Ricardo Cardia: O objetivo da Viagens El Corte Inglés é “expandir a marca em Portugal”
Em entrevista ao Turisver, Ricardo Cardia, diretor-geral da Viagens El Corte Inglés em Portugal, faz o balanço dos primeiros meses do ano, período em que as vendas “têm corrido muito bem”, fala das sinergias entre as várias empresas do Grupo que estão já no nosso país e das alterações que estão a ser feitas no online, entre outros temas.
Como é que têm corrido as vendas nas vossas agências?
Genericamente têm corrido muito bem. Nós temos duas tipologias de agências, as dos centros comerciais que são as nossas ex-libris, onde temos um conjunto de clientes fidelizados que sabe que ali tem todo o serviço e que se colam muito à nossa imagem em Portugal de um posicionamento médio-alto, de clientes que querem serviço e bom atendimento. Depois, temos as outras agências onde fizemos uma transformação grande no último ano porque eram agências mistas, que trabalhavam corporate e lazer mas que agora trabalham exclusivamente lazer e nota-se uma maior disponibilidade e um aumento considerável do negócio, assumindo que aqui há um outro tipo de cliente e que concorrem com outras agências no mercado.
Nos últimos tempos têm vindo a apostar, até com a vossa presença na BTL, na imagem da Viagens El Corte Inglés. Isso tem-se traduzido em que iniciativas?
Um dos objetivos desde que entrei foi tornar a marca mais próxima do público mas essencialmente do mercado e dos nossos parceiros de negócio e fornecedores que sempre trabalharam connosco e sempre nos deram as condições de que necessitámos mas que por vezes é necessário consolidar. Nesse sentido, temos estado totalmente abertos a tudo o que são iniciativas dos nossos parceiros, estando representados em todos os eventos e ações dos nossos fornecedores. Penso que hoje estamos mais perto tanto do cliente, porque temos mais conhecimento, como dos nossos fornecedores porque temos outra visibilidade e outra disponibilidade para negociar.
Agora, que já se passou mais tempo sobre a BTL, que análise faz da vossa presença?
Nós fizemos aquela análise praticamente em cima da BTL e muitas vezes essa primeira análise é feita mais com o coração do que com a cabeça, mas a verdade é que passaram dois meses e não há dúvida nenhuma de que foi uma experiência única para toda a equipa, uma experiência única em termos de vendas, e uma experiência incrível em termos de imagem. Havia muita gente que não conhecia a Viagens El Corte Inglés e passaram a conhecer, o que nos ajuda muito na venda, não só neste ano, mas na consolidação da marca. Tive a oportunidade de partilhar com muitos colegas que duvido que houvesse alguém que ao entrar na feira visse a marca El Corte Inglés que não quisesse saber o que estávamos ali a fazer. Fomos consultados, tivemos um retorno muito interessante e penso que também foi positivo para os nossos parceiros.
Tem havido tendências nas vossas vendas para além dos destinos mais normalizados como ilhas espanholas, Cabo Verde e Caribe?
Diria que sim. Nas nossas agências dos centros comerciais que vendem outro tipo de produto, tem-se mantido uma tendência normal para as grandes viagens e para destinos mais exóticos e não tão normalizados. No resto, assumindo que muitas vezes temos um posicionamento diferente, e muitas vezes não querendo ir a jogo com aquilo que o mercado nos obriga a vender, tentamos sempre trabalhar no sentido de direcionar para os produtos que consideramos mais interessantes. Os operadores que apostam em nós acabam por ter uma capacidade de negociação e de abertura para trabalhar nesse sentido e, por outro lado, há uma enorme disponibilidade para trabalhar um segmento que está, cada vez mais, para ser desenvolvido em Portugal que é o da pré-venda, por um lado, e a última hora, por outro.
“Sendo nós um grupo que está presente em vários mercados, em vários segmentos e com várias marcas, o online é uma área muito madura no nosso grupo e de que a Viagens El Corte Inglês vai usufruir e estar completamente atualizada”
Que importância tem a pré-venda na Viagens El Corte Inglés este ano?
Nós queremos antecipar cada vez mais as nossas vendas, não só porque esse é o posicionamento de muitos dos nossos clientes mas também porque acho que para o cliente fazer um bom negócio, seja a nível de condições como de atendimento, é muito importante conseguirmos fomentar a venda antecipada e temos muita vontade de criar algumas campanhas nesse sentido e que os operadores consigam definir o seu produto antecipadamente para nós os podermos ajudar.
Para vocês, o online é um indicador para que o cliente vá depois à agência ou já é uma ferramenta de reserva efetiva do cliente?
