Para o ‘Clube das Mais Belas Baías do Mundo’ estar na II Conferência dos Oceanos “é um orgulho” afirma Bruno Bodard
O ‘Clube das Mais Belas Baías do Mundo’ é uma forma de preservar o património natural e humano do nosso planeta marítimo, explicou ao Turisver Bruno Bodard, fundador desta associação internacional, em que Portugal se inclui, com duas baías.
A realização em Lisboa da segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC) entre os próximos dias 27 de junho e 1 de julho, um evento organizado pelos governos de Portugal e do Quénia e que tem como objetivo mobilizar o apoio global para implementar, criar, conservar e utilizar, de uma forma sustentável, os mares, oceanos e os recursos marinhos, vai contar com a presença do ‘Clube das Mais Belas Baías do Mundo’, uma associação internacional e uma marca registada, criada em Berlim em 10 de março de 1997. Um momento oportuno e apropriado para o Turisver falar com o seu fundador e secretário-geral, Bruno Bodard.
Por Fernando Borges
Para além do que está implícito, o que é e como surgiu o ‘Clube das Mais Belas Baías do Mundo’?
Um dia, um amigo que tinha acabado de regressar do Vietnam disse-me: “Bruno, devemos geminar o nosso Golfo de Morbihan com a Baía de Ha Long, dois lugares excecionais”. E eu respondi-lhe: “acabas de me dar uma ideia, não para criar uma geminação com Ha Long Bay, mas uma rede das baías mais bonitas do mundo, para que façamos parte dela e além disso possamos refletir com outros lugares sublimes sobre a melhor gestão possível em termos de meio ambiente. Acontece que eu era então diretor regional de turismo e já tinha em mente esse tipo de preocupação. Tive então que convencer o meu presidente e o meu tesoureiro da relevância dessa abordagem. Eles ficaram imediatamente entusiasmados com o projeto e 25 anos depois eu ainda gostaria de lhes agradecer pela sua concordância, apoio e comprometimento.
Quais os principais objetivos deste clube e quais as mais valias para os seus membros e regiões onde se encontram?
O objetivo é reunir lugares emblemáticos, atrativos e marcantes sob ações a serem realizadas em prol da proteção de nossas costas, tão frágeis. Somos todos habitantes do litoral e apaixonados pelo mar. Sentimos a responsabilidade de preservar a beleza das nossas paisagens, a biodiversidade, a luta contra os perigos da degradação.
As baías mais bonitas do mundo oferecem assim acessibilidade a uma encruzilhada de trocas e informações, mas também reforçam osentimento de orgulho e pertença das populações locais a um lugar excecional e, assim, damos-lhes mais força e formas de agir.
O que é necessário para se ser admitido como membro? Como é feita a seleção e admissão? Quantas baías fazem parte do clube e em representação de quantos países?
Os critérios de seleção são baseados em bens naturais e culturais da UNESCO. É então realizada uma seleção rigorosa nestas bases, bem como o reconhecimento do valor do próprio local e o envolvimento das comunidades para atuarem positivamente na nossa rede.
Atualmente temos 44 baías como membros, em representação de 26 países, mas no próximo congresso, que se realizará no Cambodja, e como acontece em cada uma de nossas assembleias algumas baías serão excluídas por não respeitarem certos compromissos e serão oficialmente admitidos novos membros, como Les Sables d’Olonne, uma comuna francesa na região administrativa do País do Loire, Pujada-Mati nas Filipinas e Grand Bereby na Costa do Marfim.
Portugal é membro “muito ativo”
Estão previstas novas admissões portuguesas? Existem pedidos de admissão?
Portugal está muito ativo na nossa organização com a Baía de Setúbal, que tem estado tremendamente envolvida, pensando que beneficiou profundamente da sua presença nas ‘Mais Belas Baías do Mundo’, modificando inclusivamente e positivamente lugares que fazem parte desta baía, assim como o olhar, agora voltado mais para a cidade e para os seus arredores. Temos também a baía da Horta como membro e as nossas ações com esta baía açoriana serão reforçadas com a entrada de Les Sables d’Olonne, muito por causa das ligações náuticas entre ambas.
