Para Fernando Bandrés diretor comercial do hotel Ecoboo o importante é que o cliente “leve na mala experiências únicas”
Como o Turisver noticiou em primeira mão, Fernando Brandrés deixa Portugal e o operador turístico Sonhando para embarcar num novo desafio profissional, como diretor comercial do boutique hotel Ecoboo Maldives. Uma unidade diferente numa ilha maldivana também diferente: Thinadhoo, onde existe uma pequena população residente. O Turisver pediu a Fernando Bandrés que nos descrevesse o hotel, a sua oferta bem particular e as suas mais-valias.
Quando em Portugal falamos nas Maldivas, fala-se muito nos hotéis-atol, mas o Ecoboo tem um conceito diferenciado daquilo a que a maior parte dos agentes de viagens está habituada. Queres explicar um pouco desse conceito?
Primeiro, há que explicar o próprio nome Ecoboo, que vem da junção das palavras ecológico e bambu, dois aspetos predominantes na filosofia e construção do hotel. O projeto foi construído de raiz para ter o mínimo impacto ambiental, com paredes, estruturas e mobiliário, feitos com canas de bambu, uma cultura preponderante na Ásia, com grande durabilidade e impacto ambiental muito pequeno.
A ideia de construir o hotel partiu da experiência pessoal de um dos proprietários, que conhecia as Maldivas como destino de férias, mas sempre em barcos. Nas Maldivas há três formas de alojamento, uma em barcos, e a cada dia a pessoa amanhece num atol; em resorts que estão em ilhas privadas onde só existe o hotel, que é aquilo a que o mercado português estava acostumado; e as ilhas locais, onde existe uma pequena população residente, que são iguais aos atóis a nível de praias, da cor do mar, de natureza…
Os proprietários tentaram trazer a experiência do barco a uma estrutura hoteleira, e introduziram um pouco desse conceito nos Pack Experience, que permitem desfrutar da praia, mas também conhecer a idiossincrasia do país, a forma de viver da população local…
Qual é a vantagem de estar num hotel como o Ecoboo?
Para mim, é ter a possibilidade de ver como é que funciona uma pequena vila no meio de uma ilha no Índico, como as pessoas se adaptam e utilizam os recursos que o mar oferece. Por outro lado, porque é um pequeno hotel familiar, o atendimento é muito mais personalizado, o que faz com que o cliente se encante muito mais pelo destino, e leve na mala, no regresso da viagem, experiências únicas que dificilmente se conseguem num outro tipo de resort.
Praia e barco restaurante bar contornam os constrangimentos de estarmos num país muçulmano
Na 1ª parte da nossa entrevista referiste alguns constrangimentos que se colocam por as Maldivas serem um país muçulmano. Como é que esses constrangimentos são ultrapassados no Ecoboo?
Relativamente à praia e ao que se pode vestir, o Ecoboo está na tal zona que eu falei que é considerada Bikini Beach, onde o cliente pode estar perfeitamente à vontade, usando o seu fato de banho ou biquíni.
Em relação ao álcool, o Ecoboo tem um pequeno barco de cruzeiros, ancorado a uns 200 metros do hotel e temos um barquito que faz o transporte entre a ilha e o barco, que funciona como restaurante e bar flutuante.
O cliente, quando tem vontade de ir ao barco, apenas tem que pedir na receção o transporte, que é gratuito e o cliente não depende de horário, quando quer ir ou voltar só tem que solicitar o serviço.
A bordo como é que se pagam as bebidas ou as refeições?
As bebidas têm que ser pagas no barco, não necessariamente avulso, ou seja, há uma conta de crédito onde se vai debitando como se fosse a conta do quarto, por isso não é preciso levar dinheiro, assina-se o recibo e depois paga-se no final da estadia. Mas as contabilidades e a caixas são separadas do hotel, pelo que o pagamento terá sempre que ser feito no barco, em dinheiro ou em cartão, que pode ser Visa ou Mastercard.
Como é que está a ser comercializado o Ecoboo em Portugal, em relação aos regimes alimentares?
Está a ser comercializado nos regines de alojamento e pequeno almoço, meia pensão e pensão completa, mas o regime de APA está condicionado à época baixa do hotel, e na época alta é meia pensão ou pensão completa.
Existe uma terceira opção, que eu recomendo, que é a pensão completa com o Pack Experience, que contempla uma atividade diferente a cada dia, incluída na diária. Normalmente, as atividades concentram-se durante as manhãs, e o cliente volta ao hotel para o almoço e depois tem a tarde para desfrutar, para estar na praia, fazer um snorkel no recife de coral da própria ilha, que é fantástico a nível de vida marinha. Esta é a forma que o hotel tem de elevar as experiências de mar e que diferencia o Ecoboo dos restantes hotéis.
