Portugal United quer os turistas brasileiros a fazerem as malas e a virem a Portugal
A associação portuguesa de empresas de turismo Portugal United realizou, em fevereiro, o seu roadshow no Brasil e tem outras ações agendadas para este ano. O Turisver falou com dois dos membros da associação, Miguel Cymbron (diretor de vendas e marketing VIP Hotels) e Pedro Ribeiro (diretor comercial Dom Pedro Hotels).
Durante o roadshow de fevereiro, encontraram um Brasil com agentes de viagens motivados a vender e consumidores motivados para viajar?
Pedro Ribeiro- Nós apanhámos três fases. A primeira, quando estávamos ainda a planear a nossa viagem, em que o Brasil estava ainda muito influenciado pelos efeitos da pandemia. A segunda, que coincide com o início da nossa viagem, em que os preços começaram a baixar muito e as pessoas começam a pensar em viajar e em organizar as suas férias, ao mesmo tempo que os agentes de viagens começavam a participar muito em eventos, uma atitude que contribuiu para o sucesso do nosso roadshow. Temos ainda uma terceira fase, já após a nossa saída, que é o efeito da guerra na Ucrânia – um efeito que leva a que as pessoas fiquem algo apreensivas e restringidas na sua intenção de marcarem férias na Europa porque têm medo dos efeitos da guerra.
Miguel Cymbron – O que o Pedro diz é exato, aliás eu tinha proposto que adiássemos a nossa viagem um mês mas ninguém concordou e ainda bem porque fomos mesmo na altura certa. Evidentemente que foi um risco…
Pedro Ribeiro – Três semanas antes tivemos que comprar as viagens, fazer pagamentos e íamos com algum receio mas ainda bem que fomos. Começámos por São Paulo onde tivemos praticamente 200 pessoas, um número que é muito bom e ficou bastante acima do que prevíamos. Penso que as pessoas estavam ávidas deste tipo de eventos.
O evento em São Paulo foi dia 17 de fevereiro. E o roadshow?
Miguel Cymbron – O roadshow foi em dias seguidos, de 21 a 24 de fevereiro. Fizemos cinco cidades. Penso que nós beneficiámos do facto de haver algumas marcas internacionais que tinham eventos agendados e que os cancelaram, quando nós fomos. Em São Paulo sentiu-se mesmo isso.
Pedro Ribeiro – Fizemos um evento muito engraçado em São Paulo: não foi muito divulgado aqui, mas fizemos uma homenagem a duas figuras da TAP no Brasil, ao Mário Carvalho e ao Luiz Quaggio, em que oferecemos uma garrafa de vinho do Porto do ano 2000 a cada um, para agradecer toda a colaboração que deram à Portugal United ao longo de 17 anos e a cada uma das empresas que integra esta associação. Chamámos os dois ao palco e depois chamámos também o Carlos Antunes, que é o novo diretor da TAP no Brasil.
O arranque em São Paulo, com cerca de 200 pessoas, deixou-vos tranquilos para o roadshow?
Miguel Cymbron – Deixou, aliás este foi o ano que tivemos mais participantes convidados como em Florianópolis, segundo os meus colegas porque eu nunca tinha feito esta cidade. Goiânia foi ao nível do que temos tido nos anos anteriores e só em Brasília é que sentimos que houve um pouco menos gente comparando com os anos anteriores e que havia um maior receio, mas os que estiveram presentes eram muito qualificados. No Rio de Janeiro, sentimos sempre o problema de a cidade ser muito comprida o que leva a que, quando fazemos o evento na Barra não temos gente do centro, quando fazemos do centro não temos gente da Barra. Este ano fizemos na Barra, tivemos muito público de lá e muito qualificado. Não foi um megaevento mas foi um bom evento.
A queda no mercado brasileiro em 2020 e 2021 foi brutal como nos outros mercados?
Miguel Cymbron – O mercado brasileiro esteve completamente fechado entre março de 2020 e setembro de 2021 – não existia mesmo turismo. A partir daí, o mercado brasileiro, no caso da VIP Hotels, tem estado sempre entre os três primeiros mercados internacionais, muito colado a Espanha e França.
“O mercado brasileiro fechou o ano de 2019 como primeiro mercado internacional em Lisboa, ou seja, é muito importante para a cidade, aliás, é muito importante para todo o território nacional, à exceção das ilhas e do Algarve”
Pedro Ribeiro
Pedro Ribeiro – O mercado brasileiro fechou o ano de 2019 como primeiro mercado internacional em Lisboa, ou seja, é muito importante para a cidade, aliás, é muito importante para todo o território nacional, à exceção das ilhas e do Algarve. Por isso, ao desaparecer da forma que desapareceu em 2020 e 2021, com a quase inexistência de voos, colocaram-se muitos problemas e retomar toda a dinâmica não vai ser fácil, até porque se trata de um mercado de longo curso em que as pessoas, quando vêm para a Europa, gostam de planear tudo com tempo porque querem ir a mais do que um destino. Por outro lado, no Brasil há o hábito de pagar as viagens em prestações, o que significa que compram, pagam algumas prestações e só quatro ou cinco meses depois é que viajam.
