Na Solférias a tradição ainda é o que era em relação à procura por Cabo Verde, confirma Nuno Mateus

Nesta segunda parte da entrevista a Nuno Mateus, CEO da Solférias, o foco principal reside nas propostas que o operador colocou no mercado para este verão e na importância que esses destinos têm na gestão do operador.
Um dos destinos sempre no top de vendas da Solférias é a Disneyland Paris. Depois de dois anos de pandemia, a Disneyland Paris já conseguiu recuperar?
Já. Olhando para as vendas neste momento, a Disneyland Paris está no top 3 da Solférias. Durante muito tempo esteve fechada porque tinha que cumprir a legislação francesa e 2020 foi um ano muito complicado. Em 2021, curiosamente, penso que em outubro, as vendas dispararam de um momento para o outro, mas chegou a dezembro e quase houve um travão a fundo, não por causa da Disneyland Paris em si própria mas por causa da situação na Europa. Eles sempre foram muito cautelosos nas medidas e regras que implementaram e a partir do momento em que houve condições, as vendas vieram. Lançamos a Festa Mágica em fevereiro e foi um grande sucesso de vendas. Não tenho dúvidas que, em condições normais, a Solférias vai bater largamente os números de 2019 para a Disneyland Paris este ano.
A tradição ainda é o que era em relação à procura por Cabo Verde?
Cabo Verde é um fenómeno em termos de sucesso. Cabo Verde é um país que tem as suas dificuldades mas que tem condições naturais fantásticas e os governantes foram muito inteligentes na gestão da pandemia porque colaram toda a sua política de medidas contra o Covid às da Europa, e isso fez com que em 2021, quando o país abre as suas fronteiras, salvo erro em maio, só havia dois mercados a venderem Cabo Verde, a Polónia e Portugal, portanto, nos tínhamos a ilha do Sal por nossa conta. Avançámos com dois aviões, em parceria com outros dois operadores, e ao fim de pouco tempo já estávamos a voar com quatro e no final do ano tínhamos seis charters, o que nunca tinha acontecido.
Tudo foi muito bem feito em termos das medidas contra o Covid, o certificado de vacinação era cumprido, e isto ajudou ao sucesso. Havia muitos destinos que exigiam o PCR e um destino que exige PCR não tem muitas hipóteses de sucesso, apesar de poder haver exceções. Isto porque um PCR custa 100€, numa família de quatro pessoas, são 400€ para lá e outros tantos no regresso. Quando a maioria dos países da Europa deixou cair o PCR e passou a antigénio, Cabo Verde acompanhou e quando Portugal passou a exigir apenas o certificado de vacinação, Cabo Verde fez o mesmo. Como as regras eram exatamente iguais às portuguesas houve um marketing muito positivo da parte dos turistas.
Tudo isto fez com que Cabo Verde tivesse sido um destino de top em 2021 e em 2022 estamos exatamente no mesmo patamar. Este verão, pela primeira vez, vai haver cinco charters e só não colocamos mais porque temos problemas com os slots no aeroporto de Lisboa.
Para o Senegal as vendas são fantásticas
Nem o Senegal veio beliscar a procura por Cabo Verde?
Neste momento o Senegal é o segundo destino em vendas na Solférias, só que Cabo Verde é um destino consagrado, para onde temos muitos charters – começámos os charters para Cabo Verde no dia 2 de abril, um de Lisboa e outro do Porto mas só vamos começar o Senegal dia 6 de junho, apesar de o Senegal ter voos diários da TAP, que também estamos a vender muito bem.
Dentro da Solférias, Cabo Verde foi sempre o destino número 1, a diferença é que quando a Solférias arrancou tinha uma quota de 85%, hoje tem uma quota de 30%.
Cabo Verde é um destino muitíssimo forte em Portugal e é, claramente, uma das grandes especializações da Solférias. O Senegal é um destino que turisticamente não existia até este ano em Portugal e nós conseguimos visitar, fazer fam trips, fazer promoção na televisão e na rádio e a verdade é que as vendas são fantásticas.
Significa isto que, falando de Cabo Verde, Senegal e Disneyland Paris estamos a falar do “top 3” dos destinos da Solférias em 2022. Mas há outros destinos que têm estado muito bem, como a Tunísia – se mais voos houvesse mais se vendia. Um destino onde temos tido mais dificuldades tem sido Marrocos porque o ato de obrigar ao teste PCR foi um travão muito difícil de contornar. Agora, com a liberalização das entradas em Marrocos o nível de vendas é completamente diferente, está a retomar a grande velocidade, o que para nós é bom porque sempre foi um destino muito importante para nós.
E é o destino charter com o preço mais acessível?
É, Saidia é um destino muito acessível, daí que 100€ para um teste PCR, num destino como Marrocos, fizessem uma grande diferença.
