Empresa proprietária do Corpo Santo Hotel “vira” grupo hoteleiro, anuncia Pedro Pinto
Na segunda parte da entrevista com Pedro Pinto, diretor-geral do Corpo Santo Lisbon Historical Hotel, falámos dos investimentos que a empresa proprietária do hotel está a fazer em novas unidades hoteleiras em Lisboa, no Porto e em Luanda e da passagem desta a grupo hoteleiro, com o nosso entrevistado a acumular as funções de diretor-geral de Operações do grupo.
O Corpo Santo Lisbon é detido por uma empresa, a Great Creation, mas agora vai ser criado um grupo hoteleiro, não é assim?
É verdade e está a ser um desafio grande, ainda estamos a habituar-nos aos passos que vamos dar e as dinâmicas que vamos ter no futuro. Sempre pensámos que haveria um momento em que iriamos crescer como empresa mas não sabíamos quando. Já tínhamos um projeto em Angola, que vai ser finalizado este ano, em finais de Novembro, que é um hotel de quatro estrelas em Luanda, resultante de uma parceria com a Marriott, tanto que o hotel vai ter uma marca do Grupo, que é a Protea.
No entanto, surgiram-nos outras oportunidades, como aconteceu o ano passado com o hotel do Porto, um quatro estrelas de 59 quartos na zona do Bonfim, com restaurante, piscina exterior. O hotel, que se vai chamar Artecor Hotel, está numa zona com muita vivência, que está a cinco minutos de Campanhã e a 10 minutos a pé da Rua de Santa Catarina, e a ideia é termo o hotel em funcionamento em maio de 2023.
Já em Lisboa, surgiram-nos duas oportunidades diferentes: surgiu-nos uma oportunidade espetacular nas Docas de Santo Amaro, onde vamos ter o Docas Lifestyle Hotel, que vai ser fabuloso, um quatro estrelas com 41 quartos, muito focado no lifestyle e na sustentabilidade pura e dura, ou seja, na relação com os oceanos, na utilização dos materiais, na sustentabilidade económica, o que também é muito importante para nós. Vai ser um hotel cosmopolita, numa zona fabulosa, cheia de vida, de gente de todas as idades.
Vamos respeitar todos os planos que existem para a área, nomeadamente em termos de volumetria, ou seja, vamos utilizar os quatro armazéns que estavam devolutos e vamos respeitar a estrutura, não vamos subir sequer um centímetro e acredito que o hotel vai levar uma dinâmica diferente àquela zona.
A abertura do hotel das Docas está prevista para quando?
A obra vai começar em setembro e estamos a pensar que irá prolongar-se por 17 meses, pelo que deverá abrir em abril de 2024.
Falou-me numa outra oportunidade em Lisboa para além da Docas…
É um hotel de apartamentos à entrada da Rua Cor-de-Rosa [Rua Nova do Carvalho], mesmo em frente do antigo Jamaica. É um aparthotel com10 apartamentos T0 e T1, pelo que vai ser um desafio diferente em termos de exploração. Estamos a contar colocar à venda os apartamentos em setembro deste ano.
Cada unidade do grupo Great Creation vai ter identidade própria
Voltando à criação do grupo hoteleiro: já tem nome?
O nosso nome comercial é Corpo Santo Hotel mas a empresa tem o nome de Great Creation e esse é o nome que vamos utilizar. Neste momento não temos a certeza de querermos ter uma marca que sirva de ‘umbrella’ para todos os hotéis, achamos que cada hotel deve ter a sua identidade. De facto, existe uma gestão que é única e há uma marca dessa gestão e esta marca Great Creation é mais da empresa que gere do que propriamente do grupo. Aliás, no hotel de Angola, nós vamos fazer a gestão do hotel apesar de a marca ser da Marriott, o que será também uma nova experiência que vamos ter.
Não queremos standardizar, cada hotel é um hotel, não queremos que os blocos de notas, por exemplo, sejam iguais em todos os hotéis, achamos que cada um deve ter os seus tipos de amenities.
Estes investimentos de que me falou não levaram a uma estrutura diferente em termos de acionistas?
Não. Os acionista são os mesmos [a família Manji, proprietária da Farmaka], os capitais são próprios.
Lisboa, Luanda, Porto – três cidades. Pode dizer-se que a vossa vocação está nos hotéis de cidade ou poderão vir a sair deste segmento?
