No mercado português a tour operação continuará a ser dominante para Cabo Verde apesar da entrada da easyJet
Esta foi uma das conclusões do painel “Cabo Verde e os novos segmentos de mercado” da conferência “Cabo Verde: 60 anos de voos, 60 anos de turismo”, da Universidade Lusófona, que contou com Nuno Mateus, Alexandre Abade e Mário Almeida. No painel ficou também claro que a ilha do Sal vive já um deficit de alojamento mas tem espaço para crescer.
Nuno Mateus, diretor-geral da Solférias, Alexandre Abade, CEO do Grupo Oásis Atlântico e Mário Almeida, Executive Board Member da Newtour, participaram no painel “Cabo Verde e os novos segmentos de mercado” da conferência com que a Universidade Lusófona assinalou os 60 anos de voos entre Portugal e Cabo Verde. Como “pano de fundo” esteve sempre a entrada da easyJet no mercado cabo-verdiano com voos à partida de Lisboa e do Porto, com os oradores a concordarem que a entrada do novo player vai acarretar novos desafios para Cabo Verde, a começar pela ilha do Sal, mas não terá impacto no panorama da operação turística do mercado português.
A preferência do mercado português pelo ´Tudo Incluído’, a segurança que os pacotes de férias produzidos pelos operadores turísticos dão ao consumidor, nomeadamente por garantirem alojamento numa ilha – o Sal – em que as camas começam a escassear em algumas épocas do ano, estão na base da certeza que deixaram, â qual também se junta uma certa tradição – afinal há mais de uma década que os portugueses fazem férias em Cabo Verde pela mão dos operadores turísticos.
Esta tradição e a evolução do mercado luso para Cabo Verde, foi lembrada pelo diretor-geral da Solférias que contou um pouco da história de um destino que continua a ser líder em Portugal, de tal forma que considerou que “Cabo Verde é um case study”. Um destino que se desenvolveu no mercado português principalmente desde o início das operações charter, fruto da liberalização do espaço aéreo, em 2004.
Com o Sal a ser ainda hoje o principal destino dos portugueses que rumam a Cabo Verde, seguido da Boavista, Nuno Mateus disse concordar com as afirmações proferidas por Sónia Regateiro ao dizer que teria sido preferível que a easyJet voasse para Cidade da Praia, ao invés de voar para a Ilha do Sal. E explicou: “Neste momento, os hotéis da ilha do Sal estão cheios, aliás, não há um quarto disponível na Ilha do Sal”.
A propósito, acrescentou que “eu gosto de concorrência, mas é necessário construir muito mais hotéis e também o alojamento local”, sendo este um dos grandes desafios que se colocam agora a este destino.
Afirmando não estar contra ninguém e dando nota de que a Solférias voa com todas as companhias, e que terá “todo o gosto” em colaborar com a easyJet, Nuno Mateus falou da segurança que é para o consumidor viajar com um operador turístico: “A nossa programação é feita a um ano de antecedência” e “o para o número de lugares disponíveis nos aviões, temos um número equivalente em camas”, afirmou.
No caso dos operadores turísticos que vendem através das agências de viagens, o consumidor não pode comprar apenas o lugar de avião sem o alojamento, “portanto, a grande segurança que nós temos é a qualidade”, afirmou, deixando um desabafo: “O operador turístico, muitas vezes, não é valorizado ou só é valorizado quando há dificuldades”, como aconteceu com a Covid.
Operação da easyJet colocará novos desafios a Cabo Verde, em especial à ilha do Sal
Também Mário Almeida, da Newtour, concordou que a entrada da easyJet no mercado não terá impacto na operação turística: “aos operadores portugueses não afectará grandemente, porque a preferência pelo sol e praia vai continuar”. Terá, sim, impacto, no destino porque “vai levar outro tipo de turismo” que vai “trazer desafios”, nomeadamente “desafios de segurança, de alimentação, de sustentabilidade e de recursos humanos – nós temos que ter mais gente e não temos”.
A mesma opinião foi partilhada por Alexandre Abade, CEO do grupo hoteleiro português Oásis Atlântico, que tem seis hotéis em Cabo Verde, estando presente nas ilhas do Sal, Boavista, São Vicente e Santiago, onde temos dois hotéis, na Praia e no Terrafal, no Norte de Santiago.
Há 25 anos a operar em Cabo Verde, Alexandre Abade frisou que “aquilo que nós temos verificado ao longo dos anos é que o aumento da concorrência, seja a nível da hotelaria, seja a nível da aviação, tem provocado um crescimento no número de turistas que vão para Cabo Verde e essa é uma tendência que não voltará para trás”.
Relação com tour operação não vai ser posta em causa nos Oásis Atlântico
Relativamente à ilha do Sal, afirmou que “não há como esconder” o problema do déficit de camas, tanto assim que “um dos nossos hotéis atingiu pela primeira vez, uma taxa de ocupação de 99%, coisa que eu achei que não era possível”. Na sua opinião, o Sal ainda tem “espaço para crescer” e “tem que haver um aumento da oferta hoteleira para permitir o crescimento da oferta a nível da aviação”, só que, como isso “não vai acontecer de um dia para o outro” coloca-se “um desafio muito grande”, não apenas no que se refere ao número de camas, que podem ser complementadas pelo Alojamento Local, mas também ao nível dos recursos humanos, que não existem.
No Sal, disse, o principal mercado dos hotéis da Oásis Atlântico é o turista português que vai através dos operadores turísticos e as reservas diretas servem apenas como “complemento”.
Adiantando que “a operação hoteleira é mais vantajosa através da tour operação”, Alexandre Abade notou, no entanto, que “compensa trabalhar com os dois canais” mas “sabendo bem quem têm sido os nossos parceiros ao longo dos últimos 25 anos, e não colocando em causa essa relação”.
Porque os pacotes dos operadores têm como base as 7 noites de alojamento e os clientes de uma easyJet, ou outra companhia, tanto podem estar mais ou menos do que 8 dias, Mário Almeida disse acreditar que isso possa ser um problema: “Para um hotel como os da Oásis isso pode ser um problema porque se o cliente ficar 4 dias vai “exigir limpar mais limpar mais o quarto, vai exigir muito mais coisas”.
O painel focou ainda questões relacionadas com o preço: vai ou não a easyJet provocar reduções de preços nas tarifas de outras companhias aéreas ou nos pacotes turísticos, o que abordaremos noutra peça.