Na Conferência da AHETA Mário Candeias não poupou nas ideias para transmitir uma visão do Algarve a 30 anos
Numa intervenção sobre “+30 Anos de Hotelaria: Tendências e Desafios” na conferência “Turismo + 30”, realizada pela AHETA no passado dia 29 de maio, Mário Candeias, Chief Executive Officer no Espinas Hotel Group, deixou um conjunto de ideias sobre o que poderá ser feito no Algarve para que a região tenha um upgrade turístico nos próximos 30 anos.
Mário Candeias começou por falar de comunicação da marca, avançando que “devíamos começar a comunicar a ideia de que o Algarve é a Riviera do Sul, Southern Riviera”, à imagem do que já fazem destinos concorrentes, como a Turquia, uma vez que a ideia de “Riviera” está muito associada a “more style”, “mais sofisticação”. Para comunicar uma ideia como esta há sempre que considerar a parte orçamental mas o hoteleiro considerou, por um lado, que pode-se fazer mais com o mesmo mas também deixou claro que é hora de os sectores que beneficiam com o turismo, contribuírem também para ele.
“As empresas de retalho, distribuição, telecomunicações, bancos, todas elas beneficiam do cluster [do turismo], e fazem parte do cluster, então nós queremos que elas participem, mas que também paguem. Não só as empresas de turismo, mas o cluster todo a funcionar para que tenhamos orçamentos promocionais realmente com valor, ao contrário do que acontece”, disse o hoteleiro, acrescentando que a única forma de aumentar o orçamento para o turismo “é irmos por esta via”.
Ao nível da governança, sugeriu um “upgrade” nas leis, porque as que existem “vão cercear o nosso potencial de desenvolvimento para os próximos 20, 30 anos”. Neste âmbito sugeriu que a legislação permita “construir em reservas naturais, em reservas agrícolas, em formações rochosas, em falésias, em ilhas” à imagem do que acontece noutros destinos: “outros fizeram, então eles vão beneficiar e nós não”, argumentou.
Reconhecido especialista na área da hotelaria, pela sua vasta experiência, nomeadamente internacional, Mário Candeias sugeriu, igualmente, “uma lei para upgrade compulsivo do alojamento que temos no Algarve em zonas super prime, mas em que o alojamento não tem qualidade”. “Vamos ter que olhar para os sítios prime, e ter que ter nesses sítios, produtos prime”. A propósito, citou o caso de Albufeira, onde “temos muito produto em zonas absolutamente saudáveis, que não está à altura daquela zona”.
Na opinião de Mário Candeias, o que também faz falta ao Algarve é ter “um ou dois projetos de âncora”, recordando a questão da Disney dos Descobrimentos, de que já muito se falou”, e apostar na “’beautification’”, à semelhança do que fez o Canadá, porque “nós temos zonas que precisam de ser embelezadas”, e os turistas “pagam mais por coisas que têm mais bom gosto”.
Desenvolver o Algarve na ótica do corporate resort, não só para diminuir a sazonalidade mas também para trazer mais marcas internacionais de maior valor e posicionamento, e desenvolver campanhas para atrair marcas asiáticas – para já só existe a Six Senses -, foram outras ideias deixadas “para os próximos 20 anos”.
Lançar uma marca para as ilhas algarvias, foi outro dos desafios deixados, porque “as nossas ilhas são lindas de morrer, mas o que acontece é que é tudo muito pobre, é tudo muito barraco” e as autarquias são muitas vezes entravadas pelo ambiente no que querem fazer. Propôs, por isso, “um upgrade radical nas ilhas de Faro, da Fuseta…”.
Ao nível dos produtos e serviços, sugeriu “trabalhar muito melhor o turismo relacionado com a fileira do vinho e refazer o barrocal com novos produtos. Estão a surgir bons hotéis na área do barrocal e as duas coisas ligadas podem, como fizeram os sul-africanos à saída de Cape Town, em Stellenbosch, criar um destino turístico com base no vinho. Nós já estamos a dar passo nesta direção e temos que acelerar o passo nesta direção”.
Lançar uma marca para as ilhas algarvias, foi outro dos desafios deixados, porque “as nossas ilhas são lindas de morrer, mas o que acontece é que é tudo muito pobre, é tudo muito barraco” e as autarquias são muitas vezes entravadas pelo ambiente no que querem fazer. Propôs, por isso, “um upgrade radical nas ilhas de Faro, da Fuseta..”.
Voltando à hotelaria, defendeu que há que tentar “inspirar os hoteleiros de base algarvia, algumas marcas como a Júpiter, Belver, Luna, a fazerem produtos que sejam ícones, e não só mais hotéis idênticos a muitos outros que já existem no país”. Ao invés, há que fazer hotéis “absolutamente disruptivos”.
A nível dos eventos, recordou o lançamento da ChefsWeek e da ChefsWeek, que “deviam ter continuado” porque “isto é setor privado a trabalhar, a fazer descontos e a criar branding para a região. Se a região tiver branding, os ativos que estão na região são muito mais bem recuperados, ou seja, o mesmo ativo retorna muito maior capital. É essa a ideia”, explicou.
Apostar num Riviera Music Festival, ou num Riviera Film Festival, de grande escala internacional e recuperar a ideia do Algarve United Football Club, foram algumas das ideias que deixou para a área dos eventos.
“Fazer uma revolução na educação no Algarve”, por exemplo, “converter uma das nossas escolas hoteleiras algarvias numa escola internacional e criar líderes, porque as nossas escolas não estão ainda a criar grandes líderes hoteleiros”, foram outras sugestões.
Por fim, e sublinhando que as ideias deixadas são para um horizonte de 30 anos, abordou a questão aeroportuária, sugerindo “um aeroporto no Oeste da Algarve para desenvolver toda aquela área (…) e energizar toda a Costa Vicentina”. Além disso, haverá que “trabalhar melhor, como se fez agora com a United, várias rotas aéreas, também viradas para a Ásia. Trabalhando o nosso passado islâmico, temos várias valências, várias companhias, como a Emirates, Etihad e Turkish, por exemplo, que são marcas que vão ter que ser motivadas para começar a voar diretamente para o Algarve”, defendeu.
“Tudo isto tem de estar no próximo pipeline, no nosso pipeline e na nossa visão, para chegarmos a 2045 já com pelo menos metade disto em ‘place’ e a colher os frutos disso”, concluiu Mário Candeias.


