Philip van Liefland acredita que o mercado português “tenha potencial para crescer” para os hotéis Iberostar na Bahia
Durante a recente famtrip do Viajar Tours à Bahia, o Turisver falou com o general manager do Iberostar Selection Praia do Forte, Philip van Liefland. Os recentes investimentos realizados nos dois hotéis da cadeia naquela localidade baiana, as ações desenvolvidas em prol da sustentabilidade e os mercados que procuram estas unidades, foram alguns temas abordados.
O Iberostar Praia do Forte foi dos primeiros resorts All Inclusive no Brasil. Hoje este conceito do Tudo Incluído está perfeitamente aceite no mercado brasileiro?
É um conceito que já está totalmente instaurado e a Iberostar é um diferencial dentro do país, em todo o Brasil, onde já estamos a trabalhar há muitos anos. Na verdade, o tipo de hóspede foi mudando muito ao longo dos anos mas a Iberostar sempre foi um diferencial e procura sempre fazer investimentos no sentido de o produto dos seus hotéis.
Tudo o que a Iberostar tem desenvolvido no Brasil tem sido na zona da Praia do Forte. Isso tem a ver com o aproveitamento de sinergias ou o grupo tem a intenção de se vir a expandir-se para outras zonas?
Por enquanto, e tanto quanto eu sei, a intenção é ficar na Praia do Forte onde temos dois hotéis mas como estamos sempre a analisar oportunidades pode ser que a expansão aconteça mas num futuro não muito próximo.
O Brasil tem sempre alguma dificuldade na captação dos mercados externos, por um lado porque os países que o rodeiam sofrem muitos altos e baixos em termos económicos e, por outro, pela distância face aos mercados que mais turistas geram, nomeadamente na Europa. Quais são os mercados, fora da América do Sul, em que mais apostam para as vossas unidades?
Fora da América do Sul, acredito que um dos mercados seria Portugal porque aqui não existe a barreia da língua, o que ajuda muito. No entanto este não é o principal mercado, aparte o brasileiro que é o nosso maior mercado, com um peso entre 70% a 80% do total, em termos dos mercados internacionais, o principal é o argentino que nos últimos dois anos tem vindo a recuperar muito e a partir daí varia um pouco entre o Chile e o Uruguai e só depois Portugal. Em termos de percentagem, podemos dizer que o mercado português tem um peso de 2%. Acredito que tenha potencial para crescer no caso de a rede aérea ser aumentada.
E o mercado espanhol, já que a Iberostar é uma marca espanhola?
Na verdade não tem grande expressão aqui na Praia do Forte, até porque há poucos voos, são apenas dois ou três por semana da Air Europa, não há voos charter e os destinos do Caribe estão muito bem trabalhados, têm voos diários e isso facilita muito, por isso os espanhóis dão-lhes preferência. A existência de voos charter iria ajudar muito este destino.
Li há dias que a Iberostar tinha batido o ano passado todos os recordes de ocupação e receitas aqui na Praia do Forte. Isso aconteceu por algum motivo especial ou foi um crescimento planeado?
Depois da pandemia percebemos que o mercado brasileiro, tal como aconteceu com outros mercados, iria sentir uma grande apetência para viajar e no nosso caso sentimos isso. O ano de 2022 já tinha sido o nosso melhor ano aqui e 2023 ainda superou, com uma procura muito forte por parte do mercado brasileiro. Os resultados não terão sido totalmente planeados mas estamos sempre a trabalhar para melhorar os nossos produtos e manter ocupações saudáveis e positivas.
“Fizemos um investimento muito forte, de 10 milhões de reais, numa nova instalação e procurando uma nova sinergia, ou seja, em vez de termos dois Star Camp, um em cada uma das unidades, fizemos um maior, onde todas as crianças dos dois hotéis, a partir dos quatro anos até aos 13, podem participar nas atividades com os nossos monitores”
O ano de 2023 trouxe também algumas novidades aos vossos hotéis na Praia do Forte, nomeadamente a criação do Star Camp. O que é exatamente este conceito?
O Star Camp é o nosso clube de crianças, onde temos diferentes atividades para diferentes grupos etários, que são fomentadas através dos valores da Iberostar. Fizemos um investimento muito forte, de 10 milhões de reais, numa nova instalação e procurando uma nova sinergia, ou seja, em vez de termos dois Star Camp, um em cada uma das unidades, fizemos um maior, onde todas as crianças dos dois hotéis, a partir dos quatro anos até aos 13, podem participar nas atividades com os nossos monitores. Temos também um grupo dos 15 aos 17 anos que funciona em moldes diferentes.
São atividades que estão incluídas na estadia, bastando aos pais chegarem com as suas crianças ao Star Camp e fazerem a sua inscrição. Depois as crianças podem ficar ali nas atividades durante todo o dia, seja no próprio Star Camp seja na piscina ou na praia.
Dentro do Star Camp temos a nossa horta e também fazemos atividades aí, de índole mais educacional – as crianças podem mesmo plantar uma planta e cuidar dela durante o período da sua estadia, o que é uma experiência diferenciadora para as crianças.
