Operação para o Senegal provou que “os charters não estragam o negócio do regular”, afirma Sónia Regateiro

Em entrevista ao Turisver, Sónia Regateiro, diretora de Operações da Solférias, fez o balanço da época de verão. A tónica foi colocada nos vários destinos operados em charter, com destaque para aquele que foi a grande aposta da Solférias para este verão, o Senegal, que foi um sucesso de vendas, mas todos os outros destinos estiveram ‘em cima da mesa’.
No geral, como é que vos correu o verão, uma época que é sempre determinante para os resultados do ano?
A Solférias conseguiu fazer este ano um progresso muito interessante. Neste momento, em termos de projeção, já atingimos os números de 2019, quer em número de passageiros quer em volume de faturação, e acreditamos que até ao final do ano vamos superar os valores que registámos no último ano antes da pandemia. Por isso, tem sido um ano que nos tem corrido muito bem mas que é fruto de muito trabalho e de muito risco.
É evidente que não podemos pensar no volume de negócios como se fosse rentabilidade, porque não o é. A rentabilidade é muito trabalhosa e este ano, o facto de termos sentido, na maior parte das operações charter, grandes aumentos nos preços do fuel que são valores aos quais nós não colocamos qualquer margem em cima, levou a que a rentabilidade baixasse consideravelmente. Ainda assim, 2022 tem sido um ano muito positivo para a Solférias.
Foi um ano em que tiveram um destino novo, o Senegal. Como é que correu?
O Senegal foi a nossa grande aposta este ano porque abriu um hotel da cadeia RIU no destino. O Senegal já integrava a panóplia de destinos da Solférias desde o nosso início de atividade, em 2010, tendo como base os voos da TAP e os hotéis de Sally que era a zona turística mais explorada. No entanto, o destino não tinha muito relevo em termos de lazer e sempre foi mais procurado pelo mercado corporate.
Este ano, com a abertura do hotel da RIU fomos desafiados a apostar no destino e tivemos a coragem de colocar no mercado dois voos charter de junho até ao início de outubro e está a ser um sucesso. Aliás, nós acreditávamos que ia ser um sucesso embora fosse preciso dar a conhecer o Senegal ao mercado, posicionar o destino no mercado. No início não foi fácil chegar com o destino ao público final e foi necessário um investimento grande em termos de comunicação, na rádio e na televisão generalista, para fazer com que este novo destino chegasse ao cliente.
O esforço foi grande mas conseguimos posicionar o destino no mercado, o sucesso foi grande, tem sido uma agradável surpresa e aparte de todos os passageiros que temos transportado nos voos charter, o volume de passageiros em lazer nos voos diários da TAP também tem superado as expetativas e penso que para a TAP foi uma surpresa ver como é que um operador turístico pode fazer a diferença num destino de operação regular mesmo tendo dois voos charter.
Acho que o Senegal veio desmistificar o fantasma que muitas vezes existe nas companhias regulares e que as leva a não querer voar para destinos que sejam operados em charter. Os charters não estragam o negócio do regular, pelo contrário, aliás nós começámos a vender muito mais os voos regulares da TAP para o Senegal porque foram alavancados pela publicidade que adveio do facto de o destino ter começado a ser trabalhado em charter. Ou seja, foi uma oportunidade de negócio não só para nós mas também para a TAP que não vendia Senegal no segmento de lazer.
Uma questão que cheguei a colocar antes do início da operação era se o Senegal, por ser África e pela similitude de preços, iria prejudicar o destino Cabo Verde?
De maneira nenhuma. São destinos completamente diferentes e penso que o Senegal veio até completar o know-how que já tínhamos relativamente a África e que tínhamos adquirido com Cabo Verde. São destinos que, embora com a mesma distância em termos de voo – há uns anos que olhávamos para o globo e tentávamos encontrar um destino com o qual nos identificássemos mas a uma distância que não superasse as quatro ou cinco horas de voo – não concorrem diretamente e até se complementam. São destinos muito diferentes, a começar pela praia onde quer a areia quer o mar se diferenciam pela cor, por exemplo. Acresce que o Senegal tem produtos a oferecer para além da praia, como é o caso dos safaris e tem uma parte cultural e histórica muito diferente.
