Produtos da Egotravel vão passar para a Soltrópico e segundo Gonçalo Palma a “Egotravel vai ser reformulada”
O assumir, já em 2025, de todos os produtos de sol e praia pela Soltrópico, à exceção de Djerba, e a reformulação da Egotravel para outro tipo de produto, em 2026, foi um dos temas abordados na entrevista a Gonçalo Palma, diretor-geral dos operadores do Grupo Newtour. Nesta primeira parte fala-se, ainda, do balanço de 2024, da entrada da easyJet em Cabo Verde e das relações com os agrupamentos e redes de agências de viagens, entre outros temas.
O ano que agora está a terminar teve altos e baixos nas vendas, um período de pré vendas muito bom e depois, a partir do final de março, houve uma paragem que fez com que as promoções de vendas voltassem. Como se passou com os vossos operadores?
Relativamente a esse vazio que houve de vendas, o que achamos é que está a começar a haver outra vez, e ainda bem, uma grande procura pelas vendas antecipadas. Ou seja, o consumidor em Portugal já aprendeu – ou voltou a aprender porque este fenómeno já vinha de 2018 – 2019 e quebrou com o Covid -, que é importante fazer as suas reservas com antecipação. Em 2022 as vendas antecipadas ainda foram muito tímidas, mas retomaram em 2023 e agora está-se a antecipar muito.
Nós quando comparamos os anos, fazemos sempre essa comparação com o período homólogo do ano anterior ou dos 2 anos anteriores ou até 3 anos, quando se trata de operações históricas como Cabo Verde, por exemplo. Ora, quando estamos a analisar esses números é difícil perceber, num primeiro momento, se esse aumento de vendas é efetivamente um crescimento das vendas ou se é só um fator que resulta da antecipação. O que aconteceu para 2024, foi que houve uma grande antecipação nas vendas que teve início no final de 2023, e em determinada altura os operadores julgaram que tudo isto era crescimento e que o fator de antecipação não existia. Por via disso começaram a fazer reforços de operações, ou seja, pensavam “isto já está encaminhado, atingimos os 45% nesta data, o que é muito bom, portanto, vamos fazer mais produto”.
O que resultou daí foi que os meses de janeiro e fevereiro foram ótimos, em março as vendas começaram a baixar, numa parte de abril estagnaram mesmo – e foi uma estagnação geral. Um produto ou outro mexia-se melhor, porque tinha mais apetência para o consumo, mas de forma geral as vendas estavam estagnadas e a partir daí há guerra de preços.
São estes sinais que nós vamos lendo e que às vezes nos vão baralhando a decisão. Mas eu diria que, grosso modo, em termos de faturação tanto a Egotravel como a Soltrópico reforçaram o seu recorde de vendas em 2024 embora os resultados tenham ficado um bocadinho aquém daquilo que nós queríamos – foram positivos, mas mais baixos do que os anteriores. Ou seja, houve mais vendas mas menos rentabilidade.
“A Soltrópico é um operador que programa, maioritariamente, produtos de sol e praia, para clientes de famílias, resorts nesse tipo de segmento, e portanto, tudo o que são produtos que estão na Egotravel e que estejam nesse formato, vão passar para a Soltrópico e a Egotravel vai ser reformulada para um outro tipo de produto …”
Isso deu-vos uma ideia daquilo que deviam programar e colocar no mercado para 2025?
Sim… e não. Sim, porque há produtos que nós vamos reduzir, nomeadamente Marrocos, onde vamos manter alguns produtos que já são estratégicos e históricos, como Saidia. Ainda assim, em 2024 tínhamos três voos e em 2025 vamos voltar aos dois, mas vamos fazer reforços de outras rotas que correram muito bem.
O não é porque há operações que são históricas, já têm muitos anos, e nós, só porque um exercício não correu tão bem, não podemos, de repente, começar a cortar, temos que ter alguma maturidade e perceber o que é que realmente vamos fazer.
Produtos como a Ilha do Sal ou o Porto Santo, nós já fazemos há bastante tempo e estamos extremamente contentes. Claro que há uma data ou outra que não corre tão bem, mas temos que perceber que foi um incidente naquele ano…
No geral, pode dizer-se que na operação 2024 houve um acréscimo do preço do pacote?
