apenas para ver quem chega. Há sempre quem tente ajudar-nos com as malas, mas a amabilidade requer uma pequena gratificação no final. Rumamos até ao Pestana São Tomé Hotel, localizado na baía de Ana Chaves. Dista apenas uns 10 minutos do aeroporto e 1 km do centro de São Tomé. Com 115 quartos, incluindo 30 suites júnior e uma presidencial, foi dali que partimos em direção ao sul da ilha.
O dia começa cedo, mas o calor húmido já se faz sentir. São Tomé tem um clima tropical húmido e as temperaturas rondam entre os 21°C e os 27°C. Na verdade existem apenas duas estações no ano por aquelas bandas: a seca ou gravana (de junho a agosto) e a da chuva nos restantes meses. Mas não se deixem enganar, durante o ano existem pelo menos, em média, 1.760 horas de sol. Quando chove… bem, chove mesmo, mas logo passa.
Rumo ao Sul, passando pela Roça Água Izé
Banhado pelo oceano atlântico, o arquipélago de São Tomé e Príncipe é composto, para além destas duas ilhas, por uma dezena de ilhéus, entre eles o das Cabras, o de Santana, o das Sete Pedras ou o das Rolas que tivemos oportunidade de visitar. As praias desfilam à nossa frente, todas paradisíacas. As palmeiras imponentes e toda a vegetação que as circundam deixam-nos sem respiração. Entrar mar adentro, quase sempre sem ondas e com uma temperatura bastante amena são requisitos mais do que cumpridos. Mas antes de molharmos os pés nas praias das Sete Ondas (esta sim, boa para quem gosta de praticar surf) e na Micondó, e de uma breve passagem pela Boca do Inferno – onde, reza a lenda, o Barão de Água-Izé entrava na água no seu cavalo branco para sair em Cascais, também na Boca no Inferno, fizemos uma visita à Roça Água Izé -, no distrito de Cantagalo.
Esta que é uma das roças de cacau mais antiga de São Tomé merece paragem obrigatória a quem visita o segundo país mais pequeno de África. Em tempos uma verdadeira roça-cidade, onde não faltavam a casa do patrão, a casa do feitor, as sanzalas ou casas comboio e dois hospitais, que ainda ali se encontram desde o tempo do colonialismo, hoje ruínas, mas que servem de residência a várias famílias.
Mal estacionamos somos rodeados de crianças em busca de “um doce”. Desta vez levámos cadernos e canetas. Seguem-nos enquanto fazemos uma pequena visita com os guias Moisés e Engrácio. Explicam-nos que tiveram formação para tal e que no final quem quiser pode deixar uma gratificação.



Com uma extensão de 80 quilómetros quadrados, 12 km de costa e 4.800 hectares de área cultivada, a Roça Água Izé era pertença de João Maria de Sousa e Almeida, um são-tomense descendente de uma família mestiça abastada de São Salvador da Baía, que em 1855 introduz a cultura de cacau na ilha.
É a única roça em São Tomé que possui dois hospitais, ambos construídos na parte mais alta, para evitar o contágio da malária com os restantes habitantes da fazenda. Ainda é possível ver o edifício mais antigo, mas o que nos chama realmente a atenção é a imponente estrutura do segundo hospital, construída em 1928, em forma de tartaruga e que hoje alberga várias famílias.
Atualmente, os seus habitantes vivem essencialmente da agricultura, da criação de gado, da pesca e do turismo. Mas a seu tempo o futuro da Roça Água Izé poderá mudar. É que a Associação Roça Mundo de São Tomé e o Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura de Cabo Verde – M_EIA acabam de apresentar ao primeiro-ministro de São Tomé, Patrice Trovoada, o projeto de transformação da Roça Água Izé, num polo de desenvolvimento, cultural, histórico e turístico.
À frente da “Causa Água Izé” está o conhecido chef e apresentador do programa televisivo “Na Roça com os Tachos”, João Carlos Silva, o mesmo que recuperou a Roça São João dos Angolares, que também tivemos oportunidade de visitar durante esta viagem. Para já, de 27 de julho a 3 de agosto, Água Izé vai ser palco de um seminário internacional para debater este projeto.
Do menu-degustação na Roça São João dos Angolares até ao ilhéu das Rolas
Ninguém ruma a sul sem fazer uma paragem “obrigatória” para um menu-degustação na Roça São João dos Angolares, onde também é possível pernoitar. Nós ficámo-nos pelas iguarias são-tomenses e olhem que não são poucas. Como já atrás referimos é o chef João Carlos Silva que coloca a mão na massa, acompanhado pelos jovens que moram na cidade. Os produtos? Bem, esses são da terra, numa versão mais moderna e gourmet.
A refeição tem o custo de 25€ por pessoa, sem bebidas, mas vale a experiência, que começa logo por uma explosão de sabores. Primeiro somos convidados a degustar um pouco do fruto do cacau e um pouco mais à frente uma pequena colher com pimenta rosa, gengibre e chocolate seguida de um gole de vinho do Porto. A partir daqui prepare-se para um desfilar de sabores, onde não vão faltar o atum, mandioca, fruta pão, diversas variedades de banana, maracujá, entre muitas outras iguarias. Aproveite a vista deslumbrante sobre a Baía de Santa Cruz. Na roça pode ainda visitar uma pequena galeria de arte, com vários objetos e quadros.
De regresso à estrada, o dia já vai longo, mas ainda conseguimos ver um dos pontos mais altos da ilha, o Pico do Cão Grande. Em forma de agulha, com 663 metros de altura, esta elevação de origem vulcânica, faz parte do Parque Nacional de Ôbo e é impossível de passar despercebida.
O que também não passa despercebido é o mau estado da estrada que nos leva até à Praia Inhame. Acabámos mesmo por ter um furo no regresso e aqui deixo-vos um pequeno conselho. Se optarem por alugar um carro para visitar a ilha é bastante seguro, mas como as estradas não são iluminadas, sugiro que aluguem o carro juntamente com um motorista/guia. Ninguém melhor do que eles para vos contarem um pouco da história de cada local e para vos conduzirem da melhor maneira até ao vosso destino. No nosso caso levámos o Hilário Sousa, da Mistral Voyages e para além da simpatia e conhecimento, rapidamente tratou do furo do pneu e lá voltámos à estrada.



