São Tomé: Do Norte ao Centro cabe um mundo de sensações lá dentro (2.ª parte)
De regresso a São Tomé, voltámos à estrada em direção a Norte. O dia já vai longo por isso nada melhor do que pernoitar no hotel Club Santana Beach & Resort. São 31 bangalós distribuídos ao longo da costa, contando ainda com uma pequena sala para massagens, piscina, bar de praia, restaurante, entre outros serviços, de que lhe falaremos mais pormenorizadamente num outro artigo.
Por Sandra M. Pereira
Mais um raiar do dia, na bagagem trazem-se roupas e material escolar para entregar na escola primária de Santana. É hora do lanche matinal e o burburinho das crianças é enorme. Fotografias, sorrisos e agradecimentos pelas pequenas ofertas e lá partimos em direção à Praia dos Tamarindos para umas merecidas braçadas. Pelo caminho tempo para avistarmos as mulheres a lavar roupa nos rios, as pequenas aldeias que desfilam umas atrás das outras e visitar as bancas das frutas exóticas prontas a serem degustadas.
Seguem-se as praias do Governador e a das Conchas. Desta vez não visitámos o Padrão dos Descobrimentos, onde os navegadores portugueses João de Santarém e Pêro Escobar entraram pela primeira vez em São Tomé, por Anambó, em 1470. Logo à frente temos a Lagoa Azul, que em dias de sol faz a água do mar brilhar ainda mais. Mais uma paragem, mais um mergulho e algumas compras de artesanato local para trazer na bagagem.
Já na praia de Fernão Dias encontramos um monumento em homenagem aos mártires do Massacre de Batepá, a 3 de fevereiro de 1953 e que foi erigido em 2015. Um massacre cometido pelas tropas coloniais portuguesas e cujo número de mortes permanece incerto.
A fome já aperta, por isso nada melhor do que parar em Neves, no Restaurante Santola, para, claro está, comer umas belas santolas, acompanhadas de pão torrado ou banana frita e como não podia deixar de ser uma cerveja Rosema gelada. Tempo ainda para uma breve paragem no hotel Mucumbli para um café, acompanhado por uma vista de cortar a respiração.
Ir ao Norte e não passar naquela que é considerada a “Estrada mais bonita do mundo” é quase um sacrilégio. É a segunda vez que aqui paro e realmente a sua beleza é ímpar. As palmeiras e coqueiros que ladeiam a estrada, a mesma que percorre o pequeno túnel que dá azo a tantas fotografias, são dignos de um postal. Se tiver tempo e disposição arranje umas dobras, moeda oficial de São Tomé (1€ = 25 dobras) e dê aos meninos que lhe oferecem um coco partido no momento.
O dia já vai longo e está na altura de regressarmos, espera-nos a cidade de São Tomé e uma noite temática no hotel Omali, do grupo HBD, onde pudemos degustar alguns dos pratos típicos são-tomenses, como o Molho no Fogo, Calúlú, Feijão à moda da Terra, e uma mousse de chocolate divinal. O hotel conta com 30 quartos e o seu nome significa “mar e fonte de vida”. Próximo da praia do Lagarto fica muito perto do aeroporto, mas também do centro da cidade, onde continuaremos a nossa visita.
Da Cascata de São Nicolau à Casa-Museu Almada Negreiros
O dia amanhece cinzento e ameaça chover, mas ainda há muito para ver e os dias vão escasseando. O nosso guia habitual hoje está para Sul, acompanha-nos o senhor Luís, também da Mistral Voyages. Vamos até à Roça Monte Café, uma das mais antigas do arquipélago, fundada em 1858. É aqui que se concentra a maior plantação de café arábica do país e é também aqui que podemos visitar o Museu do Café e ficar a saber um pouco mais sobre a sua história. As entradas têm o preço de 2€, mas para além da visita pode ainda beber um café.
A visita ao museu é conduzida por uma jovem guia, que nos faz um breve enquadramento da roça, explicando que atualmente são 14 as aldeias que lhe pertencem, com um total de cerca de 3.000 habitantes, uma escola primária, o antigo edifício do hospital que hoje funciona como Posto Médico três vezes por semana e a Cooperativa do Café. À semelhança de outras roças, vários são os edifícios espalhados por aquela área que davam abrigo a trabalhadores, ao feitor e até mesmo ao patrão. A Casa do Patrão, no entanto, e devido ao seu avançado estado de degradação acabou por ser demolida em 2017.
Uma das antigas fábricas do café deu lugar ao atual Museu, que pertence ao Estado, um projeto social da Direção do Turismo, com o objetivo do desenvolvimento da comunidade.
Voltámos à nossa carrinha. Temos encontro marcado com a Cascata de São Nicolau, uma das mais imponentes quedas de água de São Tomé, com 60 metros de altura. Pela estrada batida e curvilínea que nos leva ao nosso destino acompanha-nos um bando de crianças. Trazem na mão pequenos cones feitos com uma folha de uma árvore, cheios de framboesas selvagens. Já nos tinham avisado que assim seria. Parámos por breves minutos para comprarmos os frutos em troco de meia dúzia de dobras. Algumas presenteiam-nos com flores, que a princípio pensámos ser mais uma forma de obterem dinheiro, mas não, são mesmo “um presente” como nos gritam os pequenos.