Grande procura pelo Sal e menor para a Boavista
Cabo Verde correu dentro das perspetivas?
Tem estado a correr sempre muito bem, mesmo o ano passado, em que o ano não foi dos melhores, Cabo Verde conseguiu chegar aos 8.500 passageiros e este ano, no final de agosto, já tínhamos superado os números de 2019. Cabo Verde continua a ser o nosso top de vendas, a grande novidade é que passámos a ter um número dois que se chama Senegal.
Há um pouco a sensação que até 2019 havia uma tendência crescente da Boavista e decrescente do Sal e que hoje essa tendência se inverteu. É verdade?
Da nossa parte o que sentimos há realmente um decréscimo da procura pela ilha da Boavista, que foi até muito vincado, enquanto o Sal tem vindo sempre a crescer. O Sal é um destino de muita repetição, temos passageiros que repetem o Sal várias vezes e com os investimentos que têm sido feitos, tem sido sempre uma ilha que tem vindo a crescer em oferta e em qualidade. Por outro lado, o Sal beneficiou muito, nos últimos anos, da política face ao Covid implementada por Cabo Verde que seguiu as mesmas medidas que Portugal. Sempre existiu facilidade de continuar a viajar para Cabo Verde, o destino nunca fechou completamente e as medidas implementadas nos hotéis davam segurança ao viajante.
O interesse pela Boavista já vinha a cair e não consigo explicar porquê, mas depois do Covid, com o fecho dos hotéis, tem sido muito difícil recuperar. Foi fundamental para a Boavista a retoma do voo regular da TAP porque não se trata de um destino onde se possa, tranquilamente, voltar a colocar charters, devido às limitações do aeroporto: só aceita voos diurnos, fecha às 18h00, se houver um problema numa aeronave ela já não poderá sair e a maior parte das companhias aéreas de fretamentos não querem voar para a Boavista porque se o avião avaria na Boavista ou há qualquer atraso, compromete todas as operações seguintes. Por outro lado, a pista também não aceita todos os tipos de aeronaves.
Esperamos que a ilha da Boavista possa vir a retomar em 2023, queremos muito voltar a apostar na Boavista num futuro próximo. A nossa esperança reside no acordo que foi assinado entre o Governo de Cabo Verde e a Vinci que vai controlar os aeroportos do país, em que existe um compromisso para que já a partir de Janeiro sejam feitas obras no aeroporto da Boavista para aumentar e eletrificar a pista.
“As limitações sanitárias podem influenciar o sucesso ou não de um destino e de uma operação, basta fazer a comparação entre a Tunísia, que foi um sucesso, e Marrocos, com Saidia que, dado o tempo que demoraram até liberalizarem as entradas, foi um destino muito mais tímido e demorou muito mais tempo a arrancar”
Pode afirmar-se que o Porto Santo é o vosso terceiro destino de sol e mar?
No verão, sim. O Porto Santo foi um destino para onde sempre conseguimos manter a operação, porque é o nosso país e as pessoas sentiam que estava seguras. No entanto, em termos de destinos de praia, o Porto Santo, que tinha sido o nosso segundo destino em 2019, este ano caiu para quarto lugar – à frente temos Cabo Verde, Senegal e Tunísia, que este ano superou as expectativas.
Esta queda do Porto Santo não teve a ver com a falta de procura, aliás em termos globais de mercado acredito que o Porto Santo esteja à frente da Tunísia em termos de procura em Portugal Continental. O que aconteceu foi que não conseguimos aumentar a capacidade em termos de hotelaria. No caso da Solférias tivemos a nossa operação com voos de Lisboa e do Porto e não existem no destino camas disponíveis que nos permitissem aumentar a capacidade nem vender muito além do que está contratado.
