Para 2023 Nortravel aproxima oferta à de 2019 e lança charter para o Funchal no verão

Em entrevista ao Turisver, Nuno Aleixo, diretor-geral da Nortravel fala, em detalhe, da programação que o operador está a preparar para o próximo ano, desde as ilhas portuguesas aos circuitos, das Grandes Viagens aos cruzeiros, passando pelas operações charter para destinos como Cabo Verde, Funchal e Egito, apontando também a possibilidade de vir a existir uma operação para Malta.
Para falarmos de 2023 já vamos ter que dizer que as três marcas do grupo Ávoris vão estar integradas na comercialização dos voos, provavelmente cada uma com uma oferta diferente, de acordo com o seu público ou não será assim?
Em 2023 vamos estruturar as coisas de uma forma diferente. Relativamente às operações charter, Cabo Verde vai mantendo a linha de um operador português para um destino de língua portuguesa como referi em relação ao charter para Salvador da Bahia e, portanto, vai ficar apenas na marca Nortravel.
Vamos ter quatro charters, de junho até outubro, sendo dois do Porto para a ilha do Sal e um de Lisboa também para o Sal e ainda um voo do Porto para a ilha da Boavista. Não fazemos charter de Lisboa para a Boavista porque há o problema do aeroporto da Boavista e dos horários e também porque à partida de Lisboa temos solução com os voos da TAP, que nos tem dado um grande apoio.
Em princípio, os voos serão feitos no mesmo avião que foi utilizado este ano, o Boeing 737-800 da SmartWings, com 189 lugares, mas ainda estamos em negociações. Mas se não for este avião e for um Airbus A320 serão 180 lugares.
Os quatro voos vão ser colocados logo no início da operação, em junho?
Não, vamos começar com o voo do Porto para o Sal, em junho, em julho entra o Lisboa-Sal e o Porto-Boavista e em agosto entre o outro voo do Porto para o Sal.
Outro destino em charter que vai transitar para 2023 é o Egito?
O Egito já está garantido. Para 2023 iremos ter quatro operações, três de Lisboa e uma do Porto. A primeira será a 30 de abril, depois teremos duas partidas em setembro e uma em outubro mas teremos oportunidade de aumentar estas frequências se houver procura. Já a partir desse charter de abril voaremos Lisboa-Cairo, três dias depois voaremos do Cairo para Abu Simbel, estando também já incluída a excursão a Abu Simbel, e nesse mesmo dia faremos Abu Simbel-Assuão e a partir daí o cruzeiro no Nilo até Luxor. Depois, no dia 7 de maio, o avião fará Luxor-Lisboa. Esta é a operação que repetiremos em setembro e em outubro. São operações pontuais e não as fazemos no pico do verão devido às elevadas temperaturas no Egito, por isso estamos a estudar a possibilidade de fazer uma operação no verão mas para a praia.
Vamos repetir esta operação porque este ano foi um sucesso, tivemos um Airbus de 180 passageiros que foi completamente cheio.
Estes voos para o Egito são Nortravel?
São Nortravel mas também temos aqui a vertente da Catai que tem uma forte tradição no Egito e com produtos diferenciados dos da Nortravel, com outros hotéis e com outros navios. Caso se considere que a Travelplan, que também tem esta operação montada à partida de Espanha, possa ser uma mais-valia, também a teremos na operação, que foi o que fizemos este ano.
Charter para Malta pode “virar” realidade
Para este ano estão com “um olho em Malta”. É possível programarem um charter?
Estamos neste momento a ultimar negociações para uma operação para Malta. Como se sabe, a Air Malta abandonou a operação de Portugal, posicionou-se em Espanha e, na nossa opinião, neste momento Portugal está órfão de produto estruturado para Malta. Existe uma oferta da Ryanair mas temos andado a falar com a Air Malta e estamos a ver a possibilidade de fazer uma operação sozinhos, em julho e agosto. Nas próximas semanas já teremos novidades sobre esta possível operação.
Vão voltar a ter uma forte aposta nas ilhas portuguesas?
Vamos. Vamos consolidar a nossa presença nos Açores, com a possibilidade de incrementar circuitos mas está muito difícil, os hotéis estão com uma taxa de ocupação elevadíssima, com mercados muito fortes, nomeadamente o mercado americano que está a ter um grande crescimento, com níveis tarifários superiores aos europeus, o que também dificulta a contratação. Claro que já temos garantidos, pelo menos, os lugares que tínhamos nos anos anteriores mas a nossa ideia é incrementar e fazer novas apostas em algumas ilhas e alguns combinados sempre que possível, porque em algumas ilhas há grandes dificuldades a nível da hotelaria.
Estreámos este ano o circuito das nove ilhas, programámos cinco datas, fizemos três e ficámos felicíssimos e só no último é que não conseguimos visitar uma das ilhas devido ao mau tempo – este é sempre um risco nos Açores. É um produto a repetir, vamos fazê-lo e já estamos a aumentar as datas de saída.
A base de voos para os Açores vai ser a SATA mas também vamos voltar à TAP porque a TAP reforçou a sua posição, principalmente para a ilha de São Miguel.
“(…) temos previsto fazer nos meses de julho e agosto, dois charters do Porto para o Funchal, à quarta feira e ao domingo, para podermos propor pacotes de três, quatro e sete noites”
Em relação à Madeira, também estamos com dificuldades na parte hoteleira devido aos mercados externos mas temos previsto fazer, nos meses de julho e agosto, dois charters do Porto para o Funchal, à quarta feira e ao domingo, para podermos propor pacotes de três, quatro e sete noites. No pico do verão é muito difícil conseguir lugares, principalmente do Porto porque de Lisboa a oferta da TAP, que é o nosso parceiro estratégico para o destino, é muito maior. Do Porto, a TAP tem horários muito penalizadores para os clientes porque os voos saem às 05h50 ou às 22h00.
