Novos investimentos projetados para o Lutécia vão ser “muito marcantes” para o hotel, afirma João Freitas

João Freitas assume, desde há 16 anos, celebrados em junho, a direção-geral e a direção de vendas e marketing do Lutécia Smart Design Hotel, por isso a nossa conversa começou por aquilo que era o então Hotel Lutécia, estendendo-se para o futuro próximo por via dos novos projetos que estão a iniciar-se nesta unidade hoteleira.
São muitos os anos que o ligam a esta casa [Lutécia Hotel]. Ainda se lembra do início?
Lembro-me perfeitamente. Foi em junho de 2006 que vim para o Lutécia e na altura foi um desafio completamente diferente daquele a que estava ligado. Antes de vir para aqui era diretor-geral do Regency Chiado, um hotel boutique com 40 quartos e na altura praticamente não havia hotéis boutique no centro da cidade, aquele era quase o único – o Bairro Alto Hotel ainda nem seque tinha aberto. O Lutécia representava um desafio muito grande para mim, desde logo pela localização, numa zona diferente de Lisboa e por ser uma unidade com muito mais quartos, com outro tipo de target de clientes, mas foi um desafio bom e às vezes nem parece que já passaram 16 anos.
O padrão que o hotel tem hoje já estava pensado naquela época ou houve algumas evolução?
Houve uma evolução gigantesca. O hotel que eu encontrei em 2006 tinha sido completamente remodelado dois anos antes mas numa versão de quatro estrelas standard. Tinha uma decoração que se usava muito na altura, com os móveis em wengueo que tornava o hotel um pouco escuro por dentro mas com os anos resolvemos começar a mudar o hotel e a reposicioná-lo e em 2014 fizemos uma remodelação total para o posicionarmos como quatro estrelas superior. O Lutécia passou a ser um hotel temático, cada piso tem uma decoração e um ambiente próprios. A tendência do turismo passa por proporcionar experiências aos clientes e foi isso que pretendemos atingir em 2014, dando aos nossos hóspedes a possibilidade de ficarem em pisos diferentes e com isso poderem ter sempre sensações e experiências diferentes.
Em 2014 a marca do hotel também mudou, passando de Hotel Lutécia para Lutécia Smart Design Hotel.
Quando entrou no hotel já tinha as funções que tem hoje?
As minhas funções foram sempre as mesmas, entrei como diretor-geral e como diretor de vendas e marketing e assim se mantém até hoje. O meu background é muito comercial, pelo que sempre fez sentido aproveitar esse meu know-how.
Direção de vendas e marketing e direção-geral as diferenças que tornam as funções aliciantes
Que área é dá mais prazer em termos de trabalho?
É muito difícil dizer. Gosto muito da parte comercial, gosto de contactar potenciais clientes, agências de viagens, operadores turísticos, empresas, como gosto muito de viajar e de semear para conseguir captar esses clientes. Gosto de conhecer novas culturas e de usar esses conhecimentos para que nos possamos adaptar a elas no hotel e assim servirmos o melhor possível os nossos clientes.
Por exemplo, os clientes israelitas têm umas particularidades ao nível de F&B a que fazemos questão de nos adaptarmos quando temos clientes desse mercado para que eles se sintam bem.
A parte de diretor-geral também me dá muito prazer porque tenho o poder de mudar as coisas rapidamente tendo em vista a satisfação do cliente. Quando um cliente faz uma sugestão que faz todo o sentido e podemos alterar, fazemo-lo na hora e isso dá-me muito prazer.
Quando fizemos a remodelação do hotel em 2014, passámos a ter quartos triplos verdadeiros, em que a terceira cama é exatamente igual às outras e isso resultou do feedback que nos foi dado pelos clientes antes dessa data. Tínhamos clientes que diziam que a nossa terceira cama era uma cama extra, que não era igual às outras e pensei logo fazer a alteração quando fizéssemos a remodelação. Por isso, hoje temos 14 quartos triplos verdadeiros.
O hotel sempre teve uma clientela diversificada ao longo de todos estes anos?
Muito variada, embora em 2006 o hotel estivesse muito conotado e muito dependente de grupos e de alguns operadores, o que não me agradava. Sempre quis trabalhar com todos sem estar dependente de ninguém porque a teoria de colocar todos os ovos no mesmo cesto não resulta. Portanto, nessa altura houve uma mudança, aliás teve que ser feita porque os nossos objetivos de vendas não se coadunavam com isso.
Quando se está muito dependente de um determinado segmento ou mercado, sempre que há problemas a tendência é para esmagar o preço…
Claro. Eu vim da área da aviação e também aqui o nosso inventário não muda: os nossos 175 quartos são sempre 175 quartos, pelo que eu só posso tentar vender o melhor possível a cada dia para faturar mais. Um dos truques para conseguirmos vender cada vez melhor é conseguirmos ter um mix muito completo, por isso não queremos ser nem um hotel de grupos de lazer nem de grupos de MICE (apesar de ser um segmento muito bom há determinados períodos em que o MICE não funciona, o que penalizaria o hotel).
O nosso objetivo é termos um bom mix com individuais, grupos de lazer, grupos de MICE, grupos desportivos que são a nossa nova vertente – o que nos interessa é adaptarmo-nos a diversos tipos de clientes. Obviamente que temos apostado bastante no mercado de MICE porque é dele que se conseguem tirar melhores rentabilidades.
Mercado nacional representa 25% da ocupação do hotel
A pandemia foi o seu pior pesadelo?
