O turismo não é “empacotar” as pessoas e mandá-las ao “Deus dará”

Na segunda parte da entrevista com José Manuel Antunes, diretor geral da Sonhando, a abordagem foi virada para o ano de 2022. A programação, que já se assemelha à apresentada ao mercado em 2019 pela Sonhando, foi o tema principal.
Pensar em 2022 já foi com outra convicção?
Quando começámos a pensar em 2022 já foi na perspetiva de poder vir a ser um ano muito similar a 2019, que foi um ano excecional. Estamos no fim de fevereiro e o ritmo das vendas que se está a registar dá-nos razão porque é muito bom. Não se trata apenas da Sonhando mas do próprio mercado, que está a ser compensado pelos esforços que fez. Os portugueses estão a sentir a necessidade de viajar e isso está a notar-se nas reservas.
Os destinos são os já tradicionais na Sonhando?
Em 2013, quando regressei a Portugal, tentei não enveredar pelos destinos de sucesso no mercado e fazer algo novo. Lançámos Cayo Coco, em 2014 retomámos Porto Santo que tinha sido abandonado, e a Tunísia. Curiosamente, passados nove anos, são os nossos principais destinos, agora já com concorrência.
Este ano temos uma excelente parceria com a TAP que finalmente teve uma abertura grande relativamente aos operadores
Este ano temos uma excelente parceria com a TAP que finalmente teve uma abertura grande relativamente aos operadores. Essa parceria começou pelos destinos das Caraíbas, concretamente Cancun e Punta Cana, e está a ser um sucesso mesmo no inverno. Está a ser bom para o operador, está a ser bom para o mercado e, obviamente, está a ser bom para a TAP.
Temos previsto fazer parcerias com a TAP para outros destinos, nomeadamente para Fuerteventura, Ibiza e Agadir. Também com a TAP vamos reforçar muito a operação da Madeira.
Ainda com a TAP vamos retomar o Brasil. Tivemos dificuldade em convencer a TAP de que éramos o parceiro ideal para desenvolver este mercado mas felizmente este ano a TAP voltou a acreditar em nós e deu-nos condições que nos permitem lançar os destinos tradicionais de turismo no Brasil. A Sonhando tinha operações na Páscoa e no fim de ano, mas agora vamos alargar a oferta a todo o ano para os destinos Salvador da Bahia, Natal, Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro e Maceió.
Novidade é que vamos aparecer com um programa para as Maldivas, com algumas exclusividades ao nível do alojamento.
No caso do Brasil, a parceria com a TAP vai possibilitar uma operação muito alargada?
Embora tenhamos dias marcados de saída para cada destino, esta parceria possibilita-nos, realmente, realizar uma operação já com alguma dimensão, já que vamos ter perto de uma centena de lugares por semana para o Brasil. Se considerarmos que se trata de 52 semanas, já andará perto dos 5.000 lugares, o que tem algum peso.
São Tomé é aposta forte para este ano?
Sempre foi, aliás, juntamente com Porto Santo, foi dos destinos que nunca abandonámos e estamos a vender muito bem. Houve um período em que a STP Airways suspendeu os voos mas tirando isso mantivemos sempre o destino.
Também ligado ao proprietário da Sonhando, temos outro destino muito atrativo que ainda não está muito divulgado que é a Guiné, com os Bijagós, onde já há alojamento com qualidade.
Cuba com a novidade Cayo Cruz
Além de Cayo Coco e Cayo Guillermo, este ano a Sonhando programa outro Cayo que antes não tinham…
A nossa operação para os Cayos, tem como ponto de partida Cayo Coco, que é para onde voamos, desde a primeira hora, com a euroAtlantic airways, que é a companhia aérea do grupo. Depois, além de Cayo Coco, fomos para Cayo Guillermo e é verdade que ainda não programávamos Cayo Cruz porque não havia lá hotéis.
A hotelaria avançou para Cayo Cruz e nós fomos com a hotelaria. Quem optar por Cayo Cruz pode ir com a certeza de encontrar hotéis novos e com grande qualidade. Por outro lado, Cayo Cruz não é muito mais longe, são mais 20 minutos de transfere, para o lado contrário de Cayo Guillermo.
Para além dos Cayos, mantêm o circuito?
Mantemos o circuito à partida dos Cayos, vamos a Havana e a Trinidad, e ainda temos esperança de poder vir a fazer o combinado com Havana, depende apenas de haver voos internos de Cayo Coco para Havana e neste momento ainda não estão a ser operados.
Quais vão ser as vossas operações mais extensas este verão?
Porto Santo e Tunísia. Para a Tunísia os voos começam no primeiro sábado de junho. Vamos ter quatro voos, dois para Djerba que é um de Lisboa e outro do Porto e dois para Monastir, também um de Lisboa e outro do Porto. Os voos para a Tunísia continental abrangem pacotes para Hammamet, Monastir, Port el Kanntoui e também para Mahdia.
O voo de Djerba é o primeiro, começa a 4 de junho e o de Monastir começa na segunda feira seguinte, 6 de junho, quando começa também o voo para Porto Santo.
A diferença está em que a operação para a Tunísia acaba no dia 17 de setembro e para Porto Santo prolonga-se até dia 10 de outubro. No total, são 40 voos para Porto Santo.
