Paulo Andrade: “Garantir o controlo sobre o risco da destruição da paisagem” foi o objetivo do Grupo HBD

Paulo Andrade, é Sales Manager do Grupo HBD (Here Be Dragons) em São Tomé e Príncipe, a empresa sustentável de ecoturismo e agrofloresta do sul-africano Mark Shuttleworth e proprietária de quatro unidades hoteleiras naquele arquipélago africano: Omali Lodge (São Tomé), Roça Sundy, Sundy Beach e Bom Bom (Príncipe).
O Turisver esteve à conversa com este responsável para saber como está a decorrer a operação dos hotéis depois da pandemia Covid, e ficar a par das novidades e projetos do grupo e de como o mesmo promove as suas unidades.
A HBD e Mark Shuttleworth, em concreto, têm desempenhado um papel fundamental para o desenvolvimento da ilha do Príncipe, essencialmente. De que forma?
A principal empresa é a HBD Tourism Investments que se divide em vários ramos, como a HBD AO, dedicada a operações agrícolas e a HBD RO, de Resort Operations (operação hoteleira). Depois temos também a Timber, com uma serração e carpintaria para produzir mobiliário e recuperar os equipamentos que são necessários.
Dentro da área agrícola podemos destacar a Roça Paciência, que tivemos oportunidade de visitar e que produz legumes e frutas e ainda onde temos a fábrica do chocolate. No fundo isto é uma empresa que tem várias áreas de atividade, que procuram dinamizar a economia local.
Neste momento têm quatro unidades hoteleiras. Três na ilha do Príncipe e uma em São Tomé. Foi sempre essa a ideia do Grupo?
A visão inicial do Mark Shuttleworth foi conseguir, que através das concessões iniciais na ilha do Príncipe, o grupo iria conseguir ter a linha da costa natural, sem correr o risco de haver outros investimentos que desvirtuassem esta visão.
Dessas concessões fazem parte a Praia Macaco, para a qual está projetado um futuro empreendimento com 54 quartos, cada um representando um país africano e decorado por um artista desse mesmo país, mas sem qualquer previsão de momento para e quando avançar. Depois temos a Sundy Beach, que aqui no Príncipe é uma concessão enorme e depois a zona do Bom Bom, que outrora foi uma antiga roça.
Parte da ilha é Reserva Mundial da Biosfera, um trabalho desenvolvido em conjunto com o Governo Regional para conseguirmos alcançar essa classificação. Uma classificação que traz alguns benefícios, mas que também impõe algumas restrições e condicionantes, por forma a garantir um desenvolvimento sustentável e a que não existam edifícios que desvirtuem toda a linha de costa.
Portanto, investir nas concessões foi o primeiro passo para garantir o controlo sobre o risco da destruição da paisagem. E o primeiro hotel que iniciou operações foi o Bom Bom, uma unidade que já existia e que era pertença da mesma empresa que detinha o Omali em São Tomé, portanto acabámos por ficar com os dois hotéis.