“O peixe é o rei das refeições, mas também há carne, embora não porco. Como se trata de uma propriedade portuguesa já temos bolo de caco e pregos, portanto já há algumas características muito típicas de Portugal, e algumas até adaptadas, como o prego de atum que é fantástico”
Como é que são as refeições no hotel?
O peixe é o rei das refeições, mas também há carne, embora não porco. Como se trata de uma propriedade portuguesa já temos bolo de caco e pregos, portanto já há algumas características muito típicas de Portugal, e algumas até adaptadas, como o prego de atum que é fantástico.
O hotel tem um restaurante na praia, que funciona como buffet, para o pequeno almoço, almoço e jantar, e depois temos o restaurante do barco que é à la carte.
No barco os clientes têm de fazer a reserva e as refeições não estão incluídos, sendo pagos à parte. O preço depende das escolhas, temos opções ligeiras, como sandes ou saladas, outras mais elaboradas, há uma tábua com mariscos, com lagosta e outros produtos de mar, por isso há opções para todos os bolsos. Se ao almoço uma pessoa quer fazer uma refeição ligeira e só comer uma salada, pode fazê-lo, tranquilamente, porque não são preços exageradamente caros.
Que tipo de comida se encontra nos buffets que estão incluídos?
O buffet tem várias opções de entradas, desde saladas, sopas e grelhados e uma parte do buffet é dedicada ao showcooking. Também há opções de massas, frutas e sobremesas várias, ou seja, é um buffet bastante completo. Temos vários tipos de sumos de frutas, como melancia, ananás, papaia e gelados de confeção artesanal, feitos no próprio hotel.
Falemos do alojamento. Que tipologias de quarto existem?
Temos seis tipos de quartos, todos com áreas semelhantes, o que muda é a localização relativamente à praia. Há quartos com vista jardim, com vista para o mar, quartos a cinco metros do areal. É importante referir que não há quartos twin no hotel, são sempre camas de casal, e alguns têm um sofá cama que se converte em duas camas para famílias com crianças, por exemplo. Há também quartos que têm capacidade para seis pessoas, com cama de casal e dois beliches, cada um com duas camas.
Quando falamos de uma ilha tão pequena, as comunicações são importantíssimas. Como é que funciona a Internet, e a televisão…?
Televisão não há. Dentro dos quartos há um altifalante que podemos ligar por Bluetooth ao nosso telemóvel, e podemos ouvir rádio e a nossa música, mas não existe televisão.
O Wi-Fi é garantido e gratuito, até 10GB de comunicação, em todas as instalações do hotel, inclusive no barco que funciona como restaurante e bar flutuante. Obviamente, em algumas zonas da navegação perdemos a cobertura, mas de resto, a qualidade da conexão é bastante boa. Ou seja, quem precisar de trabalhar, pode fazê-lo, como pode fazer os seus uploads, fazer publicações nas redes sociais, etc.
Os quartos têm minibar?
O minibar tem um coffee station, com uma chaleira para fazer chá ou café, e são dispensadas garrafas de água, que têm uma particularidade: quando o cliente faz o check-in, recebe uma garrafa de vidro com o logótipo do hotel, a tampa é feita com fibra de coco, e tem o nome do hóspede gravado na tampa, porque as garrafas são todas iguais e assim evitam-se confusões.
O hotel tem dispensadores de água em toda a estrutura, inclusive no restaurante, mesmo nos horários em que este não está a funcionar e os hóspedes vão enchendo as suas garrafas, o que minimiza o consumo de plástico.
As crianças são muito bem vindas ao Ecoboo apesar de este não ser um hotel totalmente vocacionado para elas
Em Portugal as Maldivas estão ainda muito conotadas com as luas de mel. O que é que o Ecoboo oferece às crianças?
O hotel não está especificamente vocacionado para crianças, mas existe um miniclub com escorregas e baloiços. Depois, as atividades que o hotel organiza estão vocacionadas para todo tipo de público, porque os tours podem ser facilmente adaptados em função do perfil de cliente de cada tour. Por isso, as crianças são mais do que bem-vindas, têm os seus cantinhos no buffet, há alimentação mais vocacionada para crianças, e a parte importante é que os adultos podem usufruir das experiências sem necessidade de deixar os filhos para trás.
Para dar um exemplo, na minha última estadia, estava lá um casal com um bebé que nem um ano tinha, e fiquei admirado como a tripulação do barco pegava o bebé ao colo, dava-lhe melancia, ananás, manga…, o bebé estava entretido, e ficava no colo dos tripulantes enquanto os pais faziam o seu snorkel ou as suas atividades. São essas pequenas atenções que, pelo tamanho do hotel, nós conseguimos ter e que dificilmente haveria num resort, ou pelo menos dificilmente teríamos de forma gratuita.