E temos a lusofonia que desempenha um papel importante com as presenças de Cabo Verde, com a Baía do Mindelo, a Baía de Luanda e a Baía de Pemba em Moçambique, sem esquecer o Brasil com a Baía de Todos os Santos, no estado da Baía, e a Praia do Rosa no Estado de Santa Catarina, estando em curso o processo de admissão do arquipélago dos Bijagós, da Guiné-Bissau.
Podemos considerar ‘As Mais Belas Baías do Mundo’ um suporte de divulgação e de incentivo aos turismos regionais e nacionais que têm baías como membros deste clube?
Esta pode ser uma grande oportunidade para os membros, mas depende muito das aspirações e prioridades de cada um. Algumas baías usam a sua filiação nas ‘Mais Belas Baías do Mundo’ para pressionar órgãos nacionais ou internacionais, principalmente para questões de desenvolvimento que podem alterar uma baía e a sua imagem.
Mas é verdade que na maioria das vezes isso constitui um formidável meio de promoção para uma baía. Posso dar como exemplo duas baías francesas que usaram admiravelmente bem a marca; a Baía de Somme, na região de Hauts-de-France, até então relativamente desconhecida e cujo apresentador e jornalista estrela do TF1 Jean Pierre Pernaut, natural do Somme, não deixou de mencionar na televisão e por diversas vezes esta baía como membro das “Mais Belas Baías do Mundo”, contribuindo para torná-la atualmente num dos destinos favoritos dos franceses.
“Somos todos habitantes do litoral e apaixonados pelo mar. Sentimos a responsabilidade de preservar a beleza das nossas paisagens, a biodiversidade, a luta contra os perigos da degradação“
O outro exemplo é a Baía de La Ciotat, na região da Provença, que gozou de uma má imagem com o desaparecimento dos estaleiros e cujos atores locais tiveram grande dificuldade em mudar a perceção da cidade e da sua baía, apesar dos esforços consideráveis em termos de meio ambiente e de restaurar o caráter provençal para o local. O facto da baía de La Ciotat estar classificada entre as mais belas baías do mundo surpreendeu a nível nacional, originando um entusiasmo excecional, estando esta cidade mediterrânica a colher todos os frutos.
E em Portugal o Bruno Bodard começa a ser conhecido no início da década de 90 quando era diretor de turismo da cidade bretã de Vannes, no Golfo de Morbihan. O que mudou desde então na região? E a nível mundial, o que mudou no turismo e nos turistas no geral?
Sim, foi há cerca de trinta anos, porque na altura, tendo em conta o interesse da Bretanha a nível histórico, gastronómico e climático, eu queria aproximar-me dos portugueses. E para isso aconteceu a nossa presença com um stand numa BTL. Lembro-me de que éramos então o único destino francês na BTL, encravado entre a Disneyland Paris e o Futuroscope. E foi também quando começaram as tão mundialmente famosas regatas à vela em solitário Vannes-Açores-Vannes, altura em que nós os dois nos conhecemos, inclusive quando o Fernando, a nosso convite e de Eugènio Leal, que era o Secretário Regional do Turismo dos Açores, fez diversas exposições fotográficas sobre os Açores em algumas cidades da Bretanha, ajudando ainda mais a aproximação entre o Golfo de Morbihan e o arquipélago açoriano, uma feliz ligação que continua até hoje.
Atualmente, o Golfo de Morbihan tornou-se um destino reconhecido e muito popular em França, especialmente pelos habitantes de Paris, muitos dos quais gostariam de se estabelecer ali permanentemente, especialmente desde a criação do TGV que coloca Vannes a apenas 2h30 da capital.
Também entre os portugueses a região do Golfo de Morbihan em particular e da Bretanha em geral tem cativado muita curiosidade e despertado interesse, sendo notório o crescimento de visitantes lusos. Quanto aos habitantes da minha baía, posso admitir que agora olham-na de forma diferente. Eles orgulham-se dela, amam-na, e querem valorizá-la e protegê-la. Sou parcialmente responsável? Talvez, mas o resultado está aí e estou feliz por isso!