Acho que podemos. Nós começámos numa garagem nas Olaias, éramos duas pessoas e ainda cá estamos. O grande salto que demos naquela altura para abrirmos o primeiro hotel, vamos agora voltar a dar para os outros hotéis mas acreditamos que não temos problema nenhum em virmos a gerir um hotel de resort, seja em Portugal ou no estrangeiro, só que as oportunidades têm que surgir não só do ponto de vista financeiro mas também de ser a oportunidade certa para nós e de nós conseguirmos trazer valor. Não nos vemos a explorar um hotel em que não consigamos trazer valor.
Em Portugal, há determinados destinos que achamos particularmente interessantes, como é o caso de Évora porque achamos que o triângulo Lisboa-Porto-Évora é muito interessante do ponto de vista gastronómico, do ponto de vista cultural e histórico. Outra cidade que achamos interessante é Viseu, muito por via da ligação gastronómica e cultural ao Dão e também à Serra da Estrela. Isto iria permitir-nos dar diversas opções aos nossos clientes: temos muitos clientes de vão de Lisboa ou do Porto para Évora, por exemplo, e no que toca a vinhos, poder dar ao nosso cliente a opção de visitar regiões vinícolas como as do Alentejo, Douro e Dão, partindo e regressando à região de Lisboa, que também é região de vinhos, ia permitir-nos chegar a uma dimensão a que ainda não chegámos – mas estamos abertos a isso.
Depois do anúncio do hotel das Docas, tivemos seis ou sete propostas de exploração de outros hotéis, mas não queremos dar um passo maior do que a perna do ponto de vista da qualidade.
“Fala-se muito da ‘alma’ dos hotéis e fala-se do design, disto ou daquilo, mas a ‘alma’ de um hotel é feita pelas pessoas que lá estão dentro e isso começa com a pessoa que o dirige”
Com todas estas alterações, as suas funções no Corpo Santo Lisbon também mudaram?
É verdade. Há cinco anos, quando começámos, pensámos que iriamos fazer coisas diferentes, agora demos este pulo que nos permitiu centralizar. Nesta fase, vou continuar como diretor do Corpo Santo mas depois, com a abertura dos outros hotéis, vou coordenar as direções de todos. Havermos de ter órgãos centrais que neste momento só temos formado para o Corpo Santo mas iremos contratar mais pessoas para fazer a gestão.
Isso pressupõe que cada um dos hotéis irá ter um diretor?
Exato. A profissão de diretor de hotel é fundamental. Um diretor de hotel deve trazer muito de si e da sua personalidade para as unidades, tem que trazer muito do seu carisma para dentro dos hotéis ou então as coisas não funcionam. É ele que vai trazer a ‘alma’ ao hotel. Fala-se muito da ‘alma’ dos hotéis e fala-se do design, disto ou daquilo, mas a ‘alma’ de um hotel é feita pelas pessoas que lá estão dentro e isso começa com a pessoa que o dirige.
Neste momento as suas funções já são de diretor-geral de operações?
Já porque todas as construções já estão a responder a mim. Temos prendido imenso com a construção dos vários hotéis que são todos muito diferentes entre si. Por exemplo, na questão da gestão energética, nós começámos com o hotel do Porto, adjudicámos a gestão energética que vai ser feita através de hardware, software e também pessoas e isso já está a ser transversal para o grupo todo. No relatório da sustentabilidade de que falei (ver primeira parte da entrevista) e que está publicado no nosso site, está o nosso consumo energético por piso, por mês, em termos de gás e eletricidade porque estamos numa luta de tornar visível esforço que estamos a fazer.
Fiquei muito contente com este desafio que a administração me lançou porque o Corpo Santo Lisbon foi o primeiro hotel que abrimos e todos estamos aflitos com esta passagem para os outros hotéis – eu próprio, também, apesar de eu ter vindo de um grupo de hotéis, o Grupo Altis e ter visto como se funciona em termos de grupo.
Penso que temos condições para fazer coisas boas, temos uma boa equipa base, pessoas que podemos levar para os outros hotéis. Claro que os objetivos que temos para os outros hotéis são completamente diferentes dos que temos para o Corpo Santo, mas gostávamos muito que todos os nossos hotéis fossem, cada um à sua maneira, uma referência.