“Na base do ADN da marca Mama está um conceito de festa que vamos manter para sempre”, afirmou Julien Leroy ao Turisver
De portas abertas há pouco mais de três anos e meio, o Mama Shelter Lisboa “foge” à hotelaria mais tradicional, mas as suas características informais levaram-no ao sucesso, e embora o seu conceito passe muito pela restauração, em 2024 metade das receitas vieram do alojamento, como nos disse o seu proprietário, Julien Leroy.
A Mama Shelter mantém as suas características iniciais, porque tem sido um êxito?
Sim, claro. Acho que a combinação original do desenho da equipa que tem sempre uma relação muito boa com os clientes, com a comida generosa da Mama, a música que está em todos os lados do Mama -“live” com instrumentos, com DJ – e obviamente os bares, tem tornado este conceito um êxito. Na base do ADN da marca Mama está um conceito de festa que vamos manter para sempre.
Este êxito é alavancado, basicamente, pela área das comidas e bebidas ou também pelo alojamento?
Pelas duas vertentes. É verdade que começámos em janeiro de 2022 com muita atenção para o restaurante, que foi aquilo que primeiro funcionou como marca distintiva do Mama. No entanto, em 2024, fechámos o ano com 50% do revenue a ter como base o alojamento, e os outros 50% vieram da restauração, incluindo o restaurante principal e o do rooftop.
E que segmento é que precisam trabalhar mais hoje em dia? O alojamento ou a área dos restaurantes que é já bem conhecida dos lisboetas?
Gosto de pensar que o Mama agora faz parte do top dos restaurantes da cidade, pelo conhecimento que tanto os lisboetas como os portugueses em geral, e claro, também os clientes internacionais, já têm dele. A verdade é que 80% dos clientes do restaurante do Mama são portugueses, são de Lisboa, e é o bar do rooftop que está a dar um “ar” um pouco mais internacional, porque os turistas estão mais à procura deste tipo de lugares.
Como disse, a base, para nós, são os clientes locais, e isto implica um trabalho de proximidade, de continuidade, nomeadamente ao nível da qualidade da comida, de estar sempre com o chef a pensar em novidades, com temáticas fortes, que resultam em boas razões para voltar a visitar o restaurante. Porque a cidade, entre 2022 e 2025, tem evoluído imenso, tem tantos restaurantes novos, tantos novos bares, que é sempre necessário inovar para que o Mama esteja sempre no top – não podemos descansar sobre aquilo que está feito.
A área do alojamento é diferente, os clientes, na sua maioria, são franceses, porque a marca tem uma imagem historicamente muito forte no mercado francês, um pouco também porque ser uma marca do grupo Accor. Aqui em Lisboa, esta área acho que está a funcionar bastante bem, mas a equipa do Revenue Management e a equipa de vendas devem estar muito atentas, porque entre o momento em que decidimos abrir o Mama, em 2017 e o dia de hoje, o mercado aumentou muito ao nível da oferta das marcas internacionais. Por isso, se o Mama tem uma oferta única, temos de estar sempre a comunicar sobre isso, porque se trata de atrair novos clientes internacionais, não é como os clientes de Lisboa que visitam o Mama todos os meses ou algo assim.
No fundo, as duas vertentes precisam de ser trabalhadas, embora não seja o mesmo trabalho, mas diria que estamos a focar-nos 50-50 nas vertentes do alojamento e da restauração para sempre estarmos sempre atuais.
“Inicialmente não previmos o nível de procura que temos por parte de empresas e grupos privados, seja para reuniões de trabalho, aniversários, ou para festejar qualquer coisa, pelo que originalmente o Mama não teve espaços corretos para reuniões – agora temos três espaços”
Em termos da utilização do hotel para dormidas, qual é o posicionamento do mercado português?
Curiosamente, os portugueses são o segundo mercado nas dormidas, na maioria de fora de Lisboa. Temos um êxito enorme junto de pessoas que estão a viajar sozinhas em negócios, porque temos esta oferta do F&B, do bar, que se adequa muito a quem está a viajar e que não quer estar no bar aborrecido de um hotel clássico, mesmo que seja de 5 estrelas.
Ainda assim, temos também clientes de Lisboa, que às vezes estão a fazer aquilo a que chamamos sexcation, que é ficar no hotel só para aproveitar uma noite no Mama e aproveitar o restaurante. Temos tido muito êxito na venda de pacotes para o Dia dos Namorados, com restaurante e quarto. Também isto faz parte da história e da filosofia do Mama, que é um hotel um pouco sexy.
Este ano decidiram apostar mais no segmento MICE, com a abertura de uma nova sala de reuniões?
É verdade. Inicialmente não previmos o nível de procura que temos por parte de empresas e grupos privados, seja para reuniões de trabalho, aniversários, ou para festejar qualquer coisa, pelo que originalmente o Mama não teve espaços corretos para reuniões – agora temos três espaços.
