Rui Pinto Lopes: “Nós conseguimos construir viagens na memória e esse é o nosso grande trunfo” face às máquinas

No painel “Virtudes, fragilidades e desafios do setor da distribuição”, do 49º Congresso da APAVT que terminou sábado, em Huelva, Rui Pinto Lopes, administrador da Pinto Lopes Viagens, abordou questões como as relações entre as agências de viagens e as companhias aéreas, a IA, a construção de produto com mais-valias para os clientes e os custos da sustentabilidade.
Começando por afirmar que “ser agente de viagens não é algo fácil” e que “enfrentaremos sempre obstáculos”, Rui Pinto Lopes considerou que as companhias aéreas “estão a fazer o seu caminho” mas que a relação entre estas e as agências de viagens “é a de sempre”, é como a de 2 irmãos que “estão sempre “pegados” mas não podem viver um sem o outro.
“As companhias aéreas querem os nossos contactos, querem o contacto dos nossos clientes mas, por outro lado, podem, efetivamente, sugerir-nos coisas”, como um hotel ou um rent-a-car. Considerando que este é “um obstáculo que não vamos ultrapassar de forma linear” defendeu que vai ser ultrapassado “através daquilo que nós sabemos fazer bem, que é conhecer o cliente”, “olhá-lo nos olhos”, porque por mais algoritmos que surjam, o agente de viagens tem uma vantagem que nenhuma máquina tem ainda, que é a memória: “Nós conseguimos construir viagens na memória e esse é o nosso grande trunfo”.
Para Rui Pinto Lopes, a distribuição pura e dura deve aprender com a inteligência artificial, a construir, a procurar novas soluções, a trabalhar mais rápido, mas as companhias aéreas não substituem o contacto com o cliente que sabe que quando uma coisa corre mal, tem para quem ligar e que o vai atender 24 horas por dia.
“Todos os agentes de viagens, mesmo os mais generalistas, conseguem acrescentar camadas ao produto”
Na construção de um produto há que ir acrescentando camadas e experiência, que o mesmo é dizer acrescentar valor e, como disse, isso é algo que a Pinto Lopes Viagens faz com os seus circuitos culturais que, no entanto, considera servirem um nicho de mercado.
Sobre os nichos, afirmou que “têm virtudes e têm defeitos – não são tudo rosas”, mas sejam eles as viagens culturais ou o corporate, por exemplo, “conseguem trabalhar de uma forma muito objetiva, porque o seu rumo não é laranja, é um gomo da laranja, e é muito mais fácil trabalhar o gomo e focar nele a atenção do que trabalhar a laranja completa até porque não conseguimos ver o outro lado da laranja da perspectiva em que estamos”.
Ainda assim, defendeu que todos os agentes de viagens, mesmo os mais generalistas, conseguem acrescentar camadas ao produto, seja um transfere privado ou uma visita guiada exclusiva, seja o aconselhamento de um restaurante ou prato específico no caso de um cliente que seja amante da gastronomia” e aí, disse, “a inteligência artificial acrescenta um valor brutal porque temos de saber ler quem está à nossa frente e servirmo-nos das ferramentas que estão à nossa disposição (como a Inteligência Artificial, mas há outras), para entregar ao cliente o que ele quer”.
Custo da sustentabilidade continua a ser problema para o cliente
Porque o mundo está a mudar “de uma forma estonteante”, a Pinto Lopes viagens está a tentar trilhar um novo caminho, que é o das viagens mais sustentáveis, em comboio, mas afirmou tratar-se de um produto em que tem “dúvidas” porque o mercado olha, diz que é muito bonito mas pergunta quanto custa. “Temos todos que trabalhar na sustentabilidade das nossas empresas mas o cliente, no terreno, tem um grande problema que é o custo desta sustentabilidade”, sublinhou.
Ainda a propósito desta questão, disse que “nós temos que adaptar” e “perceber o que é que o nosso cliente está disposto a adaptar porque não adianta vendermos ovos ao vegan que não pode ver ovos à frente”. Por isso, continuou, “não adianta ter uma viagem de comboio, numa tentativa de deixar uma pegada ecológica menor, porque os grupos deixam uma pegada ecológica potencialmente muito menor do que o turista isolado que não tem essas preocupações”. Por isso considerou que fomentar uma pegada ecológica mais pequena junto do cliente, vai ser “um processo lento” e “não vai ser num ano nem em dois” que os turistas vão passar a preferir o comboio ao avião ou autocarro.
Referiu igualmente os problemas levantados à mobilidade dos turistas em cidades como o Porto que, com “a desculpa de que querem tornar o centro da cidade mais ambiental”, proibiram o acesso a autocarros de turismo. “Mas como é que a senhora de 80 anos que vem da Ásia com uma mala maior que ela, vai andar a pé 3Km até ao hotel?”, interrogou, deixando ainda uma questão, muito aplaudida, de resto, “se for de táxi e forem 40 pessoas, vão 40 táxis? Não sei se isto é mais ambiental…”.
Afirmando que quem manda não pode ser autista, considerou ser “essencial construir soluções que sirvam a todos, a quem vive nas cidades, a quem vive nos países, a quem nos visita” porque “não há turistas a mais, o que há é uma distribuição que não estava feita, ou que pode ser melhorada” e “por vezes sentimos que isso não está a acontecer”.