Os charters, que serão só Nortravel, vão permitir-nos oferecer uma diversidade maior da ilha da Madeira, pelo que se justifica fazer Porto-Funchal no pico do verão.
E para o Porto Santo?
Vamos continuar a operação que fizemos em 2022 com a TAP, com partidas aos sábados e domingos. Claro que uma coisa é ter um charter, com preços muito mais competitivos, com uma contratação hoteleira que alimente o charter, outra coisa é voar com a TAP. Este ano levámos cerca de 300 passageiros com a TAP, o que já foi importante porque todo o mercado conhece as dificuldades ao nível da hotelaria.
Circuitos fazem parte do ADN da Nortravel
Vamos ao produto mais característico da Nortravel: os circuitos.
Os circuitos vão ser reforçados relativamente a 2022, mas ainda não vamos chegar aos números de 2019 até porque também existem produtos que vamos descontinuar, caso do Benelux e da Suíça, onde os preços estão tão inflacionados que se montássemos circuito, era possível que oito dias na Europa ficassem por 3.000€, o que não justificaria.
Nos últimos dois anos enveredámos por um caminho diverso que foi o dos mini circuitos e vamos continuar a fazê-los. Este ano tivemos um sucesso muito grande com o mini circuito “O Melhor dos Países Baixos” em que, em três noites, fazemos Amesterdão e tudo à volta. Fazemos cada vez mais estes mini circuitos, sempre com o conceito Nortravel, com guia em português, com todas as visitas incluídas e todas as refeições. Nas zonas onde estamos a abandonar os circuitos de oito dias, estamos a introduzir os circuitos de quatro dias, os chamados mini circuitos e tem corrido bastante bem.
Em destinos como a Europa Central, iremos continuar com uma grande oferta, nomeadamente para a Chequia, a Hungria, a Eslováquia e a Áustria. Vamos reforçar o circuito da Croácia porque a TAP continua o voo para Zagreb e nós vamos continuar nessa parceria. Já temos projetado os Países Bálticos mas aqui coloca-se a questão da guerra, ou seja, vamos apresentar o produto mas sabemos que pode estar condicionado. Depois temos as ilhas britânicas, que é um dos principais circuitos, e os circuitos em Itália, que têm sempre muita procura.
Estamos convictos que para 2023 já teremos de novo os circuitos em força mas com algumas alterações ao nível do conceito, com os mini circuitos.
Iremos também retomar o conceito dos cruzeiros Nortravel, que são cruzeiros com a MSC em que vai também um guia nosso e temos algumas novidades para 2023 uma vez que a própria companhia lançou novos itinerários e nós vamos apostar em dois destinos no norte da Europa e dois destinos no mediterrâneo.
E para as Grandes Viagens, têm alguma coisa programada?
Vamos retomar as Grandes Viagens, tanto para o Oriente como para a América do Sul, com o conceito da Nortravel, aliás já estamos a retomar este ano e temos a primeira saída no final de novembro. Retomamos o Indochina, este ano já fizemos quatro operações para o circuito da Jordânia e Israel, e para 2023, logo no início do ano, voltamos ao Peru, que foi sempre um sucesso muito grande. Vamos também apresentar produto para a Argentina, mas isso será apenas para o inverno de 2023-2024, e voltamos também à Índia. Gostaríamos de voltar ao Irão mas esta questão política está a condicionar um pouco. Estes circuitos são muito expressivos em termos de faturação da Nortravel e irão regressar em 2023, alguns até já arrancam este ano.
Quando olha para 2023, em termos da globalidade da oferta, que irá aumentar face ao ano de 2022, como é que pensa que o mercado irá reagir tendo em conta que as perspetivas para o próximo ano não são as mais animadoras?
Nós, mesmo com o aumento da oferta de 2022 para 2023, ainda não vamos chegar ao que tínhamos em 2019, estamos é a diversificar o produto de uma forma diferente. Se tudo correr conforme planeado, em termos de faturação iremos ultrapassar um pouco a de 2019.
Era normal que crescêssemos de 2022 para 2023 mas eu comparo é com 2019 e nesse aspeto, o que muda mais é o estilo de produto, por exemplo, reforçamos os circuitos mas não vamos ter todas as ofertas nem todas as datas de saída que tínhamos em 2019, reforçamos os cruzeiros mas não chegamos aos números de 2019. O que estamos a fazer para chegarmos, e até ultrapassarmos os números de 2019, é criar novos produtos.
Obviamente que é pertinente a questão de 2023 com todos os cenários económicos que estão traçados para o país, mas as pessoas não vão deixar de viajar. A grande dúvida é se vão dar prioridade às férias em detrimento de outras situações e aqui o grande problema reside no aumento das prestações das casas, que é muito penalizador para as famílias.
Nós não estamos sozinhos no mercado, haverá outros operadores a aumentarem a oferta, a consolidarem posições e isso é natural, principalmente tendo em conta que 2022 foi melhor do que estávamos à espera.
Acredito que vá existir uma situação de venda mais em cima da hora e as pessoas vão andar à procura de oportunidades e dos preços competitivos que consigamos colocar no mercado.
É provável que algumas das operações que se montem acabem depois por não avançar, aliás referi isso em termos do que estamos a preparar para o Brasil (ver notícia) e até mesmo de Malta e acredito que aquilo que se projeta agora no final do ano para o ano seguinte possa ser alvo de alguns reajustes pontuais, a começar pelas dificuldades aeroportuárias, mas, obviamente, agregado com a crise financeira. Ou seja, nesta fase há muita intenção de fazer muita coisa mas depois deverá existir um ajustamento natural de mercado.