MSC Cruzeiros quer 11.000 portugueses a embarcarem em Lisboa no verão
Na segunda parte da entrevista com o diretor-geral da MSC Cruzeiros Portugal, a tónica foi colocada no produto, em particular nos “cruzeiros portugueses”, mas também se falou de perspetivas e novos investimentos.
Nesta segunda parte da nossa conversa começava por perguntar quais são, entre os muitos produtos que colocaram no mercado, os mais apetecíveis para o mercado português?
São sempre os cruzeiros no mediterrâneo mas este ano é mais do que isso e essa é que é a novidade, já que os cruzeiros com partida e chegada a Lisboa são no verão e já não em finais de setembro, como costumava acontecer. Este ano, as partidas de Lisboa são em julho, agosto, setembro e outubro. Vão ser 11 partidas em cruzeiros de 10 noites, que têm a particularidade de escalarem vários portos que não eram escalados nos anos anteriores nestes cruzeiros com partida e chegada a Lisboa, como é o caso de Olbia, na Sardenha e Mahon, na ilha de Menorca. O navio que faz o cruzeiro é o Orchestra e os preços médios, neste momento, deverão rondar os 900€, o que também é muito atrativo.
Esta é uma grande novidade e está a ser muito bem aceite, primeiro porque se trata de cruzeiros à partida de Lisboa, o que facilita sempre por não haver necessidade de transporte aéreo, segundo porque entrar num navio para viajar para o mediterrâneo ainda dá um sentimento de segurança em termos da situação de guerra que se vive a Leste.
Tenho, no entanto, que frisar que temos cruzeiros no Báltico, já sem S. Petersburgo e nos Fiordes, e é curioso que estes cruzeiros estão também a ter o interesse do mercado português, principalmente os Fiordes porque no Báltico houve um certo abrandamento na procura.
Nos cruzeiros à partida de Lisboa, quantos lugares é que têm para o mercado português?
Entre setembro e novembro do ano passado, que foram os meses em que tivemos partidas de Lisboa, por incrível que pareça, foram os três melhores meses para a MSC Portugal, mesmo comparando com 2018/2019. Nunca pensámos que estes números fossem possíveis mas a verdade é que em cada uma das partidas tivemos entre 900 a 1050 passageiros. Por causa disso, a MSC apresentou esta proposta que temos este ano que é termos cruzeiros à partida de Lisboa no verão. Portanto, para os nossos itinerários deste ano colocámos o mesmo número de lugares para o mercado português para tentarmos fazer o mesmo budget, partindo do princípio que, apesar de não termos os vouchers, há a mais-valia de os itinerários serem no verão e não em final de estação.
Para os restantes lugares, com que mercado contam mais?
O cruzeiro tem dois portos de entrada em Espanha, Alicante e Cádis, depois Marselha, em França e Génova, em Itália. Obviamente que estes portos estão mais dedicados a esses próprios países mas mesmo mercados como o alemão, o inglês ou o norte-americano podem embarcar em Lisboa ou num destes portos, desde que façam interporting.
Cruzeiros com partidas e chegadas ao Funchal são tradicionais na MSC
Ainda no que toca a Portugal, a MSC vai continuar com os cruzeiros com saída e chegada ao Funchal?
Assim como o Lisboa-Lisboa existe há 11 anos, desde que lançámos o escritório, também os cruzeiros com partida e chegada ao Funchal já existem há muitos anos. Este ano realizam-se entre setembro e novembro – por norma têm sido dentro destes períodos -, são dois cruzeiros de 11 noites, um cruzeiro de seis noites, um cruzeiro de nove noites, um cruzeiro de 13 noites e ainda outro de cinco noites, O que fizemos desta vez foi tentar não fazer rotativos com o mesmo número de noites, tocar outro tipo de portos de pensar em outro tipo de segmentos para percebermos como poderia funcionar, uma vez que cerca de 95% dos passageiros destes cruzeiros são da Madeira e acreditamos que com esta oferta possamos ter algum sucesso.
E verdade que o processo está mais lento que nos itinerários de Lisboa-Lisboa, mas a Madeira tem o seu próprio timing de reservas que não são ainda aqueles que gostaríamos mas acreditamos que rapidamente o ritmo de reservas aumente.
Os cruzeiros vão ser a bordo do Magnifica, que é do mesmo segmento do Oschestra, que faz os cruzeiros Lisboa-Lisboa e que já fez uma das voltas ao mundo. O Magnifica tem, no entanto, a particularidade de ter piscina interior, coisa que os outros navios médios da MSC Cruzeiros não tinham.