Sendo nós um grupo que está presente em vários mercados, em vários segmentos e com várias marcas, o online é uma área muito madura no nosso grupo e de que a Viagens El Corte Inglês vai usufruir e estar completamente atualizada. Estamos neste momento num processo de atualização e de mudança da nossa página web onde vamos ter uma ferramenta nova de pacote dinâmico, uma ferramenta de cruzeiros, uma ferramenta nova para venda de hotelaria e, naturalmente, irá ajudar imenso e incrementar não só a nossa posição no mercado como online mas também a oferta do produto que consideramos estratégico na empresa. Durante o ano de 2023, irá existir uma grande inovação naquilo que é a nossa página online.
Desde que está à frente da empresa em Portugal, abriram uma agência nos Açores. Abriram mais alguma?
Abrimos uma loja em Loures/Sacavém, estamos atentos ao mercado e dada a dimensão que temos em Espanha queremos fazer também o nosso projeto de expansão em Portugal, identificando alguns locais que poderão ser estratégicos para a nossa posição e, quiçá, tematizar com alguns parceiros uma ou outra ideia que nós temos para, não apenas especializar a nossa venda em determinado segmento mas também apoiar uma determinada marca que não tem comercialização ao público e, neste caso, ajudar naquilo que é a venda direta ao cliente final com a exclusividade de um tour operador.
“Muitas vezes é preciso rentabilizar para depois poder crescer, mais do que vender para depois rentabilizar e a nossa estratégia tem sido rentabilizar para podermos crescer de forma sustentada”
Que empresas do Grupo é que já estão em Portugal e como é que se desenvolvem as sinergias entre essas empresas?
Em Portugal temos as Viagens El Corte Inglés que tem uma dimensão quase nacional, temos a Logitravel que é a agência de viagens número um em vendas online em Portugal no espetro de um produto mais abrangente, temos a equipa de contratação Travel Team que faz a contratação da hotelaria para todo o grupo, temos a Smytravel que é uma ferramenta que oferecemos às agências de viagens para poderem ter todas as condições e uma garantia de serviço e de qualidade de produto que caracteriza todo o Grupo Viagens El Corte Inglés e temos também alguns canais de distribuição hoteleira como a Smyrooms que é o nosso bedbank que está entre os principais distribuidores de hotelaria nacional como fornecedor e como comprador.
Creio que não vamos ficar por aqui, temos alguns projetos em carteira para entrar cada vez mais no mercado nacional com uma proposta mais integrada e um produto mais diversificado.
O que é exactamente a Smytravel?
A Smytravel é uma ferramenta que partilhamos com as agências de viagens que queiram ter acesso ao produto e às condições que a Smytravel oferece. Falo de grupos de gestão, de empresas individuais, de pequenos grupos. A ideia é terem acesso a um produto e a um pereço competitivo e que, de certa maneira, estejam dentro daquilo que é o universo El Corte Inglés.
Estão dentro do orçamentado em termos de receita neste período?
Estamos. Naturalmente, como qualquer empresa no pós-pandemia, fizemos uma transformação, seja para crescer, rentabilizar ou criar condições para outros voos. No nosso caso, o que fizemos foi redimensionar os nossos custos, racionalizar o que era a nossa operação, tomámos algumas decisões estratégicas no sentido de cortar alguns custos e otimizar a nossa operação em Portugal e depois disso fizemos alguns investimentos que considero que vão ser muito importantes para o futuro.
Muitas vezes é preciso rentabilizar para depois poder crescer, mais do que vender para depois rentabilizar e a nossa estratégia tem sido rentabilizar para podermos crescer de forma sustentada. Neste momento, temos uma equipa mais curta. Mais focada, mais dinâmica e naturalmente que faz face às três áreas mais importantes do Grupo em Portugal, que são a área do lazer, a do business travel em que estamos a crescer consideravelmente e a área de grupos em que queremos ter uma posição relevante em Portugal.
No momento, qual é a sua maior ‘dor de cabeça’?
A maior preocupação que tenho não é olhar para o futuro próximo porque este é um ano que a maior parte de nós vaticinava como difícil, complicado, com instabilidade e, algo surpreendentemente, o negócio tem sido incrível e estamos muito satisfeitos com o que temos em carteira e as perspetivas de crescimento que temos para este ano. A minha preocupação é a médio e longo prazo porque sinto que depois destes anos de vingança vai naturalmente existir uma ressaca que poderá prejudicar todo o setor e todos os agentes do setor. Do nosso lado, vamos estar atentos e vamos atuar em conformidade, sempre com o objetivo de expandir a marca em Portugal, criar condições para que as pessoas que estejam dentro do universo Viagens El Corte Inglés possam crescer e estar focadas no crescimento da empresa e apoiar os nossos fornecedores.