Os destinos funcionam de acordo com a lei da oferta e da procura. O Porto Santo subiu muito o preço do alojamento e as pessoas dizem que está muito caro. Tem que haver alguma atenção por parte dos hoteleiros relativamente ao preço já que em termos de futuro isso poderá fazer com que entrem em perda?
É realmente a a lei da oferta e da procura. Os hoteleiros aumentam os preços consideravelmente e a verdade é que o produto vende-se mas o que penso é que devem ter atenção para não destruírem o destino. Se existe mercado que pague este valor, pois que apliquem esses valores mas deem serviços condizentes com o valor que aplicam. Se o destino vale e se o produto vale, que apliquemos o valor, mas temos que ser sérios e temos que prestar serviço de acordo com os valores que estamos a cobrar, não podemos, jamais, estar a prestar um serviço medíocre face aos preços que estamos a praticar. Isso sim, pode destruir a imagem de um destino.
No caso da Tunísia, a que é que se deveu o “salto” de vendas?
Este ano fizemos uma aposta forte na Tunísia em operações charter para Monastir e para Djerba, além de contarmos com os voos regulares da TAP para esses destinos. Por outro lado, sendo um destino próximo e com bastantes facilidades em termos de medidas Covid – podemos viajar apenas com o certificado de vacinação – isso também facilitou.
As limitações sanitárias podem influenciar o sucesso ou não de um destino e de uma operação, basta fazer a comparação entre a Tunísia, que foi um sucesso, e Marrocos, com Saidia que, dado o tempo que demoraram até liberalizarem as entradas, foi um destino muto mais tímido e demorou muito mais tempo a arrancar.
Que outros destinos, para além destes de que já falámos, se salientaram durante o verão?
A Disneyland Paris foi, também este ano, um grande destaque positivo. Este ano, a Disney é o nosso destino número três, dentro dos Top 5, e tem sido uma agradável surpresa a recuperação de vendas que temos feito para a Disneyland Paris.
Outro destino que se destacou foi as Maldivas, que tem sido um caso de sucesso no pós-Covid, tanto que em 2021 até parecia que tínhamos um charter para as Maldivas, tanta foi a procura, talvez pela segurança que transmitia pelo destino. As pessoas tinham confiança no destino e conseguimos chegar a números, em 2021, a que nunca tínhamos pensado chegar. Para se ter uma ideia, em 2019 vendemos 800 passageiros para as Maldivas e em 2021 vendemos 2.700, e este verão o destino continuou a ter uma tendência muito positiva.
No pólo oposto, esteve Cuba. Dizia-me há pouco, antes de começarmos a entrevista, que não irão voltar a apostar em Cuba se não fizerem antes uma inspecção ao destino.
Nós, no pós-Covid, tentámos ir alargando os destinos à medida que os íamos visitando. Cuba, pensámos que estava no momento de abrir mas provavelmente acabámos por ser um pouco precipitados, por isso queremos ter a segurança de ir ao destino fazer uma visita de inspeção e verificar in loco quais os hotéis que nos dão a segurança para podermos manter o nível de serviço Solférias. Nós gostamos de lançar destinos mas com qualidade de serviço e esse serviço que possamos prestar está sempre dependente de terceiros, dos nossos parceiros, dos hotéis que escolhemos, dos DMCs e das companhias aéreas que escolhemos e Cuba, tendo em conta este período que está a atravessar, é fundamental que façamos uma visita antes para decidirmos quais os destinos que nos dão segurança para voltarmos a programar este destino.
Na segunda parte da entrevista a Sónia Regateiro, diretora de Operações da Solférias, que poderá ler na próxima segunda feira no Turisver, vamos abordar:
- Programação de inverno
- Réveillon 2022-2023
- Relações com o mercado