Podemos falar de um destino que foi contra toda a lógica da pandemia, as Maldivas, que em 2020 foi o melhor destino na Solférias, que em 2021 continuou no Top 3 e que mesmo em 2022 está entre os seis mais vendidos, com um nível de faturação inacreditável, mas nem as Maldivas exigem já o PCR, o que é muito bom para nós porque é assim que vendemos os destinos. Nós passamos uma época muito difícil, em que as medidas mudavam de destino para destino e, pior do que isso, muitas vezes mudavam quando as pessoas já estavam no destino.
Do Egito a São Tomé, a Solférias propõe uma panóplia de destinos
Há outros destinos que não posso deixar de referir. É o caso do Egito, em que acabámos por optar apenas pelo voo de Porto por causa das limitações do aeroporto, e as vendas para o voo do Porto estão a correr muito bem. Depois temos o Brasil, de que vimos demasiadas noticias negativas durante a pandemia mas já a passagem do ano nos correu muito bem e desde então temos vendido regularmente o destino e o nível de vendas é extremamente interessante. Porque o verão é o período mais fraco de vendas e com os números que temos, não tenho dúvidas que a partir de setembro iremos ter números muito interessantes em termos de vendas, onde o fim do ano voltará a ter um grande peso.
Outro destino que não posso deixar de frisar pelo nível de vendas que tem e que nos impressiona sempre, é São Tomé. Hoje em dia, São Tomé ainda tem algumas dificuldades logísticas, principalmente porque nem todos os hotéis estão abertos, mas é sempre um destino com muita procura.
Nos anos anteriores falava-se muito na Ásia, que teve um peso muito grande nas vendas em 2019, mas hoje de Ásia temos muito pouco. A Tailândia abriu há pouco tempo, a Indonésia abriu agora, havia muitos circuitos e combinados entre vários países asiáticos e tudo isso vai levar um pouco mais de tempo a recuperar, mas vamos passo a passo.
“Nós sempre apostamos muito em Portugal e não posso deixar de frisar que tanto os Açores como a Madeira estão num nível muito forte de vendas, aliás, Portugal está em quarto lugar no ranking de vendas da Solférias”
E nesta panóplia de destinos onde fica Portugal?
Portugal foi uma das nossas âncoras em 2020 e em 2021. Este ano, no Continente as coisas ficam mais complicadas porque já se percebeu que Portugal vai ser um dos grandes destinos europeus e quando entram os outros mercados o preço sobe e tona-se mais complicado para os portugueses. Nós sempre apostamos muito em Portugal e não posso deixar de frisar que tanto os Açores como a Madeira estão num nível muito forte de vendas, aliás, Portugal está em quarto lugar no ranking de vendas da Solférias.
Porto Santo é o único destino nacional para onde têm operação charter. Como é que está a correr?
A operação do Porto Santo está a ser cada vez maior. No início era praticamente de julho a setembro e hoje estamos a falar de uma operação que se estende de inícios de junho a meados de outubro. O Porto Santo é um grande destino e a procura é muito grande, é um destino diferente cá dentro e muito procurado pelas famílias, nomeadamente famílias com crianças e bebés. É, aliás, o único destino em que temos que ter algum cuidado porque existe um limite no transporte de bebés nos aviões e se não limitássemos, ultrapassávamos esse limite.
Hoje as coisas estão diferentes, a Madeira, por exemplo, está com tarifas aéreas muito mais baixas porque a concorrência entre as companhias aéreas aumentou. Nós só vendemos Madeira com a TAP mas como o nível tarifário desceu, estamos a vender muito mais do que alguma vez vendemos porque o destino tem hoje preços muito mais apelativos.
Já os Açores vendem com as duas companhias, a SATA e a TAP?
Nos Açores passa-se o mesmo porque hoje não são só as duas companhias regulares que estão no mercado, o nível tarifário desceu e penso que este poderá ser o ano em que vamos bater recordes de vendas para os Açores.
Açores e Madeira são sempre destinos que os portugueses querem conhecer mas as tarifas aéreas, que têm um peso muito grande, acabavam por travar a procura. Neste momento, com a baixa das tarifas as ilhas portuguesas estão a ser muito procuradas no Continente.
Para o final do ano e para o inverno, o que é que têm já previsto?
Ainda estamos num processo de conclusão e não vou adiantar muito mas vamos manter uma grande operação para o final de ano. Vamos manter todos os destinos que operámos no passado e como vai haver abertura de hotéis, nomeadamente o resort da Vila Galé em Maceió, este destino será estratégico para nós. Ainda não está tudo fechado mas queremos arrancar o mais depressa possível porque é nossa tradição lançar em junho, julho ou agosto, a operação de final de ano e temos tido ótimos resultados com isso.
Hoje os receios estão ultrapassados, até pelos seguros que temos. Se um turista acusa positivo para a Covid na véspera do embarque, o seguro reembolsa e isso dá segurança e confiança ao mercado para marcar viagens de forma antecipada. O facto de os voos encherem também ajuda porque quando as pessoas não conseguem lugar para o destino que querem, a tendência é reservar mais cedo. Até 2019, estava-se a reservar cada vez com maior antecedência, o que foi uma grande conquista e espero que isso volte a acontecer. Nesse aspeto da antecedência ainda não estamos ao nível de 2019 mas melhorou-se muito.