Mais alguns metros adiante, lá do alto, cai a pique uma bela cascata. Fazemos algumas fotografias como recordação. Quisemos descer pelo pequeno caminho que nos leva mesmo ao pé daquela queda de água, mas os degraus estão em mau estado. Uma pena e mais uma infraestrutura a juntar ao rol de “remendos” que deveriam ser tidos em consideração por quem quer atrair o turismo para o destino.
A chuva, que já vinha a ameaçar o passeio há algumas horas, começa a cair, mas ainda tivemos tempo de chegar à Casa-Museu Almada Negreiros, na Roça Saudade. Um projeto levado a cabo por Joaquim Victor, um são-tomense nascido também na mesma roça, em homenagem ao conhecido pintor Almeida Negreiros, que ali nasceu a 7 de abril de 1893.
A funcionar desde 2015, as ruínas da casa dos pais de Almada Negreiros deram vida a este espaço, que inclui um restaurante, uma galeria de arte e alguns bangalós espalhados para pernoitar. Durante as escavações do local foram encontrados alguns objetos utilizados pela família do artista, que se encontram também em exposição.
Nós tivemos oportunidade de degustar um menu confecionado com produtos locais, enquanto ouvíamos a chuva a cair abundantemente. Mágico é o que lhe podemos dizer.
De regresso à capital homónima de São Tomé dava-nos jeito um anfíbio tal era a quantidade de água que corria pelas ruas e que rapidamente ali se acumulou, mas depressa chegámos ao hotel Omali para mais uma noite de sono. No dia seguinte esperava-nos uma outra experiência.
O rebuliço do mercado municipal e o que visitar na cidade
Acordar cedo em São Tomé não é muito difícil, por isso foram raros os dias em que pelas 6h00 não estava já mais do que acordada. Pequeno-almoço tomado, onde não faltam as panquecas com farinha de fruta pão (glúten free), os vários sumos de fruta natural e a famosa omeleta de micocó (uma erva com diversos fins medicinais), está na hora de mais uma aventura e um pequeno city tour pela cidade.
Passear pelas ruas de São Tomé é uma animação constante. São as gentes que se cumprimentam entre si, são os moto-táxi que transportam clientes a toda a hora, as mulheres com alguidares à cabeça e os filhos às costas. As cores, os cheiros, os barulhos, a música, tudo se mistura na azáfama própria de uma cidade. Mas é no mercado que tudo se transforma. O mercado municipal de São Tomé fica bem no centro da cidade, mas com a pandemia Covid-19, o Governo acabou por levar o mercado para a periferia da cidade, mais propriamente para o sítio de Bobo Forro.
Nós entrámos no ritmo das gentes da terra e deambulámos de banca em banca, comprando alguns produtos nacionais. Ali encontra-se de tudo, desde frutas exóticas, legumes, carne e peixe, a preços para nós europeus bastante acessíveis. É que o ordenado mínimo de um são-tomense na função pública é de 100€, aproximadamente.
E quando pensamos que o mercado já terminou, logo damos conta mais adiante de outras tantas bancas com roupas e sapatos em segunda mão, mas também medicamentos e mercearias. E ainda houve tempo para um pezinho de dança, acompanhado pelas gargalhadas das vendedoras e um “ché, branco a dançar…” [risos]
Compras feitas (haja malas para trazer tanta coisa para Portugal), voltámos à estrada para um breve city tour pela cidade. Se quiserem fazer a pé também é possível.
Passámos pela Praça do Povo, entre a Avenida da Independência e a Avenida 12 de julho, onde se encontra o Palácio Presidencial, também conhecido por “Palácio do Povo”, residência oficial do Presidente da República de São Tomé desde 1975, aquando da independência do país.
A seu lado está a Sé Catedral de Nossa Senhora da Graça de São Tomé. A sua construção remonta ao século XV, tendo sido reformada em 1576 e 1578. Em 1874 foi restaurada por iniciativa da população e em 1956 sofreu nova reforma.
Continuando o nosso passeio passamos pelo Forte de São Sebastião, construído em 1575 pelos portugueses, onde alberga atualmente o Museu Nacional. Se tiver oportunidade faça uma visita, porque vale bem a pena.
E ainda houve tempo para um cafezinho na Loja Diogo Vaz, na Avenida Marginal. Ali encontra uma variedade de chocolates, gelados, bombons e pastelaria fina. Um regalo para os olhos e o estômago.
Quanto a nós, vamos preparar a mala para viajarmos até à ilha do Príncipe. Até já…
Leia aqui a 1ª parte da reportagem sobre a viagem a São Tomé e Príncipe.
Nota: O Turisver visitou São Tomé a convite do operador turístico Sonhando