Temos o que foi aberto este ano que é o flagship, a Penthouse, que tem mais de cem metros quadrados, com vistas para a Ponte [25 de abril], o Cristo Rei, e que tem capacidade até 100 pessoas sentadas em teatro, ou para fazer jantares privados com mais de 40 pessoas sentadas, ou seja, é uma sala polivalente.
Temos também o Atelier, no nível da receção, que é mais um boardroom com 35 metros quadrados, que pode acomodar até 30 pessoas sentadas. Temos ainda o nosso Pátio, que está atrás do restaurante, ao ar livre mas que pode ser fechado e que tem capacidade para ir até entre 20 e 30 pessoas em pé ou sentadas, para reuniões, cocktails ou celebrações.
O Mama é um destino top para celebrar, por isso temos muito êxito com festas de aniversário de todos os tipos, e até para jantares de grupo no Natal, por exemplo. Aliás, a cada ano que passa fazemos mais jantares de Natal.
“Acho que essa ideia de o Mama ser só para os jovens é verdade, se não considerarmos que a juventude tem apenas a ver com a idade mas que tem principalmente a ver com uma questão de espírito”
Quando se olha para a filosofia do Mama, fica-se com a ideia de que é um hotel só para jovens. Entretanto, quando se está um pouco aqui à porta ou na receção, vê-se que entram pessoas de 50, 60 anos…
O Mama é para todos, porque a juventude não tem a ver com a idade e o Mama é para todas as pessoas que se sentem jovens. Há pessoas de 25 anos que não gostam do Mama porque é demasiado divertido, porque há demasiada música e barulho. Por outro lado, temos clientes de 60 ou mais, que estão a aproveitar muito do Mama. Acho que essa ideia de o Mama ser só para os jovens é verdade, se não considerarmos que a juventude tem apenas a ver com a idade mas que tem principalmente a ver com uma questão de espírito.
Quais são as dificuldades que vocês sentem aqui, ao trabalharem em Lisboa, quando comparado com outras unidades Mama noutras cidades europeias?
Essa é uma boa questão. Acho que uma das dificuldades, que penso que também existe noutros lugares, pode ser encontrar e fidelizar os melhores membros da equipa, do “Mama Gang”. A equipa é a alma do lugar e temos que cuidar dela, isso faz parte do nosso conceito.
Em Lisboa, com o desenvolvimento que houve nos últimos cinco anos, é difícil porque há bastante oferta para empregados de hotelaria, e há também o problema do alojamento. O Mama tem uma boa atratividade, estamos a pagar bem, ao nível superior do salário da hospitalidade, mas vemos que os empregados, às vezes têm de vir de zonas afastadas do centro por causa do preço do alojamento. Por isso, estamos a apoiar os empregados com créditos bolt para irem e voltarem quando têm serviço à noite que acaba tarde, por exemplo. Também temos muita formação no trabalho, para termos os melhores empregados da cidade.
Outra dificuldade tem a ver com o próprio clima, aqui temos o oceano, temos um pouco mais de vento mas o rooftop está a bombar desde o primeiro dia de abril até o final de outubro, isso é essencial para nós que que temos sete meses completos para operar o rooftop. Este ano, acrescentámos a oferta e a carta passou a ter uma oferta de restaurante completa.
Desde o início, a marca aposta no merchandising. O objetivo é gerar alguma receita ou fazer promoção?
É interessante, nós temos três linhas dedicadas para o Mama Lisboa, somos o único Mama do mundo que tem linhas especificamente criadas para o Mama Lisboa, com marca Mama Lisboa, que tem um duplo objetivo: por um lado, ter lucro, por outro, promover a marca com pessoas que gostam do Mama Lisboa. Estamos sempre a pensar nessas pessoas como embaixadores e para embaixadores temos que ter preços não muito elevados, pelo que o lucro não é grande, as nossas margens são apertadas.
Porto e Algarve no horizonte da marca Mama
O Mama, como marca, tem crescido com duas ou três unidades hoteleiras ao ano, em vários pontos do globo. Essa estratégia é para continuar? E Portugal está contemplado?
É uma estratégia para continuar, sim. Vamos abrir em Singapura, já abrimos no Dubai e vai também abrir na Índia e na Austrália. A marca tem este alcance global, uma personalidade que funciona em todos os lados. Acho que a força do Mama é a forma como se adapta ao mercado local, sem perder o seu ADN. Penso que o objetivo da marca é chegar a mais de 30 hotéis dentro de 2 ou 3 anos.
Quanto a Portugal há o objetivo de abrir, pelo menos, um segundo hotel que seria, logicamente, no Porto, e acho que há oportunidades também no Algarve, provavelmente numa lógica mais descontraída, de resort, mas por enquanto não está nada assinado. O que sabemos é que a marca está a trabalhar de maneira intensa para abrir no Porto primeiro e no Algarve depois.