Resort Bom Bom está a ter profunda remodelação e reabre no início de 2024
O Bom Bom está encerrado para obras, o que está projetado de novo?
Sim, o Bom Bom é um hotel que já existe há mais de 30 anos e que carecia de um grande investimento de reabilitação. A unidade foi tendo algumas remodelações ao longo do tempo, mas não as suficientes para garantirmos o nível de serviço que pretendemos.
Havia algumas construções antigas que careciam de demolição, pelos materiais que eram utilizados. Depois, durante a pandemia Covid 19, o hotel foi utilizado como hospital para os infetados fazerem quarentena. E desde aí não voltámos a abrir e aproveitámos para proceder à remodelação.
O conceito do hotel vai ser semelhante, vai manter os 19 bangalós, distribuídos por vista piscina, vista jardim, vista mar e frente praia. A grande alteração para quem conhece o Bom Bom é que a parte do restaurante que estava no ilhéu Bom Bom vai passar a estar localizada na zona principal do hotel virado para a Praia de Santa Rita, onde antigamente existia um centro de mergulho e a sala de reuniões. No ilhéu Bom Bom, numa segunda fase desta renovação, ou seja, já depois da sua reabertura, será construído um novo centro de mergulho, que será certificado e dará apoio a todos os outros nossos hotéis e uma zona mais lúdica para que o hóspede possa, depois do jantar, também usufruir.
Neste momento não tenho informação sobre o valor do investimento, mas passa pela substituição dos interiores dos bangalós, a substituição dos decks exteriores, equipamentos e depois essa parte toda do novo restaurante.
Quando é que está previsto reabrir o hotel?
A previsão de reabertura é para o primeiro trimestre de 2024, ainda não tem data definida. Aqui o grande desafio é a logística e garantir que os materiais cheguem a tempo e horas.
“Neste momento para nós, o nosso maior constrangimento é o acesso aéreo. O avião é ótimo, tem todas as condições, mas se tivesse o dobro da capacidade, nós também conseguiríamos enchê-lo”
Os voos para o Príncipe são um problema?
Os voos não são o problema, o problema é a capacidade instalada de transporte aéreo. Existem dois voos diários, e a capacidade do avião é de 19 passageiros, mas em determinadas alturas do ano, como é agora no mês de fevereiro e depois na Páscoa, a oferta é pequena. É provável da nossa parte existirem quartos disponíveis e não haver a possibilidade do cliente cá chegar, porque não há lugares nas datas que as pessoas querem.
Neste momento para nós, o nosso maior constrangimento é o acesso aéreo. O avião é ótimo, tem todas as condições, mas se tivesse o dobro da capacidade, nós também conseguiríamos enchê-lo.
Anteriormente, houve um avião de 34 lugares, que operava duas vezes por dia, só que era um avião de uma companhia ucraniana e devido à guerra, o seguro da aeronave não foi renovado e o avião teve de ser retirado e voltou para a Ucrânia e aí ficámos “descalços”. Foi então que a STP Airways conseguiu, através desta empresa portuguesa, a Sevenair, trazer este avião que tem a mesma capacidade que os antigos Dornier que operavam os voos entre ilhas.
De qualquer forma, quando ocorre algum atraso no voo entre ilhas, caso o hóspede tenha a reserva no Omali Lodge conseguimos trocar as noites entre a estadia em São Tomé e no Príncipe, por forma ao cliente não perder serviços e ter de pagar mais pela estadia.
Em termos de mercado nos vossos hotéis como funciona?
No Omali, em São Tomé, temos 30 quartos e 72 camas, com três tipologias diferentes. Ali são mais os casais que nos procuram, mas também temos cada vez mais famílias. Para além dos nossos hóspedes de lazer temos também clientes corporate, mas normalmente não coincidem uns com os outros.
Agora temos ocupações muito altas, por exemplo agora está 100%. É sazonal, por exemplo em janeiro e fevereiro é época alta em São Tomé e no Príncipe, vem mais o mercado de lazer, depois cai um pouco antes das férias da Páscoa e vem o corporate. Em maio também vêm para a observação de aves, que é um segmento que tem muita procura em São Tomé e depois os meses de verão, pelas férias na Europa.
Quando falamos de países, o mercado português é o maior, seguido pelo britânico, alemão e francês.
O Omali acaba por ser a nossa base para trazer os nossos clientes para o Príncipe, sendo que o Omali tem outras nacionalidades derivado ao perfil corporativo, nomeadamente americanos e angolanos, mas que vêm no âmbito de investimentos que têm em São Tomé e Príncipe.




Já na Roça Sundy acabam por chegar os clientes que vêm em lazer, embora tenha também algum mercado corporativo, quando vêm no âmbito de trabalho aqui à ilha do Príncipe, mas em termos de nacionalidades falamos de alemães, holandeses, franceses, suíços e alguns americanos que combinam o Gabão com os safaris de gorilas e depois vêm para São Tomé e Príncipe para alguns dias de natureza e praia aqui no Príncipe. Depois tem o mercado português que acaba por continuar a ser 50% da ocupação dos hotéis.
No Sundy Beach são os alemães, ingleses, portugueses e americanos as principais nacionalidades que ali chegam.
Já estão a notar que a ocupação está igual a antes da pandemia Covid-19 ou ainda não?
O antes do Covid coincidiu um pouco com a abertura do Sundy Beach (estava aberto apenas há um ano, um ano e pouco). A Roça Sundy neste momento anda com ocupações mensais na ordem dos 60%, a Roça funciona muito bem. O Sundy Beach pela fasquia de preço mais elevado acaba por ser um hotel com ocupações ligeiramente mais baixas, mas também funciona sim.



Como é que vocês promovem os vossos hotéis no exterior?
Existe uma parceria com a Direção Geral de Turismo em que os privados de São Tomé e Príncipe, hotéis e DMC’s apoiam financeiramente esta entidade, que por sua vez se responsabiliza pela colocação dos stands nas feiras.
Este ano estivemos na BTL e costumamos estar no World Travel Market, no Reino Unido e também na ITB em Berlim, mas este ano não vão estar por causa da pandemia. Penso, no entanto, que deviam arriscar, até porque são os emissores mais importantes, o Reino Unido e a Alemanha, mais do que Portugal que por tradição os profissionais do turismo já conhecem São Tomé e Príncipe.
Para além de estarmos presentes nas feiras, colaboramos com os operadores turísticos portugueses com quem trabalhamos, participando nos roadshows generalistas, nas famtrips e também participamos em vários outros eventos e formações online para as agências de viagens portuguesas.
Quais são as maiores dificuldades da ilha?
Na parte da ocupação, o acesso aéreo acaba por ser a nossa maior frustração. Agora em termos de operação hoteleira muitas das vezes são os recursos humanos que são o nosso maior desafio, porque é necessária formação e aqui a formação é um trabalho continuo. Não é como em Portugal que sabemos que existem pessoas formadas no mercado e que mudam um pouco em função das oportunidades que vão surgindo, aqui é uma questão de começar do início, por isso é que ainda temos alguns diretores de hotel que são expatriados, porque o objetivo, tal como a minha função é, conseguir capacitar pessoas de São Tomé e Príncipe que no futuro próximo possam levar adiante este projeto.
O Turisver visitou São Tomé e Príncipe a convite do operador turístico Sonhando