“Para um empresário a coisa mais importante é a estabilidade governativa” alerta Francisco Calheiros

No webinar de apresentação da Agenda Turística 2024 do IPDT, realizado na segunda- feira, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros comentou as várias prioridades que integram esta Agenda, nas quais a CTP se revê, e acrescentou outras que considerou “fulcrais” como a estabilidade governativa, a reforma do Estado e a questão demográfica.
Começando por afirmar que as incertezas relativamente ao ano de 2024 são ainda maiores do que as que existiam para 2023, uma vez que à guerra da Ucrânia se juntou a de Israel, acrescidas agora pela instabilidade política em Portugal, Francisco Calheiros frisou que “a CTP revê-se nas cinco prioridades destacadas”.
Assim, relativamente ao ponto da sustentabilidade, recordou que “os critérios de escolha dos turistas têm vindo a evoluir ao longo do tempo”: primeiro assentaram no preço, depois na segurança e “hoje vemos que a sustentabilidade tem um peso enorme” nessas escolhas pelo que esta passou a ser uma questão fulcral para a afirmação de Portugal enquanto destino turístico.
A necessidade de valorização dos recursos humanos e das profissões do turismo é uma prioridade evidente para o presidente da CTP porque “estamos a trabalhar num sector em que faltam pessoas e ainda não conseguimos que quem trabalha no setor tenha um reconhecimento ao nível de um chefe de cozinha”, uma profissão que, disse, já é hoje reconhecida e valorizada. Para que esse reconhecimento das várias profissões do turismo se torne efectivo, afirmou, há que “mudar as mentalidades”.
Relativamente a outros pontos, sublinhou que “a requalificação e diversificação da oferta turística é sempre uma prioridade”, tal como a distribuição de fluxos turísticos por todo o país, algo que “em Portugal evoluiu muito bem” nos últimos anos. “Há uns anos atrás os tinos turísticos em Portugal eram a Madeira e o Algarve e hoje é todo o território e é importante que assim o seja porque o turismo é um importante factor de coesão”, sustentou.
A escolha da digitalização como prioridade também é óbvia para Francisco Calheiros que argumentou que “quem não está na Net morre”.
Já relativamente à promoção turística, disse esperar que não se altere uma vez que “tanto o ano passado como este ano, aquando do acordo de concertação social, a CTP negociou uma verba adicional de reforço do Acordo de Melhoria dos Rendimentos, Salários e Competitividade”, pelo que espera que o novo governo não volte atrás neste acordo.
CTP vai perguntar aos líderes do PS e do PSD que lugar pretendem dar ao turismo no Governo
Sobre a governance do turismo, considerou que vai ser um “tema relevante” nos tempos mais próximos, tendo em conta as eleições legislativas de 10 de março. Neste âmbito anunciou que a questão vai ser posta muito claramente aos líderes do PS e do PSD, aquando dos almoços que a CTP vai organizar com cada um deles, em fevereiro.
Todos consideram que o “turismo é a grande actividade económica do nosso país”, afirmou o presidente da CTP, defendendo que essa importância não tem reflexo na governance, onde o turismo partilha uma Secretaria de Estado como o Comércio e os Serviços.
Defensor da existência de um Ministério do Turismo, Francisco Calheiros explicou que esta exigência tem razão de ser porque “os problemas que nós temos não têm a ver com a SET ou com o TP, ou mesmo com o Ministério da Economia” mas com Ministérios como o das Finanças (questão dos impostos), das Infraestruturas (TAP e Aeroporto), dos Negócios Estrangeiros (vistos) e com a Administração Interna (SEF).
Dito isto, considerou que “faz sentido que o turismo esteja sentado em Conselho de Ministros para, com os seus pares, poder tratar dos problemas do setor”.
A estas prioridades, o presidente da CTP juntou outras, concretamente o Aeroporto de Lisboa, que continua num impasse e faz o país perder turistas; o plano ferroviário que continua sem ser implementado, a TAP (privatização ou não) e a carga fiscal, tanto das pessoas como das empresas. “Nós não somos competitivos do ponto de vista fiscal”, afirmou, acrescentando que é muito por via da elevada carga fiscal que os jovens saem de Portugal.
Citou ainda questões fulcrais como a “estabilidade governativa” porque “para um empresário a coisa mais importante é a estabilidade”; a necessidade de reforma do Estado e o problema da demografia. A este propósito, considerou importante a captação de mão de obra no exterior mas chamou a atenção para a descaracterização que pode ocorrer. “Não se pode descaracterizar o país”, afirmou, deixando claro que um pais descaracterizado não é aquilo que o turista procura. “Em 2015 nós tínhamos 110 mil trabalhadores estrangeiros, em 2022 eram 610 mil”, disse, juntando que a descaracterização não é boa para o turismo, pelo que “temos que dinamizar a demografia em Portugal”. Afirmando que “os nossos jovens não têm filhos porque não têm dinheiro para pagar uma creche”, disse que o Governo deu alguns passos com as creches gratuitas e “há que continuar”
Promoção do crescimento económico porque “só podemos distribuir aquilo que produzimos” e da justiça, foram outros dos pontos citados pelo presidente da CTP que a terminar declarou que “entre tanta incerteza, há uma coisa de que todos podemos ter a certeza: é que o país pode sempre contar com o turismo”.