Em relação a 2019 o que temos a menos é a operação para Varadero mas em substituição temos a parceria alargada com a TAP que acaba por nos dar mais passageiros do que dava Varadero porque é o ano todo.
Esta operação charter, somada à programação com a TAP, já vos deixa muito perto da vossa oferta de 2019.
É igual. Em relação a 2019 o que temos a menos é a operação para Varadero mas em substituição temos a parceria alargada com a TAP que acaba por nos dar mais passageiros do que dava Varadero porque é o ano todo. Presumo que, muito provavelmente, 2022 seja um ano muito similar ao de 2019.
E porque é que decidiram não programar Varadero?
Nos últimos anos operámos Varadero em parceria com a Jolidey, do grupo Barceló. Entretanto houve outro operador espanhol que se estabeleceu em Portugal, do grupo Iberostar, que dá pelo nome de Newblue que, pura e simplesmente, decalcou a programação da Jolidey.
Quando esse novo operador apresentou a sua programação, fizemos um estudo sobre as margens de uns e de outros e é preciso que se diga que, apesar de não termos a grande capacidade que eles têm nas Caraíbas porque não temos os custos iguais – eles têm avião e nós não -, a programação da Sonhando para as Caraíbas com a TAP consegue apresentar preços mais baratos do que os operadores espanhóis para Cancun e Punta Cana. Só que em Varadero, o que observámos foi que os preços que eles publicaram são preços que nós consideramos de dumping objetivo. Mais: nós chegámos a negociar lugares de avião com um desses operadores mas quando fizemos os nossos preços verificámos que ficavam exorbitantemente mais caros, sendo que nós estávamos a trabalhar com as margens normais, ou seja, as margens que nos permitem pagar as comissões que pagamos e ficar com uma parte. É preciso que se diga e é preciso que o mercado saiba, que a margem com que os operadores ficam nunca é muito superior a 2% ou 3%, o que não nos deu margem de manobra para fazer o acordo.
A administração da Sonhando entendeu que vai haver uma guerra sem quartel entre os operadores espanhóis, nomeadamente os dois que referi e nós ficaríamos no meio. Para servir mal o mercado, e ainda por cima perder muito dinheiro, preferimos não programar Varadero, até porque nestes casos a tendência é sempre para aviltar o produto.
Enquanto eu estiver à frente de um operador, a filosofia será sempre a de que as férias têm que ser um momento de felicidade para as pessoas, até porque muitas fazem sacrifícios para viajar e eu tenho muito respeito por essas pessoas. São elas que nos pagam o salário.
Também há que notar que os seguros não têm as garantias que o nosso seguro tem. Os nossos cobrem tudo, até o cancelamento na véspera da viagem por Covid, com a pessoa a ser indemnizada a 100%. Os operadores espanhóis não têm esse seguro.
É bom que se note que a Sonhando tem uma estrutura em Cuba com sete funcionários, dois carros e duas motos e, claro, telemóveis para atender os nossos clientes. Mais ninguém tem este tipo de estrutura. Obviamente que isto tem custos mas também dá garantias acrescidas aos passageiros, principalmente num ambiente de pandemia. Nós achamos que o turismo é isto e não “empacotar” as pessoas e mandá-las ao “Deus dará”.
Enquanto eu estiver à frente de um operador, a filosofia será sempre a de que as férias têm que ser um momento de felicidade para as pessoas, até porque muitas fazem sacrifícios para viajar e eu tenho muito respeito por essas pessoas. São elas que nos pagam o salário.
Por isso não iria correr o risco de meter numa guerra de preços e muito menos pactuar com a perda de qualidade do produto e a decisão, com grande pena minha, foi a de interromper Varadero, onde a Sonhando também tem uma estrutura montada, que vai manter.
Na conjuntura que atravessamos, que é nova, é preciso reaprender ou é preciso fazer?
A Sonhando não esteve sozinha na “luta” que travou nestes dois últimos anos. Nós estamos assentes num grupo e numa companhia aérea, a euroAtlantic airways, que nos deu o suporte de que precisávamos para pôr a cabeça a trabalhar e criar coisas como as que referi, que eram bem mais difíceis se não tivéssemos esse grande contributo de equipa, e esta é uma coisa que quero deixar bem clara.
Mas respondendo diretamente à pergunta, nós não podemos viver do passado, se vivêssemos não teríamos introduzido as inovações que introduzimos, não iriamos fazer coisas diferentes. Um operador turístico que quer propor férias diferentes às pessoas tem que estar sempre conotado com a inovação que é a mola real de tudo na vida. Portanto, é preciso fazer, sim, mas também é preciso aprender e reaprender.
E porque estamos a falar de reaprender, de fazer, há uma coisa que não posso deixar de dizer e que é mesmo para publicar: quero dizer que é um enorme prazer ter o Turisver de volta. O Turisver foi, durante mais de três décadas, uma referência da informação no turismo e além da amizade fraterna que me liga às pessoas do Turisver, a ele também me ligou sempre a linha editorial. Independentemente de ter amizade pelos outros órgãos de informação, durante este tempo senti muito a falta do Turisver pelo que este é um momento de grande alegria. Bem hajam pelo regresso.
Ontem no Turisver.com foi publicada a primeira parte da entrevista com José Manuel Antunes, onde o diretor geral da Sonhando, contou como foram vividos na empresa os dois anos de pandemia. Pode ler aqui .