O que se pode dizer é que o movimento está a recomeçar, temos tido pedidos de grupos de lazer, de grupos de MICE, de individuais, ou seja, é um pouco transversal apesar de esta semana já estarmos a sentir que as pessoas começam a ter algum receio em que a guerra alastre, mas penso que vai ser passageiro.
Miguel Cymbron – Penso que isso é claramente passageiro e que Portugal vai sentir o efeito de ser o país da Europa mais distante do conflito, o que irá jogar a nosso favor. Além disso também há o efeito de recuperação do Real, que já recuperou cerca de 20% e que deverá ainda recuperar mais. Neste momento, a grande questão que está em cima da mesa é a das matérias primas e isso vai fazer com que o Real recupere valor e com isso a Europa vai tornar-se mais atrativa e Portugal ainda mais.
Reposição dos voos para o Brasil é bom sinal
Pedro Ribeiro – Além disso tem um bom sinal que é a reposição das ligações aéreas. A Azul acabou de anunciar que vai passar a ter dois voos por dia de São Paulo para Lisboa, de abril a outubro, a TAP tem praticamente todas as ligações repostas, a LATAM também, portanto as coisas estão a normalizar-se.
O mercado brasileiro é muito relevante para nós e é importante que as entidades oficiais, quer o Turismo de Portugal quer as ARPTs lhe deem a importância que ele merece. Achamos que Lisboa devia ter uma presença muito maior do que tem junto do mercado brasileiro, pensamos que não dá a atenção que devia dar ao primeiro mercado internacional da cidade e não se entende porquê. Há regiões como o Algarve, onde o crescimento é muito acentuado, onde temos uma ARPT que está a dar atenção ao mercado. Há três anos ninguém acreditava no mercado brasileiro, neste momento temos o Algarve a estar presente no mercado brasileiro, a investir, a fazer ações.
A Portugal United é uma associação informal de promoção turística
Em termos das empresas que integram a Portugal United há a ideia de que se é bom para um é bom para todos?
Pedro Ribeiro – A Portugal United é uma associação informal de promoção turística, não existe formalizada em termos de estatutos, há um núcleo fundador que toma algumas decisões e a partir daí todos os membros dão a sua opinião e decidem sobre as ações que serão melhores para que cada um promova a sua empresa.
Miguel Cymbron – Nós temos mais membros do que aqueles que foram ao Brasil. As ações são colocadas em cima da mesa e depois cada um decide em que é que vai participar. Por exemplo, neste momento estamos em Espanha e nessa ação estão presentes algumas das pessoas que foram ao Brasil e outras que não foram. Aliás, há empresas para as quais ir ao Brasil representa um investimento demasiado elevado porque se trata de um mercado distante e onde não se vai fazer ações só numa cidade mas em quatro ou cinco, o que leva a que o investimento seja muito maior e há que tirar retorno. Empresas de animação turística ou de restauração, por exemplo, não têm músculo financeiro para fazer um evento da natureza do que fazemos no Brasil mas que quando se trata da Europa, avançam.
Pedro Ribeiro – Na Portugal United temos quatro empresas que não nem agência nem hotel. Temos, por exemplo, a Taste, a Genius e Meios, temos a Everything is New e o Freeport. São empresas que pertencem a outros setores mas que querem investir em promoção, e esta foi a grande surpresa que tivemos.
“Com o Brasil [a próxima ação] vai ser na ABAV, onde vamos ter um stand da Portugal United. O Turismo de Portugal substituiu a ABAV pelo WTM e nós considerámos que havia espaço para estarmos presentes”
Miguel Cymbron
Quantas empresas já têm em torno da Portugal United?
Pedro Ribeiro – Cerca de 20 empresas.
Quais vão ser as próximas ações com o Brasil?
Miguel Cymbron – Com o Brasil vai ser na ABAV, onde vamos ter um stand da Portugal United. O Turismo de Portugal substituiu a ABAV pelo WTM e nós considerámos que havia espaço para estarmos presentes, portanto avançamos nós com o stand. Estivemos o ano passado, numa altura completamente disruptiva, e este ano vamos voltar, de 21 a 23 de setembro.
A lógica da ABAV ser itinerante faz sentido porque estava tudo concentrado em São Paulo e no fundo é uma maneira de chegarmos a outros públicos. Este ano vai ser Recife que, para mim, talvez seja a cidade mais importante do nordeste em termos turísticos.
Pedro Ribeiro – Já temos nove empresas confirmadas, já temos o stand. Há empresas a querem entrar mas não temos capacidade, quer de termos um stand maior, quer de organização.
E para além do Brasil?
Pedro Ribeiro – Neste momento estamos com nove empresas em Espanha, mais a TAP, num roadshow que vai a Barcelona, Bilbao e Madrid. Depois vamos ter Estados Unidos, que será de 10 a 17 de abril, vamos ter o Meeting Show em junho, uma ação em que a Portugal United foi pioneira e onde continuamos a participar de forma independente apesar de o Turismo de Portugal agora também ter stand. Depois, a 9 de junho, temos o Portugal United Paris. No último trimestre do ano ainda vamos ver o que iremos fazer.