Essas amabilidades normalmente são retribuídas….
O cliente pode dar uma gorjeta mas isso é uma opção pessoal. A política do Ecoboo é muito baseada na transparência nos preços. O hotel tem IVA, tem a Green Tax, que é destinada à preservação dos recursos naturais do país e, ao contrário dos hotéis que comercializam as suas tarifas sem estas taxas que depois têm que ser pagas ao balcão, o Ecoboo dá os seus preços já com tudo incluído. Portanto, a taxa de serviço, o IVA e a Green Tax estão todas incluídas no preço.
A taxa de serviço é um pouco equivalente à gorjeta porque há uma parte da receita do hotel que mensalmente é distribuída entre os empregados, que corresponde precisamente a essa taxa de serviço. Isto não invalida que se algum cliente queira dar o seu contributo.
Em termos das áreas públicas, além do restaurante na praia, há algum bar?
Temos um bar, também em primeira linha da praia, onde os hóspedes podem beber refrigerantes porque, como disse, não podem ser consumidas bebidas alcoólicas, ou comer algum snack durante o dia, mas avila tem alguma oferta de restauração. Ou seja, quem fica em meia-pensão não tem obrigatoriamente que fazer os restantes consumos no hotel.
Se para as crianças têm um pequeno parque infantil, para os adultos têm Spa?
Estão a terminar a construção de um pequeno Spa, que vai ter uma parte dedicada a SPA de pés, e duas salas para massagens. Está, também, a ser construída uma estrutura muito próxima do mar, ao ar livre, que vai ter sala de yoga e sala de cinema. Ou seja, vamos ter algumas opções para os clientes poderem fazer no caso de alguma atividade de mar ter que ser cancelada, o que não é habitual.
Em termos de animação, em algumas noites faz-se um quizz no bar de praia e há uma noite temática, em que trazemos para o hotel um bocadinho do folclore e da música típica das Maldivas. É uma animação “soft”, devido ao ritmo de vida que se leva no destino e o hotel também não permite que as pessoas estiquem a noite.
O dia começa muito cedo, as atividades do Pack Experience partem do hotel entre as 7h30 e as 8h30, anoitece por volta das 18h00-18h30, e o jantar vai das 19h30 às 22h00. Por volta da meia-noite ou mesmo antes, as pessoas já estão a descansar, porque as atividades, apesar de serem adequadas a todas as pessoas, acabam por ser cansativas.
O que é que podemos dizer mais sobre o hotel?
Podemos reforçar a parte da sustentabilidade que faz parte do ADN do estabelecimento. Tentou-se acautelar a produção de energia e tanto o hotel como os barcos têm painéis solares que permitem que o consumo de eletricidade seja muito reduzido.
Acresce que todos os produtos de limpeza e lavandaria e mesmo os amenities colocados nos quartos, foram feitos deforma a não terem impacto negativo no ambiente. Acresce que o hotel tem uma ETAR (estação de tratamento de águas residuais) própria, o que não é muito habitual nas Maldivas, indo até acima dos requisitos legais do país.
Como já referi, também não há consumo de plástico, mesmo as pulseirinhas que diferenciam os hóspedes em função do regime alimentar contratado, são feitas de tela e com um pequeno apontamento para poderem fechar, mas podem ser tiradas à noite, ou quando se vai tomar um banho e depois voltar a pôr. Até os colchões têm na sua confeção 60% de fibra de coco e o mobiliário é feito de bambu e materiais sustentáveis.
Depois, há muita implicação com a população local. Fazem-se atividades que podem ter um cariz social, e há um dia por semana em que se faz uma recolha de lixo nas praias para tentar preservar a ilha, com os próprios hóspedes do hotel que queiram participar.
Trata-se de conciliar o turismo com o cuidado e a preservação dos costumes locais, e isso, para mim, é o grande destaque do hotel. O cliente que vai para o Ecoboo sente, de alguma maneira, que está a contribuir não só para manter o ecossistema mas também a dar algum estímulo à comunidade local, que tem recursos limitados. Conseguir o desenvolvimento turístico tentando preservar tudo aquilo que as Maldivas têm, é o fator mais diferenciador do Ecoboo, que me dá orgulho em “vestir a camisola da casa”.
Para saber mais sobre a ilha de Thinadhoo leia a 1ª parte da entrevista a Fernando Bandrés, aqui.
Fotos gentilmente cedidas por: Fernando Bandrés e Ecoboo Maldives