Pipeline hoteleiro em Portugal tem demasiado midscale e hotéis são de dimensão abaixo da média global, alerta Mário Candeias
Mário Candeias, Chief Executive Officer no Espinas Hotel Group, falava sobre “+30 Anos de Hotelaria: Tendências e Desafios” na conferência “Turismo + 30”, realizada pela AHETA na passada quinta-feira, 29 de maio, no Algarve.
O hoteleiro Mário Candeias começou por frisar que “a nossa indústria nesta fase está ótima, não só a nível mundial, mas também em Portugal” e que os forecasts são bons, tendo recordado que há poucos dias a ONU Turismo tinha revisto em alta os resultados do turismo mundial em 2024, ano em que, de acordo com os dados da organização, “pela primeira vez, a nossa indústria, a nível mundial, passou dos 2 triliões de dólares de receitas (2 biliões em português) o que “já mete respeito”, afirmou.
Destacou, também, que a industria do turismo “representa 10% do PIB” e que as projeções, tanto do WTTC como da Oxford Economics, apontam para um crescimento anual de 3,5%, atingindo “em 2035, cerca de 8 vezes o tamanho que tem actualmente”.
“Há muito trabalho a fazer, mas se não houver nenhuma pandemia outra vez, ou alguma crise financeira, ou um daqueles cataclismos que, de vez em quando, acertam no turismo, em cheio, as perspectivas são largas”, comentou.
Relativamente à Europa, lembrou que continua a crescer e continua a liderar a procura mas “quando olhamos para os últimos forecasts da European Travel Commission, já percebemos que a Europa está a crescer a cerca de um terço de destinos concorrentes, como a Ásia-Pacífico ou como o Médio Oriente, e até está a crescer abaixo da América, que é igualmente um destino maduro”. Daí que tenha deixado um alerta: “Vamos ter que acelerar o passo porque estamos bem, mas quando comparamos, já não estamos tão bem”.
Do lado da oferta, e olhando para os pipelines, Mário Candeias observou que “o europeu está a decrescer de um ano para o outro, a crescer 1,2%, enquanto o desenvolvimento de hotéis está a crescer a 7% na Ásia, que já detém 38% dos pipelines a nível mundial, e a 5% na América, que já está com 36%, enquanto a Europa conta apenas com 17% do total.
Também a este nível deixaria novo alerta: “A Europa vai ter que pensar de maneira diferente se quer continuar a captar as gerações atuais e as do futuro aos mesmos ritmos que estes concorrentes”.
Em Portugal, em 2025 “50% dos hotéis já são branded, seja com marcas portuguesas, seja com marcas internacionais, e as marcas internacionais no final do ano vão ter cerca de um terço do total branded hotels”.
No que se refere a Portugal, Mário Candeias assinalou que “estamos bem nesta fase e estamos no top dos rankings”, já que o país “no top 5 do pipeline em termos de projetos europeus e Lisboa no top 3”. Mas para o hoteleiro, há um senão: “os hotéis que estamos a desenvolver são muito mais pequenos do que a média”, algo que, na sua opinião, “também vai ter repercussões, nomeadamente a nível de sinergias, economias de escala, eficiências na economia, preços e assim sucessivamente”.
Exemplificou com o caso de Lisboa, que apresenta uma média de quartos por projeto, bastante inferior à média global: “Enquanto a média dos top 5 está nos 168 quartos por hotel, por projeto a nível global, Lisboa está nos 114 quartos, estamos a falar em produtos mais pequenos”, disse.
Voltando à Europa, lembrou que o ano passado abriram 290 hotéis, e apontou que, para os próximos 3 anos, está prevista a abertura de mais 1.015 hotéis, sendo que 46% destes projetos já estão em construção, vão abrir dentro de 2 ou 3 anos, e 25% deles estão nos segmentos superiores.
Quanto a Portugal, a perspetiva é de que abram 25 novos hotéis durante este ano, e de muitas marcas. “Uma das novidades é que o pipeline, nesta fase, já tem muitas marcas internacionais que era uma das coisas que nós queríamos”, comentou, a propósito, sublinhando que “já em 2025 “50% dos hotéis já são branded, seja com marcas portuguesas, seja com marcas internacionais, e as marcas internacionais no final do ano vão ter cerca de um terço do total branded hotels”.
“Agora estamos um bocadinho mais felizes mas ainda não totalmente felizes”, disse, justificando que, apesar desta conquista de marcas, as aberturas estão “a acontecer muito no midscale, que foi o segmento que mais cresceu de 2023 para 2024”, o que, na sua opinião, “tem vantagens e tem algumas desvantagens”, frisando, a propósito que, a nível global a aposta está a ser feita no upscale. Por outro lado, o pipeline em Portugal tem, também, “muito capital de investidores institucionais”.
Com o número de hotéis em pipeline em Portugal a crescer cerca de 10%, Mário Candeias considerou que “nem todo o tipo de pipeline interessa”, reforçando que “há demasiada oferta no midscele algumas marcas que, sendo interessantes em termos de marcas internacionais, não são realmente marcas de posicionamento”, uma situação que “deve merecer a atenção de todos”.