Chegámos à Praia Inhame já noite cerrada, aproveitámos para pernoitar no Praia Inhame Eco Lodge, um pequeno resort que aumentou os seus iniciais 18 bangalós para os atuais 25. As pequenas casas de madeira têm um terraço e contam com casa de banho privativa. No restaurante é possível degustar de um pequeno-almoço continental, enquanto as outras refeições incluem produtos de São Tomé.



Se não é dado à “bicharada”, então talvez não seja o sítio ideal para ficar. Ainda assim, vale a pena passar ali uma noite, principalmente se houver alguma tartaruga a desovar, como foi o nosso caso. Daqui a dois meses regressamos para ver o eclodir dos ovos.
São seis da manhã e o dia já brilha lá fora, do meu terraço avisto a vegetação e uns passos à frente as ondas do mar fazem-se ouvir “leve-leve”, como em tudo nesta terra. A praia é, mais uma vez, paradisíaca. O sol vai levantando e deixa nele um rasto de prateado nas águas límpidas. Lá mais à frente está um pequeno ilhéu. É o ilhéu das Rolas. A travessia faz-se de barco e é lá que se encontra o marco do Equador. Foi o navegador e historiador português Gago Coutinho, que durante uma missão geodésica em São Tomé entre 1915 e 1918 assinalou que por ali passava a linha do Equador que separa o hemisfério norte do hemisfério do sul. Em 1936 acabaria por ser erigido o marco do Equador, que assenta numa base que representa o mapa-mundo.



E claro está, também nós quisemos pôr um pezinho em cada hemisfério para a fotografia da praxe. Apesar da chuva intensa e de alguma trovoada, o passeio continuou por este pequeno pedaço de terra, com apenas três quilómetros quadrados, onde vivem 150 pessoas. Até há pouco tempo viviam essencialmente do turismo, uma vez que o Grupo Pestana ali tinha um resort. Com a pandemia do Covid-19 o empreendimento acabou por encerrar e o seu adiantado estado de degradação não deixa prever a sua abertura para breve.
Ainda assim existe uma pequena escola primária, enquanto que 31 crianças se deslocam todos os dias de barco até São Tomé para frequentarem o segundo ciclo.
Já a nossa visita ao pequeno ilhéu ficou marcada pelo delicioso almoço que tivemos oportunidade de degustar na casa de alguns habitantes da ilha. Uma diversidade de peixes apanhados poucas horas antes de ali chegarmos, acompanhados por arroz de cenoura, fruta pão frita e banana frita. Regados, como não podia deixar de ser, por uma cerveja local Rosema, bem fresquinha. Para sobremesa, maracujá e jaca.
Continua…
Nota: O Turisver visitou São Tomé a convite do operador turístico Sonhando. De realçar, que as autoridades de São Tomé levantaram a obrigação de apresentação de certificado de vacinação ou teste negativo ao Covid-19, no dia 11 de fevereiro.