Sobre o que mudou nestes 30 anos no turismo e a forma de se fazer turismo, é notório e especialmente uma maior preocupação ambiental e de sustentabilidade, substituindo o turismo massificado. Temos agora um turismo e um turista que cada vez mais procura a essência em vez do “cartão-postal”, do poder dizer aos amigos que vi este ou aquele monumento, que estive nesta ou naquela cidade porque dá “status”, ou apenas para encher o passaporte de carimbos.
A importância da Conferência dos Oceanos
Que importância representa para o clube e para o planeta a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, para além de juntar durante vários dias em Lisboa milhares de congressistas, entidades governamentais, ONG’s, organizações da sociedade civil, instituições académicas, comunidade científica, setor privado e organizações filantrópicas de todo o mundo? Porque é que estão presentes?
Este é um acontecimento da maior importância, porque todos sabemos que o mar está em perigo e é de absoluta urgência a presença de milhares de especialistas de todo o mundo que vão olhar juntos para ele à beira do seu leito. Sabemos que o mar não pode continuar a ser um vertedouro principalmente para os plásticos. Precisamos de um mar limpo e fértil.
Espero que dela surjam fortes eixos e prioridades que só as Nações Unidas poderão validar com os Estados, com o apoio de ONGs, Universidades e organizações como a nossa. Além disso, o facto de este encontro se realizar em Lisboa constitui um forte símbolo, porque os portugueses sempre foram um povo de descobridores do mar e das suas riquezas, e o facto de serem eles os responsáveis por este encontro é considerado um compromisso de seriedade e esperança.
Para as ‘Mais Belas Baías do Mundo’, estar presente neste encontro é, portanto, motivo de orgulho e mais um passo para o nosso reconhecimento. Traduziremos a nossa presença pela apresentação à assembleia de uma carta das Baías do Mundo, que depois será assinada por todas as nossas baías membros durante a nossa próxima Assembleia Geral que decorrerá em dezembro na Baía do Camboja, com a consagração das Nações Unidas.
E os membros das ‘Mais Belas Baías do Mundo’ são…
- Angola: Baía de Luanda
- Brasil: Baía da Praia do Rosa – Santa Catarina; Baía de Todos os Santos – Baía
- Cabo Verde: Baía do Mindelo – Ilha de São Vicente
- Cambodja: Baía do Cambodja
- Canada: Baía de Tadousac – Québec; Baía des Chaleurs – Québec/Nouveau Brunswick
- China: Baía de Qingdao – Shandong
- Colômbia: Baía de Cartagena das Índias
- Coreia do Sul: Baía de Yeosu – Jeollanam
- Croácia: Baía de Sakarun – Zadar
- Espanha: Baía de Santander – Cantábria; Baía de Rosas – Catalunha
- Estados Unidos: Baía de São Francisco – Califórnia
- Filipinas: Baía de Galera – Mimaropa
- França: Golfo de Morbihan/ Baía de Quiberon – Bretanha; Baía de Somme – Hauts de França; Baía do Mont Saint Michel – Bretanha/Normandia; Golfo de Porto e Girolata – Córsega; Baía de la Baule – Pays du Loire; Baía de La Ciotat – Provence/Côte d’Azur; Baía des Saintes – Guadalupe; Baía de Fort de France – Martinica
- Grécia: Baía de Grikos-Patmos
- Japão: Baía de Matsushima – Miyagi/Ilha de Honshu; Baía de Kujukushima – Sasebo/Nagasaki; Baía de Toyama – Hokuriku/Ilha de Honshu; Baía de Suruga – Shizuoka/ Ilha de Honshu
- Madagáscar: Baía de Diego Suarez
- Marrocos: Baía de Agadir; Baía de Al Hoceima
- México: Baía de Banderas – Jalisco
- Montenegro: Baía de Kotor
- Moçambique: Baía de Pemba
- Portugal: Baía de Setúbal; Baía da Horta – Ilha do Faial
- República Dominicana: Baía de Samana et Rincon
- Senegal: Baía de Siné Saloum
- Taiwan: Baía de Penghu/Baía dos Pescadores
- Turquia: Baía de Bodrum
- Vietname: Baía de Ha Long; Baía de Nha Trang; Baía de Lang Ko Hue