“Não cheguei ao topo, ainda tenho muito para escalar”, diz Rita Amorim vencedora do Xénio de Melhor Gestor de Revenue Management

Filha de um hoteleiro, Rita Amorim, Accor Senior Revenue Manager Iberia, desenvolveu desde muito nova a paixão pela hospitalidade, a que mais tarde juntou a paixão pela área de Revenue Management que considera ser “uma cola que une o hotel”. Ao Turisver, a vencedora do Xénio para Melhor Gestor de Revenue Management confessou que não se via a fazer nada fora do setor da hotelaria.
O que é que a trouxe para a hotelaria?
Bem, para quem não sabe, o meu pai é proprietário de um hotel, o Arribas Sintra Hotel, por isso eu cresci no meio, comecei a ajudar no hotel desde muito nova e a paixão pela hospitalidade cresceu. Depois o meu irmão foi visitar umas universidades na Suíça, as três top da hospitalidade, apaixonei-me por completo pelo mundo da hospitalidade e foi aí que tudo começou.
O seu irmão também está na hotelaria?
Também está, sim, é uma família quase toda dedicada à hospitalidade, exceto a mãe que é médica, mas está-nos no sangue, definitivamente.
E para além de ir ao hotel ajudar no que podia, começou na realidade por onde, em termos de formação na área?
Eu diria que começou tudo com a universidade, portanto eu estudei em Glion, na Suíça e dentro da nossa graduação era preciso fazer dois estágios, um mais operacional em F&B que fiz em Hong Kong, no Ritz-Carlton Hong Kong, e um mais administrativo que fiz na Xotels, uma empresa de consultoria de RM em Barcelona, e foi aí que despertou a paixão pelo Revenue Management. Depois de me graduar juntei-me ao Grupo Accor que me tem dado as oportunidades que irei partilhar.
“O Revenue Management é como uma cola que une o hotel, nós temos uma visão muito global do hotel, quer seja a nível de receitas e de custos, e portanto temos que trabalhar com todos os departamentos, temos que os unir”
O que é que viu na área de Revenue Management que a levou a fazer esta opção?
O Revenue Management tem um mix que eu gosto, que é muito interessante, porque estamos ligados aos hotéis, às operações, à equipa, e temos esse contacto pessoal que para mim é muito importante, mas depois também tem todo aquele aspeto estratégico e analítico, e ter esse mix de soft skills e hard skills interessava-me muito, e é o que gosto mais na área.
E essa área tem evoluído muito na sua opinião?
Sim diria que tem evoluído muito, ainda havia muitos diretores reticentes sobre o nosso papel na indústria, penso que ao longo dos últimos anos tem vindo a evoluir, eu diria que há muito poucos hotéis hoje em dia que não têm qualquer tipo de papel de Revenue Management, ou que não trabalham com o Revenue Manager, e está a começar a ser um standard na gestão dos hotéis.
Que orientações específicas essa área fornece para todas as outras áreas dentro de uma unidade hoteleira?
O Revenue Management é como uma cola que une o hotel, nós temos uma visão muito global do hotel, quer seja a nível de receitas e de custos, e portanto temos que trabalhar com todos os departamentos, temos que os unir, fazer chamadas semanais com as várias chefias do hotel, e definir uma estratégia para estarmos todos alinhados e trabalharmos todos para o mesmo objetivo.
Por exemplo, tem alguma influência direta na área do F&B?
Eu, atualmente, no grupo Accor não, mas algo que está a crescer muito na indústria é aquilo que se chama Total Revenue Management, em que passamos a fazer o Revenue Management não só de alojamento, dos quartos, mas também a nível global do hotel, de F&B, de reuniões, de eventos, do Spa, se o hotel tiver, e isso está a crescer cada vez mais na indústria, e as cadeias hoteleiras estão cada vez mais a investir nisso também.
“Principalmente há uma diferença de cultura, e também algo que é notável, que são os anos de casa que as equipas em Portugal têm, versus, por exemplo, no Reino Unido, onde há muito mais rotatividade de pessoal, e, portanto, é mais difícil criar uma relação profissional com as equipas, enquanto aqui em Portugal, eu tenho diretores que já estão na Accor há mais de 20 anos…”
Depois de se formar entrou logo para a Accor. Esteve sempre em Portugal?
Não, eu comecei no Reino Unido. Juntei-me à Accor como Junior Revenue Management, acabada de graduar, e estive cinco anos no Reino Unido, trabalhei com vários mercados, várias marcas, vários hotéis, e a Accor efetivamente deu-me a oportunidade de crescer, de ser promovida até Senior Revenue Manager, e ajudar a liderar equipas. Há cerca de um ano e meio que queria voltar para casa, por razões pessoais, e a Accor também me deu essa oportunidade, e agora estou a trabalhar com hotéis em Portugal e Espanha.
Um grupo como a Accor tem, de certa maneira, aos seus processos estandardizados em vários países, mas, mesmo assim, há diferenças entre trabalhar em Portugal, nos hotéis portugueses, e nos hotéis lá fora?
