Pedro Barbosa: “Na área do comércio [do El Corte Inglês] temos um “diamante em bruto” e vamos aproveitá-lo”

Há mais de 20 anos no turismo, Pedro Barbosa assumiu em setembro um novo desafio ao entrar no grupo Viagens El Corte Inglês como diretor comercial e de expansão em Portugal. Em entrevista ao Turisver falou dos passos que estão a ser dados na área que dirige, destacando a ideia da criação de sinergias entre as várias unidades de negócio da VECI e com a própria empresa-mãe, o El Corte Inglês.
Como surgiu a hipótese de vir para diretor comercial e de expansão da Viagens El Corte Inglês? E como encarou o convite?
A minha entrada na Viagens El Corte Inglês dá-se através do convite que me foi feito pelo Ricardo Cardia, com quem já tinha uma relação de trabalho próxima há mais de 20 anos, em várias empresas, mas que acabou por ser cimentada na altura em que integrei o grupo World2Meet. Pouco depois de ter entrado na W2M patrocinámos uma das primeiras iniciativas que o Ricardo Cardia realizou enquanto diretor-geral da VECI. A relação foi-se aprofundando e fomo-nos dando conta dos pontos em comum que existiam na forma como pensávamos. Fomos maturando a relação e criando janelas de oportunidade em termos de um maior conhecimento do produto, fomentando workshops… Foram várias iniciativas em que houve uma boa recetividade de parte a parte que levou a que houvesse um crescimento natural das vendas do grupo no operador em que trabalhava.
Mais do que uma empresa, Viagens El Corte Inglês é uma marca a nível ibérico e eu tinha conhecimento disso já desde os meus tempos na Portugália Airlines em que já havia acordos tripartidos em Portugal, ou seja, já tinha um vasto conhecimento sobre a marca que fiquei a conhecer ainda melhor na World2Meet que tinha na VECI o seu principal cliente. Foi um tempo que me permitiu também ficar a conhecer melhor a dinâmica que o Ricardo Cardia estava a implementar, nomeadamente em termos de criar uma nova imagem para a Viagens El Corte Inglês.
Quando o Ricardo me convidou, senti-me logo seduzido pelo desafio e pela oportunidade de fazer parte da nova dinâmica do grupo em Portugal, aliás o Ricardo deu-me, desde logo, a possibilidade de desenvolver as minhas ideias.
Normalmente, no turismo, e principalmente nesta área das viagens, quando se sai de uma empresa para ir para outra, há sempre um certo mal-estar que se instala. No seu caso foi uma situação pacífica?
Penso que sim, pelo menos nunca ninguém me fez chegar algo em contrário, mas eu também nunca procurei saber porque não é isso que me motiva. O meu foco está no novo desafio que aceitei, na dinâmica que se pretende implementar na empresa onde estou.
Posso dizer que mantenho uma boa relação com os meus anteriores colegas e pela qualidade do produto da empresa onde trabalhei, faço questão de fomentar as relações comerciais entre as duas empresas.
“Estou a fomentar uma maior sinergia com a empresa-mãe do grupo, da área do comércio, precisamente para criarmos um trabalho em conjunto que permita ganhar uma dimensão mais robusta em Portugal e começar, pouco a pouco, um trabalho de médio e longo prazo em termos da mudança de imagem e da comunicação da Viagens El Corte Inglês como um dos grandes fornecedores de viagens em Portugal”
Sensivelmente dois meses depois da sua entrada na VECI, com as suas funções bem definidas desde o início, que ações é que já implementou?
Claramente, o core business do nosso grupo em Portugal são as empresas e há a necessidade de fomentar mais oportunidades das várias unidades de negócio que temos para as empresas, desde criar mais oportunidades de lazer para essas empresas, mais oportunidades ao nível do MICE, criando sinergias entre estas unidades de negócio do grupo. Mas não só: inclusivamente, estou a fomentar uma maior sinergia com a empresa-mãe do grupo, da área do comércio, precisamente para criarmos um trabalho em conjunto que permita ganhar uma dimensão mais robusta em Portugal e começar, pouco a pouco, um trabalho de médio e longo prazo em termos da mudança de imagem e da comunicação da Viagens El Corte Inglês como um dos grandes fornecedores de viagens em Portugal.