Para as crianças menores de quatro anos temos duas áreas, uma no Bahia outra no Selection Praia do Forte, a que poderíamos chamar baby club, onde os pais podem ir com as suas crianças e bebés.
A Iberostar tem uma grande preocupação com a sustentabilidade. O que é que já fazem nas vossas unidades da Praia do Forte que seja já visível para o cliente?
Uma das primeiras coisas que fizemos foi a redução, primeiro, e depois a eliminação de plásticos de um só uso, o que aconteceu em 2020. Aqui no complexo foram instaladas diversas máquinas de água, distribuídas pelos blocos de apartamentos, eliminando assim a utilização de garrafas plásticas de água que tínhamos nos apartamentos. Foi uma mudança muito importante e muito bem aceite pelos nossos clientes.
Além disso, estamos a trabalhar desde há dois anos com Inteligência Artificial: temos várias balanças nas cozinhas que nos permitem medir, classificar e pesar os resíduos orgânicos com o objetivo de irmos controlando a produção nas nossas cozinhas e reduzir os resíduos orgânicos. No final do ano passado conseguimos enviar todos os nossos resíduos orgânicos para a compostagem. Acresce que, trabalhando com a economia circular, esses resíduos regressam como adubo para os nossos viveiros.
Dentro da sustentabilidade está o tema da pesca responsável, com a Iberostar a ter como objetivo para 2025 que todo o consumo de pesca seja 100% responsável.
Ser cada vez mais sustentável é objetivo da Iberostar
E em termos de energia elétrica? Aqui também se nota o aumento do custo?
A cada ano nota-se o aumento do preço e estamos focados na redução do consumo energético. Faz parte dos planos da empresa o investimento em novos equipamentos que permitam essa redução de consumo. Por exemplo, já desde 2010 que utilizamos painéis solares.
Têm problemas com o abastecimento de água?
Embora nos últimos anos tenha chovido mais, como esta é uma zona seca estamos em constante monitorização porque temos que cuidar da água, não podemos depender da chuva. Por isso trabalhamos com a nossa equipa nas boas práticas para que o consumo seja responsável.
O mercado brasileiro já é sensível a estas questões? Já há quem venha para um Iberostar pela aposta que faz na sustentabilidade?
Esse é um dos nossos objetivos. Estamos a fazer um inquérito dentro dos nossos hotéis e uma das perguntas é sobre sustentabilidade para podermos medir se isso é ou não importante para os nossos hóspedes, e o que estamos já a perceber é que com o passar do tempo isso está a tornar-se cada vez mais importante.
O problema da falta de recursos humanos na hotelaria já se faz sentir aqui?
Não tanto como está a acontecer em certos destinos mas o ano passado já começámos a aperceber-nos de certas dificuldades – claro que nada comparável com o que se passa na Europa, nomeadamente em Espanha e Portugal.
“A verdade é que podemos fazer alterações no produto para que haja essa adaptação ao mercado mas uma das grandes diferenças estará sempre nas pessoas, nos nossos colaboradores e essa é uma das razões que leva os nossos hóspedes a voltarem ou a escolherem a Iberostar”
Um cliente português que já tenha ficado num hotel da Iberostar no Caribe ou em Cabo Verde, quando chega aqui encontra o mesmo padrão de serviço, a mesma qualidade?
O padrão é muito parecido mas há algumas alterações que foram feitas para responder mais especificamente ao mercado brasileiro porque o produto tem que ser sempre adaptado aos mercados com que se trabalha. Para um português a grande diferença que encontra aqui tem muito a ver com a alegria e o carinho do povo baiano, o que se reflete na animação durante o dia, no serviço, nos colaboradores. A verdade é que podemos fazer alterações no produto para que haja essa adaptação ao mercado mas uma das grandes diferenças estará sempre nas pessoas, nos nossos colaboradores e essa é uma das razões que leva os nossos hóspedes a voltarem ou a escolherem a Iberostar.
Têm muitos clientes repetentes?
Temos clientes habituais, que voltam a cada ano ou a cada dois anos. Temos mesmo hóspedes que nos visitam três ou quatro vezes ao ano, a grande diferença está ao nível da estada média que no caso do cliente brasileiro, é de quatro a cinco noites, mas se olharmos para o mercado baiano, a esta média é ainda menor porque é um cliente que procura mais os fins-de-semana e os feriados. Já no caso dos mercados internacionais é mais elevada, anda nas sete noites.
Há quanto tempo está a trabalhar aqui e como é que foi a sua adaptação ao Brasil?
Há cerca de quatro anos e meio, desde finais de 2019. Antes, estive vários anos no México, já na Iberostar.
A adaptação foi interessante mas não foi fácil, primeiro pela língua porque eu não falava português e nesse sentido foi difícil a adaptação uma equipa nova, a uma cultura diferente e a uma forma de trabalhar também diferente. Para pôr a cereja em cima do bolo, depois de quatro meses veio a pandemia, pelo que foi um início desafiador mas que vejo como uma etapa positiva e uma experiencia que nunca irei esquecer.
Perspetiva ficar por aqui ainda mais alguns anos?
Sim, até porque me sinto feliz aqui.