Principalmente há uma diferença de cultura, e também algo que é notável, que são os anos de casa que as equipas em Portugal têm, versus, por exemplo, no Reino Unido, onde há muito mais rotatividade de pessoal, e, portanto, é mais difícil criar uma relação profissional com as equipas, enquanto aqui em Portugal, eu tenho diretores que já estão na Accor há mais de 20 anos, e, portanto, conhecem muito bem as marcas, os mercados, e é possível, efetivamente, criar essa relação com eles.
Esta opção de ir trabalhar para a Accor, pelo peso que o Grupo tem, afastou-a um pouco da possibilidade de trabalhar “em casa”, ou seja, no hotel da família. Foi propositado?
Sim, eu acho que o hotel, neste momento, está em boas mãos, está nas mãos do meu pai, e, certamente, assim permanecerá por uns quantos anos. Eu acho que é ótimo eu ganhar experiência no mercado e conhecer como é que as grandes cadeias hoteleiras trabalham, para depois, um dia, no futuro, conseguir levar essa experiência comigo e ajudar o negócio da família.
Quem está a fazer o percurso todo dentro do mesmo grupo, não sente a falta de ter outras experências?
Eu diria que não, pelo facto que a Accor tem sido uma muito boa escola, primeiro que tudo, tem-me dado muitas oportunidades de crescimento e, para além do meu trabalho diário, enquanto Revenue Manager, permite-me trabalhar em projetos de escalas grandes, a nível da Europa, o que faz com que o trabalho diário não seja uma rotina e que eu me consiga desenvolver e reinventar todos os dias. Além disso, a Accor também tem tido alguma lealdade para comigo e eu gosto de devolver essa lealdade.
Obviamente que, se no futuro surgir uma nova oportunidade, não irei fechar essa possibilidade, mas, para já, a Accor tem-me tratado muito bem e tem sido uma grande escola.
Está sempre atenta ao que os outros fazem na sua área?
É a base do nosso trabalho. Nós estamos sempre a olhar para o que os outros hotéis estão a fazer e, em detalhe, para tentar fazer melhor. Isso é muito intrínseco na área do Revenue Management, esse benchmark com os outros hotéis. É fundamental.
O seu pai tem uma unidade hoteleira independente. A Rita trabalha num grande grupo internacional e, hoje, começa a haver alguma preocupação pelo facto de o investimento estrangeiro poder já começar a ser excessivo na hotelaria em detrimento do investimento português. Vê isso com naturalidade, ou também pensa nisso?
Logicamente também penso nisso, mas penso que, de certa maneira, é natural porque isso acontece em todo o lado, não é só em Portugal, apesar de que em Portugal nós estamos a ver um crescimento talvez elevado de investimento estrangeiro nos últimos anos. Mas no Reino Unido também era assim e, portanto, desde que crie emprego, que crie oportunidades para as pessoas que cá vivem e que desenvolva o turismo em Portugal, é o principal.
“Fico à disposição para qualquer pessoa que queira ir para a área de Revenue Management que me mandem uma mensagem no LinkedIn, porque acho que é muito interessante, ter essa experiência de falar com pessoas que já estão na área e que já estão no terreno no dia a dia”
A Rita não se via a fazer mais nada?
Dentro da hotelaria via-me a fazer uma ou outra função, mas fora da hotelaria não me via.
Que conselho deixava aos muitos jovens que hoje estão a tirar a sua formação para seguirem a carreira na hotelaria, independentemente de ser na sua área ou não?
Primeiro de tudo, eu diria que estagiar é muito importante – foi através dos estágios que eu percebi a direção que queria tomar, e não apenas com o meu estudo – e contactar pessoas que estão na área, eu acho que isso é fundamental. Eu, através da minha dissertação na graduação, consegui contactar várias pessoas na área e foi muito interessante falar com elas.
Portanto, fico à disposição para qualquer pessoa que queira ir para a área de Revenue Management que me mandem uma mensagem no LinkedIn, porque acho que é muito interessante, ter essa experiência de falar com pessoas que já estão na área e que já estão no terreno no dia a dia.
O que é que acha da existência de uma associação, que é uma associação de profissionais, de empregados e não de hoteleiros? Como é que olha para o papel da ADHP?
Eu acho fundamental, aliás, eu tenho muito orgulho na ADHP, acho que faz um papel enorme na indústria, também a nível de formação. Eu comecei recentemente a dar formação na ADHP e é fantástico ver as pessoas que aderem a estas formações, que querem crescer, que querem ir buscar conhecimento e que vêm de diferentes áreas. Isto está aberto para qualquer pessoa, de qualquer área e é uma maneira de entrar nesta indústria de que eu tanto gosto.
Em termos de conhecimentos, pensa que já atingiu o topo ou acha que há ainda muto para aprender na área da hotelaria?
A área da hotelaria é um mundo enorme, está constantemente a evoluir, o nosso mundo está constantemente a mudar, mesmo a área do Revenue Management. Portanto, definitivamente não cheguei ao topo, ainda tenho muito para escalar, digamos assim, e para aprender, e eu acho que a aprendizagem é superimportante no nosso dia a dia.