Sim, claramente. Naquilo que é o preço de programação, ou seja, de lançamento, houve um acréscimo, tudo está mais caro, a inflação, os combustíveis, tudo está mais caro. Depois, aquilo que falávamos do fenómeno de chegarmos a abril e as vendas não saírem, aconteceu que o preço veio por aí abaixo, mas isso não tem a ver com o custo do produto, tem a ver com a dinâmica da concorrência.
Falemos da Soltrópico. O posicionamento do operador não vai mudar em termos de destinos em 2025, ou vai haver algumas alterações?
A Soltrópico é um operador que programa, maioritariamente, produtos de sol e praia, para clientes de famílias, resorts nesse tipo de segmento, e portanto, tudo que são produtos que estão na Egotravel e que estejam nesse formato, vão passar para a Soltrópico e a Egotravel vai ser reformulada para um outro tipo de produto, que no momento certo nós vamos anunciar qual é, mas que será num segmento diferente, isso aí já podemos garantir. Não fazia sentido, em sede de Newtour, ter dois operadores a fazer sol e praia e por isso vamos distingui-los.
Portanto em 2025 a Egotravel vai estar no mercado apenas com a operação de Djerba, e irá enveredar e estar no mercado com outra filosofia de produto. Já se pode saber alguma coisa sobre isso?
Será outra filosofia de produto, sim. Ainda é cedo para estarmos a falar sobre isso, mas há aqui algumas garantias que deixamos, nomeadamente, a de que, em termos de posicionamento de comercialização com as agências de viagem, vamos manter os acordos que tínhamos, ou seja, vamos respeitar a distribuição. Podemos garantir que vamos ser um B2B.
Nós vamos entrar em produtos que façam sentido podermos distribuir pelas agências e são esses produtos que neste momento estamos a compilar e a estudar. Temos três ou quatro casos que estão identificados, mas ainda temos que ponderar. Temos todo o ano de 2025 para montar as coisas, para que depois façam sentido mas, como disse, tem que ser algo que seja útil no dia-a-dia do agente de viagens, para que ele possa confiar em nós, para fazermos esse programa por ele.
Portanto, a perspetiva do arranque desta nova versão da Egotravel…
Será 2026. Temos de fazer as coisas com calma.
“… a easyJet, a ir para o Sal e a manter-se, porque a operação para já anunciada é só de inverno, vai segmentar-se num tipo de cliente que não procura o mesmo produto que nós fazemos: os resorts em Tudo Incluído, na primeira linha de praia. Acho que vão posicionar-se muito nos Airbnbs, nos alojamentos locais – é mais para esse tipo de segmento”
Pela programação que vocês apresentam para Cabo Verde para o ano de 2025, não acho que tenha havido aqui qualquer grande mexida. Quer dizer que a entrada da easyJet não vos perturba a operação?
A easyJet só começou a operar para Cabo Verde no final de outubro e a nossa programação charter é maioritariamente de verão. Temos uma operação de inverno também do Porto, e de Lisboa operamos com a TAP em regular e durante o inverno sentimos o efeito da concorrência. Não chega a magoar-nos mas sentimos que há mais comparação de preço, há mais pedidos de acompanhamento por parte das agências, portanto, obrigam-nos a um esforço maior.
O que eu acho é que, no caso do Sal, a ilha tem já, neste momento, um problema de disponibilidade de camas, e ao contrário do que se calhar a maior parte das pessoas pensa, isso não se revela apenas no verão, aliás, no inverno é ainda pior por causa dos mercados nórdicos. Por exemplo, em novembro e dezembro temos muito mais dificuldade de arranjar camas do que, por exemplo, em julho.
Eu diria que estamos num ponto em que é difícil arranjar camas durante quase todo o ano. Há ali dois meses, em março e abril, que pode ser um pouco mais fácil, de resto já tem muita procura. Portanto, eu diria que a easyJet, a ir para o Sal e a manter-se, porque a operação para já anunciada é só de inverno, vai segmentar-se num tipo de cliente que não procura o mesmo produto que nós fazemos: os resorts em Tudo Incluído, na primeira linha de praia. Acho que vão posicionar-se muito nos Airbnbs, nos alojamentos locais – é mais para esse tipo de segmento.