Sem dúvida. Uma coisa é as vendas serem mais baixas, haver um operador que vai à falência, um mercado que deixa de enviar clientes para Portugal por não haver voos, outra coisa bem diferente é ter “zero” atividade, ter que fechar a porta, não ter nem um empregado aqui dentro. Durante mais de três meses a porta esteve completamente fechada e foi um pesadelo inimaginável.
No passado havia muitos filmes sobre pandemias e cada vez que eu via algum achava que era um exagero, que não iria acontecer a ninguém, afinal aconteceu-nos. Foi de repente, foi inesperado e aconteceu num momento em que tínhamos acabado de celebrar 50 anos. Em dezembro de 2019 celebrámos 50 anos e estávamos muito felizes, muito animados com os próximos 50. Continuamos animados mas foram dois anos terríveis.
Quando é que começaram a perspetivar que desta vez o turismo ia mesmo arrancar?
Durante a pandemia acabámos por nos focar num segmento de mercado que não trabalhávamos que são os grupos desportivos porque estes eram os únicos grupos que viajavam em Portugal durante a pandemia, eram os únicos que estavam autorizados a fazer refeições em grupo. Focámo-nos nisso e foi uma ótima ajuda, pelas receitas, por permitir manter as equipas a trabalhar, por termos clientes a entrar no hotel. Foi um período interessante e acabámos por ganhar um segmento novo que vem complementar os outros e hoje já somos muito procurados para estágios de equipas em Lisboa. Já temos o know-how, já servimos centenas de equipas – temos equipas que já estiveram connosco várias vezes – e já sabemos como as servir.
Em setembro de 2021 sentimos que se calhar isto estava a voltar. setembro foi um bom mês, outubro foi muito bom, novembro também mas de repente entrámos numa nova vaga e começaram a surgir os cancelamentos das reservas. dezembro voltou a ser um mês horrível, janeiro também foi muito fraco mas a partir de fevereiro-março as coisas começaram a compor-se e abril já foi um mês excelente. A partir daí a situação tem estado muito boa e acho – e faço votos – que já não vamos parar mas claro que é uma incógnita. De uma coisa tenho a certeza: as nossas previsões, os nossos forecasts estão sempre sujeitos a que tudo muito de um momento para o outro.
Esta retoma dá-se com os mesmos mercados ou houve alterações?
No nosso caso houve bastantes alterações. Trabalhávamos muito bem com o mercado asiático e esse ainda não voltou e o mercado brasileiro, que era o nosso segundo mercado, está a voltar mas longe ainda dos níveis de 2019. Temos andado a captar mercados mais próximos, nomeadamente os europeus, embora tanto os Estados Unidos como o Brasil estejam a crescer.
Qual é hoje a quota do mercado nacional?
O mercado nacional é sempre o nosso primeiro mercado, representa 25% e isso porque trabalhamos muito com o mercado corporate, e agora com o desportivo, que na maioria é composto por equipas portuguesas. Para quem vem em Lisboa em trabalho e conhece bem a cidade, a nossa zona é fantástica, não tem demasiado movimento, tem locais para estacionar, o que não acontece na zona da baixa.
Por outro lado, temos cinco salas de reuniões com capacidade até 140 pessoas em plateia, todas com luz natural. Estamos agora a fazer um investimento considerável no hotel todo, que estará concluído, o mais tardar, a 15 de julho, para tornarmos o nosso wi-fi ainda mais “premium”, com maior largura de banda, antenas de uma geração mais recente, para podermos dar mais qualidade aos clientes.
“Lutécia vai ter “um rooftop com bar e com piscina, o projeto está a avançar, embora não tenhamos ainda data para a conclusão”.
Com as incertezas todas ainda existem, já traçaram um plano para a estratégia a empreender nos próximos meses?
Quer eu quer a minha administração – tenho a sorte de estarmos muito alinhados – temos a noção de que só através do investimento na qualidade conseguimos fazer subir o preço, por isso continuamos a investir muito no hotel. Por exemplo, no inverno de 2019-2020, antes da pandemia, remodelámos completamente todas as casas e banho do hotel.
Chegámos à conclusão de que as nossas televisões precisam de um upgrade, não porque tenham problemas mas porque hoje o cliente quer chegar ao quarto e ter uma televisão com mais de 50 polegadas, por isso em breve iremos mudar todas as televisões do hotel.
Além disso, temos outros planos de investimento que ficaram um pouco em standby devido à pandemia, mas em que agora estamos a pegar em força.
Soube também que estão com novos projetos, é assim?
Já tínhamos anunciado, em 2019, que iriamos fazer um rooftop e agora vamos fazê-lo, embora com um projeto diferente. Vai ser um rooftop com bar e com piscina, o projeto está a avançar, embora não tenhamos ainda data para a conclusão. O meu grande desejo é que esteja concluído para o verão de 2023, mas não sei se dará tempo porque é um projeto de grande dimensão, vamos ter que reforçar a estrutura por causa da piscina. Vai ser algo muito marcante para o hotel, vai fazer subir mais o nosso nível e penso que será até importante para toda a zona de Alvalade.
Além disso vamos fazer uma esplanada no restaurante (1º andar) que nos vai aumentar a capacidade mas também trazer um público diferente, incluindo lisboetas que venham almoçar ou jantar na esplanada. No fundo, vai dar uma vida diferente ao hotel. Já estamos a trabalhar nesse projeto mas também ainda não tenho datas para a conclusão, talvez em 2023.