A VECI tem neste momento 15 pontos de venda em Portugal. Quando se fala em expansão, pensa-se logo em aumento do número de lojas. O que é que está planeado nesta matéria?
O que eu posso afirmar é que há uma intenção clara de expandir a marca, não só em termos físicos como naquilo que a marca representa, a nível ibérico, em termos de exportação, tornando-a mais abrangente a nível nacional. A médio prazo, iremos ter boas novidades que estamos a trabalhar.
E em termos de produto?
O produto é essencial para complemento da nossa ação. Neste momento estou a trabalhar muito estreitamente não só com a Dora Lopes, que é a nossa responsável pelo marketing e pelo produto, mas também com o Alexandre Pereira que é o responsável pela Business Unit que tem o departamento das viagens de negócio da VECI, mas também trabalho com o departamento financeiro, com as nossas lojas, tudo para que haja uma ligação interna e para que possam ser criadas oportunidades transversais às três unidades de negócio. Este trabalho, que já está a ser feito, começa já a apresentar resultados, e a curto-médio prazo vai ser bastante visível.
A Viagens El Corte Inglês quer trabalhar com as empresas fornecedoras da área do comércio do El Corte Inglês
Que tipo de sinergias podem usar-se nas viagens com uma estrutura como o El Corte Inglês, tal como as pessoas conhecem a marca?
Esse foi um dos temas que já tínhamos abordado, eu e o Ricardo Cardia, mesmo antes da minha entrada na VECI e o que estamos agora a fazer é passar da teoria à prática, o que passa por trabalhar com empresas que já são fornecedoras da área de comércio do El Corte Inglês, começando a fomentar esse trabalho ao nível das suas viagens de negócios. Claro que tudo isso vai depois escalar para as viagens de lazer e para o MICE dessas mesmas empresas, aproveitando os recursos que já temos em “casa”. Há uma grande margem de progressão e até de otimização de processos que pode ser ajudada por todas as empresas que pertencem ao grupo. Na área do comércio, temos um “diamante em bruto” e vamos aproveitá-lo.
Estão a pensar em ações de marketing conjuntas com a marca El Corte Inglês?
Essa é uma etapa que vamos ter que abordar porque queremos fomentar isso junto da empresa, junto do grupo, até porque temos vários exemplos em que isso poderia acontecer. É verdade que há estratégias do grupo que temos que respeitar mas, por outro lado, temos que perceber que há aqui uma dinâmica e várias janelas de oportunidade onde poderemos fazer um trabalho mais em conjunto.
Objetivamente, quais são as etapas mais próximas a desenvolver em termos do seu trabalho?
Sem dúvida que é o fomentar da ligação entre as várias unidades de negócio às empresas e, claramente, conseguir uma maior abrangência da marca a nível nacional, não somente a nível físico como também a nível da marca em si própria e criar uma conotação mais correta da marca como fornecedora de viagens a nível nacional.
Essa é uma etapa fundamental para conquistar mais mercado?
Sim, porque até à data essa transversalidade em termos das unidades de negócio não foi tão explorada quanto poderia ser. Aliás, este acabou por ser um dos principais desafios que o Ricardo me colocou aquando da minha entrada, e assim que cheguei percebi que havia uma certa cultura que se identifica com a marca e que agora está a seguir uma via que se identifica com esta ideia mais dinâmica de podermos explorar muito mais a nossa marca a nível nacional, à imagem do que já acontece em Espanha.
Qual é o peso das vossas vendas de viagens extra lojas?
Diria que 60% do nosso negócio é feito fora das lojas. Para além do crescimento das empresas, o que queremos também fomentar é a parte do lazer, ou seja, pegar nesses 60% que compram fora das lojas e trazê-los também às lojas para as viagens de lazer.