Mudando de assunto, houve mexidas na equipa, com a saída do Sandro Lopes e a promoção do Daniel. O que é que muda, ou o que é que não muda?
Não muda nada, só as pessoas, que são diferentes mas a nossa organização, a nossa vontade, os nossos objetivos, não mudam absolutamente nada. O Sandro foi uma pessoa criada aqui na casa, já tinha 16 anos de Soltrópico, só tinha trabalhado aqui e não conhecia outra realidade. Fruto do nosso trabalho aqui em conjunto, ele conseguiu mostrar as suas mais valias, teve uma proposta que para ele fazia sentido, que era melhor para ele e para a carreira dele, e provavelmente também lhe fazia falta essa mudança, pelo que decidiu abraçar um novo desafio, mas como lhe dissemos, as portas estão sempre abertas, quem sabe um dia regressa.
A subida do Daniel não é bem uma subida, porque ele acumulou foi as pastas. O Daniel já tinha o mesmo trabalho na Egotravel e como a maior parte dos destinos vai para a Soltrópico, a equipa também vai e acabou por ser uma transição quase natural.
O Daniel já está connosco há muitos anos, na Egotravel, desde a origem, e portanto, como eu disse, não muda nada.
“Aquilo que pode acontecer é ter momentos de venda próprios, têm que ser campanhas muito curtas, com uma condição especial dentro daquela janela temporal, e isso conseguimos apoiar e patrocinar, mas não temos a prática de vender lugares com um ou outro hotel a esta ou aquela rede em exclusivo”
A relação com os agrupamentos e com as redes de agências está mais fácil ou mais difícil?
Na minha opinião está como sempre foi. Nós aqui no grupo temos duas redes, e ao contrário daquilo que as pessoas pensam, não é mais fácil por ser dentro do grupo, até há coisas que são mais difíceis.
Acho que o mercado mudou, as agências mudaram, a forma como se está a transacionar as viagens e as pessoas que o estão a fazer, são diferentes, e isso obriga que os agrupamentos também tenham requisitos diferentes. Mas isso tem a ver com a mudança da forma como se vendem as viagens.
Nós temos um grande efeito por causa do pessoal que se promove online, desta figura dos angariadores que veio modificar algumas coisas. E essas próprias pessoas passam as suas necessidades para os agrupamentos, e os agrupamentos quando vêm falar connosco, já vêm dizer que têm uns quantos que precisam disto ou daquilo. E é mais nesse sentido que digo que mudou, não é melhor ou pior, é diferente. No fundo tudo se resume a parceria, finalização, vendas, apoio, e isso é um bocadinho aquilo que fazemos.
Há uma tentativa de viver exclusividades, obviamente não estou a falar na generalidade dos produtos mas refiro-me a haver épocas em que a rede A ou o agrupamento B, pede exclusividades. Isto está a tornar-se uma moda?
Não sei se é uma moda, já é uma tendência com alguns anos, eu lembro-me que já antes do Covid havia essa tendência no sentido de conseguir alguma exclusividade em algum produto.
Daquilo que é a nossa programação, é praticamente impossível darmos exclusividade, seja a quem for – Isto em termos de produto. Aquilo que pode acontecer é ter momentos de venda próprios, têm que ser campanhas muito curtas, com uma condição especial dentro daquela janela temporal, e isso conseguimos apoiar e patrocinar, mas não temos a prática de vender lugares com um ou outro hotel a esta ou aquela rede em exclusivo
Por exemplo, a operação de Porto Santo é baseada em cerca de 60% num hotel. Se eu vou dar a esse hotel apenas uma rede, acabou, deixa os outros todos fora, e vai gerar um movimento contra, e nós, operadores, também somos um garante da estabilidade e da equidade da distribuição. Temos que garantir que há acordos, temos que beneficiar quem vende muito, é verdade, mas também temos que garantir que dá para todos.