MSC afirma-se como a terceira maior companhia a nível mundial
Em 2019, antes da pandemia, no que toca à indústria de cruzeiros aquilo de que mais se falava era em expansão, em investimentos, em mais navios. Neste momento, como é que a MSC está a olhar para o investimento?
Penso que a MSC tem uma grande vantagem competitiva relativamente aos seus principais concorrentes.
O setor de cruzeiros, a nível mundial, é formado por cerca e 35 companhias, com três ou quatro destas a representarem 70% a 80% do mercado mundial. Hoje em dia, a MSC afirma-se como a terceira maior companhia a nível mundial mas independentemente de o ser ou não, o que interessa é que as três grandes companhias – Carnival, Royal Caribbean e NCLH (Norwegian Cruise Line) – são empresas que estão cotadas em bolsa e, por causa da pandemia, os valores que tiveram que ir buscar aos investidores e novos investidores são extremamente grandes e vão ter que ser reembolsados nos próximos anos.
“(…) a MSC, em conjunto com a Lufthansa está a comprar a Alitalia, por outro lado temos o patrocínio à Fórmula1, de que a MSC Cruzeiros é agora parceiro global e os novos investimentos, nomeadamente com o novo terminal de Miami”
A MSC tem aqui uma vantagem competitiva porque a MSC Cruzeiros representa apenas uma pequena parte do Grupo MSC que tem como braço mais forte o transporte marítimo de contentores e esse, nos últimos dois anos teve um crescimento muito grande, tanto em valor como em número, por várias condicionantes como os portos e as cargas disponíveis. Daí que a MSC não tivesse que recorrer a bolsas ou investidores privados – ficou tudo dentro de “casa” e a empresa está mais do que salvaguardada. Também por causa disto, acreditamos que os próximos anos vão ser de um crescimento mais acelerado do que pensávamos em 2019.
Dá para perceber essa dinâmica se estivermos atentos às notícias, por exemplo, a MSC, em conjunto com a Lufthansa, está a comprar a Alitalia, por outro lado temos o patrocínio à Fórmula1, de que a MSC Cruzeiros é agora parceiro global e os novos investimentos, nomeadamente com o novo terminal de Miami.
Em relação a novos navios, que é o que nos traz mais itinerários, todos os que estavam previstos foram reconfirmados, o único que sofreu algum tipo de alteração temporal foi o Virtuosa que teve quatro meses de interregno durante o período de pandemia em que os estaleiros pararam. Tudo o resto está a seguir o seu curso: temos dois navios para lançar no final deste ano, o Seascape e o World Europe que é o novo navio a LNG, temos mais um para lançar no próximo ano, também a LNG, o Euribia, e temos a Explorer Journey, a nossa nova marca para o segmento de ultra luxo, que vai lançar novos navios para 2023 e 2024 e esperamos que o Grupo chegue a 2030/31 muito perto dos 40 navios, o que é um grande crescimento face aos 19 navios atuais. Vamos ver como é que os grandes concorrentes se posicionam nos próximos oito anos porque, eventualmente, poderemos passar para o segundo lugar e ainda com muito para fazer neste setor dos cruzeiros.
O Euribia vai ter que posicionamento geográfico?
O Euribia vai estar dedicado ao norte da Europa durante todo o ano de 2023, isto porque, como será o mais avançado em termos ambientais – vai ser o segundo navio a LNG -, e cada vez mais no norte da Europa há portos e países que fazem restrições , será o navio indicado para atender a essas restrições.
Também em 2023, a partir de abril, a MSC vai operar, pela primeira vez, todo o ano a partir de Nova Iorque, com isto se abrindo um novo caminho para os portugueses porque são cruzeiros para norte (Canadá, Nova Escócia).
Também adicionámos um segundo navio à Volta ao Mundo de 2023, que será feita pelo Poesia e pelo Magnifica.
2023 já deverá ser um ano de grande normalidade para a MSC Cruzeiros?
Acho que todos estamos a pensar assim porque não passa pela ideia de ninguém que possa surgir algo tão complicado como a pandemia e esta guerra.
Neste momento, ainda por causa da pandemia, temos algumas restrições a bordo, como seja a exigência de vacinação completa e o facto de a capacidade total dos navios não estar a ser utilizada, para salvaguardar os passageiros e a tripulação, mas acreditamos que em 2023 vamos poder funcionar dentro da normalidade, e estamos a apostar nisso.