Não decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa custou ao país 120 milhões de euros em 50 minutos
Nos 50 minutos da sessão em que a CTP apresentou o estudo sobre o impacto económico da não decisão sobre o novo aeroporto o país perdeu 120 milhões de euros, segundo um contador que se pode ver também no site da Confederação. Mas as perdas podem chegar a mais de 21 mil milhões se não houver novo aeroporto até 2034.
O turismo tem vários problemas mas “desde há vários anos a esta parte, como temos dito, tem “’o’” problema que se chama aeroporto – esse é o nosso problema, um problema que se arrasta há muitos e muito anos e não vale a pena conseguirmos resolver tudo o que esta atividade económica tem de problemas se depois não tivermos uma forma de os nossos turistas poderem cá chegar”.
A afirmação é do presidente da Confederação do Turismo de Portugal, proferida esta quinta feira no início da apresentação do estudo encomendado à consultora Ernst & Young para avaliar os impactos económicos e sociais da não decisão sobre a situação aeroportuária de Lisboa. Porque, como também sublinhou Francisco Calheiros, os impactos negativos não se fazem apenas sentir em Lisboa mas em todo o país, e não apenas no turismo mas nas empresas e em toda a economia.
O estudo da “não decisão” aponta para quatro cenários, cada um com impactos diferentes, tendo como ponto de partida o tempo necessário até à operacionalização de um novo aeroporto, estimada em seis e 12 anos e também se a retoma da procura se faz de forma mais rápida ou mais lenta.
O primeiro cenário baseia as suas previsões numa recuperação lenta do turismo e numa decisão imediata sobre o novo aeroporto, com ampliação aeroportuária em 2028 (seis anos). O cenário 2 baseia-se na decisão imediata (alargamento a funcionar em 2028) e recuperação rápida do turismo. Já os cenários 3 e 4 baseiam-se no adiamento da decisão, com a ampliação aeroportuária a entrar em funcionamento apenas em Janeiro de 2035, sendo que um tem em conta uma recuperação lenta da procura e outro prevê uma recuperação rápida. De comum têm uma conclusão “a procura não satisfeita pelo Aeroporto Humberto Delgado implicará custos muito significativos durante os próximos anos, em especial no setor do turismo, mas também indiretamente em toda a economia portuguesa”.
Para já, tendo em conta o que está a acontecer, os cenários de recuperação lenta ficam, inevitavelmente de fora, porque a procura está a aumentar acima do que era expectável e a recuperação já está a acontecer. Ficam, portanto, do estudo, os cenários 2 e 4, onde a única questão que se coloca é a de saber quanto tempo vai levar a decisão: seis ou 12 anos? Mas seja num ou noutro caso, perdas para a economia vão sempre acontecer e são de grande monta. “Se for o cenário mais rápido de decisão [novo aeroporto em 2028], já não nos livramos de perder 6,8 mil milhões de euros de impacto de Valor Acrescentado [Bruto] na nossa economia, 27 mil empregos e uma receita fiscal de 4,7 mil milhões de euros. Disto já não nos livramos, porque a decisão ainda não está tomada”, avisou Francisco Calheiros.
Perdas podem chegar aos 21,4 mil milhões de euros
A estes números, ainda no cenário que foi considerado como “mais plausível” [Portela+1] em 2028 e recuperação rápida da procura, junta-se ainda uma perda de receita fiscal estimada em 1,9 mil milhões de euros. Somando o VAB não realizado e os impostos não cobrados “o país pode vir a perder cerca de 9.000 milhões de euros até 2027”. Ou seja, as perdas económicas poderão chegar a 0,77% do Produto Interno Bruto (PIB) e a 0,95% no emprego, conclui o estudo apresentado por Paulo Madruga da EY.
Já num cenário extremo, em que a decisão sobre o novo aeroporto demore 12 anos, com Portela+1 a estar disponível apenas em 2034, mantendo-se a procura a recuperar totalmente em 2023, os danos para a economia serão bastante superiores, com os impactos globais no VAB a atingirem os 21,4 mil milhões de euros, cerca de menos 40 mil empregos por ano e a perda de receita fiscal a situar-se nos seis mil milhões de euros até 2034.
O que o estudo também conclui é que “na ausência de um segundo aeroporto, num cenário de recuperação mais rápida da procura, entre 2022-2034, se possa perder cerca de 19 milhões de turistas, que equivale a uma despesa de 13 mil milhões de euros.
Para que se possam acompanhar ao segundo as perdas que a não decisão sobre o novo aeroporto acarreta, existe um contador no site da Confederação do Turismo de Portugal, tal como existia, também, na sala onde se realizou a conferência de imprensa. O contador, como explicou Paulo Madruga, “reflete o cenário 2” que é, segundo o presidente da CTP, o “menos mau”.
A atentar no que mostrava o contador, o “menos mau” é, ainda assim, muito mau, já que, no final dos 50 minutos da conferência de imprensa, as perdas acumuladas foram de 120 milhões de euros.